Deus Poseidon x Deusa Moda
Quando aquela
mulher adentrou o mar para se banhar, Poseidon, conhecido por outros como
Netuno, observou-a de longe. Seus cinquenta anos forjaram seu caráter e
endureceram sua disposição para a luta. Mas, ao mesmo tempo, tornaram seu
coração mais doce, seu sorriso mais meigo e seu olhar mais sábio... Por tudo
isso, Poseidon, deus absoluto dos mares, concluiu: Que bela mulher!
Mas o grande
deus ficou triste ao perceber que os cabelos dela não possuíam ondas como seu
imenso oceano. Ou melhor, que elas haviam sido caladas, subjugadas por alguém
sem escrúpulos. Imediatamente, empunhando seu tridente, ordenou a milhares de
ajudantes: “Vão lá, peguem fio por fio dos cabelos daquela mulher, e
refaçam-nos como antes. Devolvam-lhes a leveza dos movimentos de uma lula, a
vida e harmonia de um cardume de peixinhos coloridos, a naturalidade de seus
cachos como se algas marinhas fossem. E ondas, quero todas suas ondas de
volta!”.
Seus súditos
de pronto obedeceram e, enquanto a mulher se banhava, deixando que o mar lhe
acariciasse o corpo inteiro com suas águas tépidas, eles trabalhavam
rapidamente, fio por fio, conforme o recomendado, devolvendo movimento, vida e
beleza àquele cabelo tão sofrido e sufocado.
Quando ela
por fim deixou o mar, Poseidon ordenou também ao vento que percorresse cada um
daqueles fios para secá-los e, assim, realçar sua força e dar-lhes volume,
imponência. O Sol, que estava meio escondido, assistindo à cena lá de cima,
dirigiu a ela seus melhores raios para devolver-lhes a energia perdida, o
vigor, a independência. Pronto!
Satisfeito,
Poseidon chamou os seus de volta, agradeceu ao vento e ao Sol pelo auxílio, e
recolheu-se às profundezas do seu oceano, às suas ondas eternas.
Retornando às
suas atividades no nosso mundo moderno e maluco, aquela bela mulher caiu
novamente, incauta, nas vontades da super poderosa deusa Moda, que, de
imediato, ordenou ao deus Secador e à deusa Escova que desfizessem o trabalho
que seu rival acabara de realizar.
E lá se foram aquelas ondas flutuantes,
aqueles cachinhos balançando ao vento... Lá se foi a vida. Vendo aquilo,
Poseidon bradou furioso do fundo do mar. Tão alto foi seu rugido, que, dizem,
foi ouvido até na mais alta e distante montanha que já se viu. É... Deusa Moda
que se cuide!
Pedro Altino
Farias, 18/09/2012
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