ESSA OUTRA
Edmar
Santos*
Cerveja é substantivo feminino.
Para mim isso diz muita coisa, no que concerne a por que gosto tanto dela.
Pshu, a tampa
reclamou quando largou do gargalo. O líquido amarelo dourado que derramava
lembrava a princesa que, da torre, escorria seus longos cabelos até embaixo. No
copo, a espuma branca reluzia a luz do sol, como um sorriso de quem acaba de
fazer clareamento dental.
Ela me apetece. O prazer de
degustá-la ao fim do dia, após uma jornada de trabalho, parece entorpecer a
mente, enquanto o cérebro se prepara para o outro dia.
Em casa, certa vez, notei que
minha mulher reparou na relação que eu tenho com a cerveja. Prestou atenção em
cada ato do ritual que eu realizava para preparar um momento de degustação:
aconchego das garrafas no congelador; taças específicas para o tipo lager;
cumbucas com amendoim e castanhas de caju; cubos de queijo coalho ao azeite de
oliva; linguiças toscanas que fritavam numa air fryer. Acho que o ciúme
bateu!
Ela me indagou o porquê de tudo
aquilo que eu estava fazendo; eu, com meu jeito de desentendido, disse que iria
tomar uma cervejinha pra relaxar. Ela me olhou como quem estava sendo
substituída por outra e disse imperiosa: “Coloque uma taça pra mim. Vou ver
que gosto tem essa outra aí”. Essa oura aí? A ficha caiu!
Entendi que o problema não era
comigo; era entre elas. Para mim, se a experiência com uma companhia feminina
já é boa, imagina com duas. Bebi com mais prazer!
Muito boa, parabéns mestre.
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