O ESQUECIMENTO
Rui Martinho Rodrigues*
A presidente Dilma repreendeu o juiz
Moro pela condução coercitiva do Lula. O MPF de Curitiba redarguiu, dizendo:
116 medidas iguais a esta no âmbito da Lava Jato não foram consideradas
arbitrárias. E o MPF não registrou que a Presidente esqueceu a separação dos
poderes e a autonomia do Judiciário; esqueceu que presidente só fala como quem
exerce a chefia do Executivo.
A imprensa esqueceu de registrar a
interferência indevida do Executivo no Judiciário. Decisões judiciais podem ser
contestadas pela via recursal, tendo ainda o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
como alternativa. Não cabe ao Executivo fazer gestos políticos reagindo às
decisões judiciais.
Lula agora diz que teria prestado
depoimento sem a necessidade da medida coercitiva. Esqueceu que havia se
declarado “de saco cheio” com a Lava Jato e que não iria mais depor. Esqueceu que
havia até impetrado Habeas Corpus
para não ser obrigado a depor. Agora diz que se quiserem pegá-lo vão ter de
fazê-lo nas ruas, aludindo ao enfrentamento com a militância agressiva que o
apoia. Esqueceu o papel de Lulinha paz e amor.
Estará pretendendo intimidar a Polícia
Federal, o Ministério Público e o Judiciário? Ou estará apenas fazendo cena
para um certo público?
O ex-presidente – e o coro afinado dos
seus aliados – agora dispara uma metralhadora giratória apontando corruptos na
oposição. Pretende, com isso, dizer que as investigações atualmente em curso
são seletivamente dirigidas contra ele e o seu partido, retirando-lhes toda
legitimidade.
Lula esqueceu que durante os seus três mandatos anteriores, nos quais
diz ter patrocinado o combate a corrupção, a bandalheira dos tucanos não foi
investigada. Sabendo disso e não tendo patrocinado a persecução penal, por meio
de ofício à PF para estabelecer procedimento investigativo, fica caracterizado
o crime de omissão. Isto é: confessa que prevaricou.
Esquece o presidente Lula que os
alegados crimes dos seus adversários não o absolvem das suas próprias culpas.
Esquece que o Juiz Moro não pode ser responsabilizado pela alegada impunidade
dos adversários do PT, porque juízes são obrigatoriamente inertes, não podem
ter a iniciativa da persecução penal.
Enfim, Lula alega inocência. Só esqueceu
de explicar porque:
a) houve pagamentos semanais entre
setenta e noventa mil reais, decorrentes das despesas com a reforma do sítio,
feitos em dinheiro vivo;
b) as palestras com as quais ganhou
vinte milhões de reais, são proferidas às ocultas, pois a imprensa nunca foi
convidada a comparecer às mesmas, nem se tem notícia sobre o local em que são
realizadas ou de quem as tenha assistido;
c) sendo um homem rico, que ganhou
vinte milhões em dois anos dando palestras, desfruta de sítio alheio, de
apartamento de praia alheio, de jatinho particular alheio e de apartamento
alheio para residir;
d) tinha tanta coisa para retirar do
palácio oficial onde residiu em Brasília, a ponto de não caber no sítio de
Atibaia, no apartamento onde reside, no apartamento do Guarujá, sobrando dez
containers que tiveram de ser depositados em um guarda volumes pagando mais de
vinte mil reais mensalmente por isso, mais uma vez pagamento feito por amigos;
e) os amigos generosos são só os
empresários envolvidos nos escândalos do petrolão;
f) e, finalmente, porque, reconhecendo
na “elite branca” a culpa de todos os nossos males, mantém relações tão
promíscuas com integrantes da citada elite.
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