O GOVERNANTE QUE O
POVO DERRUBOU NO CEARÁ
Wilson Ibiapina*
No momento em que o País vive
feito barco sem rumo em mar revolto, recebo em casa o livro “Libertação do
Ceará”, presente do Embaixador Ronaldo Sardenberg.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjTMexHQyh3sQDpb3low_x1WiELSWqUrAVMj0SXpzYRLanvjBMMPEYrPsjvXMvvkbtLO35tnfl0HANH4LvXtEhkpp1-9U9a0bUdi_9ODFnCnSLRPLCuxfy1uV4Rtn0JiVg7lKL0OBmi79M/s200/THE%25C3%2593PHILO.jpg)
O baiano, que chegou ao Ceará
menino, virou farmacêutico, inventou a cajuína, participou da Padaria
Espiritual e ajudou a fundar a Academia Cearense de Letras, escreve sobre a
queda da oligarquia Accioly.
Começa o livro criticando o
governo de Bizerril Fontenelle, administrador nulo que deixou dois mil contos
de reais nos cofres públicos que, depois, foram dilapidados por Accioly.
O escritor diz que “a arte de
governar é muito difícil ao Sr. Bizerril. Faltavam-lhe as boas qualidades
essenciais a um bom administrador. Não basta somente ser honesto para dirigir
bem os destinos de um povo. São necessários outros predicados que o Sr.
Bizerril não tinha. Na terra da seca nunca fez um açude".
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9fmUitx-F6zG20uXavZiF6UgCUwi693IgkriftvrWiBaakDHrf01FgkYWxgO8jCJGiKh8Rym-sz9w-rRVzk67xNhbHoKtPaCUWXNS51_kMcMuKwFfOqHYzaFYy9zn-EliDaI3Oq61jPQ/s1600/ACCIOLY.jpg)
LONGO COMENTÁRIO:
Como em todos esses casos,
ainda há historiadores que defendem Nogueira Accioly, apontando acertos que ele
teria tido na “presidência” do Ceará, e colocando-o como vítima, seja de
inimigos políticos, seja de circunstâncias do destino. Nunca vamos saber ao
certo até onde foi a culpa, até onde houve injustiça.
Fato é que ele fugiu do seu
Estado natal tangido pelo povo, protagonizando um episódio burlesco em que o
velho político teria caído acidentalmente no mar, entre vaias, ao descer da “Ponte Metálica”
para embarcar no bote que o levaria ao navio ancorado ao largo, e que o transportaria
para o Rio de Janeiro, para sempre.
Lá no Rio de Janeiro a família
prosperou, havendo hoje ricos empresários cariocas entre os descendentes,
frequentando as colunas sociais.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2yZ4L5ZL0UpEDYZlIn7FaGHbnzXCKOuMZkbFLPaTsOsJ_S2CFcCOKUDEFCmtI6nKk18UhGiHzV_S97iWavMNgdfk4zx6njR_t66livS55kvIOlGTAY7RJhmCpv_qI9NRdCXO56hYKpZQ/s1600/POMPEU.jpg)
A família soube disso quando
minha tia noivou com o jovem juiz Antônio Eduardo Pompeu de Sousa Brasil, e o pai
dele foi à casa do futuro consogro, meu avô, a fim de pedir a mão da moça para
o filho e demonstrar esses laços familiares do passado. Naquele tempo, o
casamento entre parentes era muito desejável, pois ainda não se conheciam os
riscos genéticos da endogamia.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgG7AqGLNLJWwB1D9IhM1c1MjZP6RaWCZ4PiklmQhfeDBZvFTFmsFA4X4m_83zd_OCaHhUDNPbvIoMNdPVRsszpXERdtzwNvCdalFnOWSsJd6Ai8YbGt_SgIl2ZiwqJELjrfCRRuT0KFns/s1600/AYRTON+DESTAQUE+PEQUENO.jpg)
Uma vez, em viagem com meu pai,
paramos na estrada para tomar um café e havia na taberna um outro velho que bebia
cajuína. Velhos da mesma geração, como meninos, socializam-se rapidamente, e
logo os dois encetaram uma conversa.
Meu pai, então, achando-se
detentor de um importante dado histórico, perguntou ao interlocutor se este
sabia quem inventara a cajuína. “Sei”, respondeu o idoso placidamente. Surpreendido
com a ilustração do outro, e um pouco incrédulo de que ele soubesse realmente,
o Ayrtão lhe indagou: “Quem foi?”. E a resposta foi imediata: “Minha mãe”.
O Ayrtão, então, fazendo uma
cara de escárnio, abanando o dedinho indicador meio curvo ante o nariz do outro
velho, redarguiu: “Não senhor! Foi Rodolpho Theóphilo!”. Isso se tornou o que a Zélia Gatai chamava de “código
de família”. Sempre que alguém entre nós quer negar alguma coisa de forma
peremptória, agita o indicador e pontifica: “Não senhor! Rodolpho Theóphilo!”.
Reginaldo Vasconcelos
Nenhum comentário:
Postar um comentário