Hebe Camargo já
contava oitenta anos, e até um pouco mais, e estava gravemente enferma com incurável
afecção. Sábado passado, ela partiu.
Estranhamente, algumas
pessoas se demonstram perplexas e inconformadas com esse fato, como se a dama
suprema da televisão brasileira, ao morrer, houvesse experimentando algo estranho, e raro,
e inédito na rotina do Universo.
Hebe foi uma laranja
que coloriu lindamente, com o seu intenso amarelo ouro, o pomar em que vicejou
na juventude. E perfumou o laranjal, na sua exuberante madureza artística. E
embelezou longamente as fruteiras virtuais das salas de visitas do Brasil.
Ela forneceu um dulçor
melífluo, com uma deliciosa acidez adstringente, ao licor televisivo brasileiro.
Ao final, se extingui placidamente do plano físico, já exaurida do sumo doce e do
vigor cítrico que tanto serviu ao seu país.
De mim, há muito tempo
instituí com clareza o lugar hermético aonde hão de estar indo essas pessoas –
as que me comovem a mim na convivência mais direta, as que comoveram o mundo
com o seu brilho esfuziante.
Aquele é o sítio aonde
certamente seguirei também um dia, célere e ufano, em busca dos mais queridos
entes idos, e para a espera, por meu turno, dos amados seres que ainda
fiquem por aqui.
Susto, lágrimas,
espanto, tristeza, tudo isso manifestam as pessoas pranteando a Hebe, como se não
estejamos todos lá em algum tempo, seguindo para o mesmo incógnito destino, que
se não for auspicioso, não poderá ser torturante.
As dores, as
angústias, os medos, a ansiedade, tudo isso são agonias da matéria, coisas do
carne, males que acometem os corpos enquanto navegam para a morte. A vida é o
mar – ora plácido, ora revolto; ora alegre, ora tenebroso. A morte é a praia e
a terra firme. A morte é a inteira paz de espírito. Até um dia, Hebe Camargo.
Por Reginaldo Vasconcelos
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