UM RELATO ATUALIZADO
PARA A HISTÓRIA
Cássio Borges*
É prazeroso transmitir para os leitores deste jornal o que escreveu
o jornalista Alan Neto em sua conceituada coluna de domingo, dia 2, deste
periódico, com palavras elogiosas sobre
o livro que escrevi enfocando o planejamento
hídrico da vale do Rio Jaguaribe no Ceará: “Guardião
do DNOCS velho de guerra, o engenheiro Cássio Borges escreveu um livro para os
anais da história – A Face Oculta da Barragem do Castanhão, um relato atualizado para a História. Uma joia
rara...”.
O livro, de 362 páginas, um verdadeiro tratado sobre os recursos
hídricos do estado do Ceará, ocupa-se especificamente dos erros de engenharia que
foram cometidos no projeto da Barragem do Castanhão, a maior obra hídrica de
açudagem do Nordeste. O empreendimento foi elaborado em 1985, pelo então
Departamento Nacional de Obras de Saneamento-DNOS, extinto no início do Governo de Collor de Mello.
A obra aborda também o perigo de o Projeto de Integração do Rio São Francisco ser entregue a uma
entidade que não tem identificação e vivência com a problemática hídrica de nossa Região, de
rios intermitentes.
Desde quando o Açude
Castanhão surgiu no cenário cearense, como disse, em 1985, me posicionei contra
a sua inclusão no Planejamento Hídrico do Vale do Rio Jaguaribe, tendo escrito quase
uma centena de artigos fazendo alusão a esses erros de engenharia sem, contudo,
ter sensibilizado os colegas da comunidade técnica/científica do estado do
Ceará que preferiram ficar calados a dar qualquer resposta aos meus
questionamentos sobre a referida obra. Foram
quatorze anos de discussão que, aliás, não houve porque os defensores deste empreendimento
preferiram o silêncio como resposta. Daí o motivo porque resolvi escrever este
livro: “um relato atualizado para a História”.
Mas porque os idealizadores, defensores e promotores deste projeto
preferiram ficar em silêncio? Por que não responderam os questionamentos que
fiz a este respeito em centenas de artigos que escrevi? Por que utilizaram a
evaporação como sendo de apenas 1.700 mm, em vez de 2.800 mm, como foi
considerado no seu Estudo de Impacto Ambiental?
Por que cantaram em verso e prosa que a Barragem do Castanhão tinha a
sua vazão regularizada como sendo de 30 m³/s e, só agora, trinta anos depois, admitem
ser de apenas 10 m³/s?. Por quê?
A conclusão a que chego é
que o fato acima deve servir de advertência. Isto é uma prova incontestável do
desconhecimento que se tem aqui no Ceará das características do semiárido
nordestino. É uma temeridade o Projeto de Integração do Rio São Francisco ser
entregue, por exemplo, a uma entidade que não tem o conhecimento e a expertise que
tem o DNOCS, que há 109 anos atua na
região nordestina, sem que tenha sido registrado, até hoje, qualquer problema
em seus empreendimentos. Nunca é demais
lembrar que o DNOCS criou uma florescente civilização em nossa Região e é considerado
pelos estudiosos como “o maior
fabricante de água do mundo” ou,
como já foi denominado também de a “Universidade da Caatinga”.
A construção de 331 açudes públicos
de médio e grande porte, de 632 açudes de pequeno porte em regime de cooperação
que acumulam, no total, 38 bilhões de metros cúbicos de água, a construção de
22.000 quilômetros de rodovias, 34.000 poços públicos, cerca de 100 mil
hectares de irrigação pública e 50 000 hectares de irrigação privada,
perenização de 3.000 km de rios intermitentes, equivalente à extensão do Rio
Danúbio (que atravessa dez países europeus), criação de nove Centros de Pesquisas
Ictiológicas, que têm capacidade de produzir 109 milhões de exemplares de
alevinos por ano, entre outras grandes realizações. Tudo isto equivale ao que é
gasto através do programa BOLSA FAMÍLIA em cinco anos, sem que este gere um só
emprego produtivo.
O DNOCS é a única instituição do Governo Federal ligada à
problemática hídrica do semiárido nordestino, que é técnica e administrativamente
bem estruturado para assumir, de fato e de direito, a gestão dos recursos
hídricos federais de nossa Região.
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Cássio Borges é engenheiro
civil, formado pela Escola Politécnica de Pernambuco e cursos de pós-graduação
em Barragens e Recursos Hídricos pela Escola Nacional de Engenharia e Escola
Politécnica da Universidade Católica, ambas do Rio de Janeiro. O livro
mencionado neste texto está à disposição dos interessados na Livraria Cultura.
Artigo publicado no Jornal O Povo.
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