domingo, 22 de junho de 2014

CRÔNICA (VM) - CARTA AO ESCRITOR

JUAZEIRO É UM MUNDO, 
DO ESCRITOR RENATO CASIMIRO*
Vianney Mesquita**


O mundo criado não passa de meros parênteses na eternidade. (Thomas Alexander Browne. *Londres,06.08.1826; South Yarra – Melbourne, Victoria, Austrália, 11.03.1915).


Fortaleza-CE, 7 de novembro de 1997
Prof. Renato Casimiro, amigo.
Pax Domini, sit semper vobiscum.

Li, com inusitada satisfação, suas linhas acerca do culto e belo Cariri, no Juazeiro é um Mundo, Coleção Mossoroense, 1997.

Folgo com saber que você cultua memórias com as letras de um sentimento real, absolutamente verdadeiro. Evoco, por exemplo, quando ainda fedelho dado a bacorejar a história, a conhecida affaire patrocinada por Wilson Roriz, a que esse cronista se reporta com rara felicidade, pondo a ressalto as informações relevantes e valorizando eventos aparentemente sem importância.
Apreciei, sobremaneira, a correção e a clareza do seu texto cristalino, com o fausto linguístico de quem privou da companhia do marlhesense Marcelino José Bento Champagnat, como ocorreu comigo (só em relação à educação marial – ad Jesus per Mariam), noutra ambiência – no Juvenato São José, naqueles cariris dos anos cinquenta (Missão Velha), pescado e conduzido pelo Irmão Joachim, que catava meninos por todo o orbe cearense (Irmão Louis Joachim, no século Antonin Émile Cayard).

Aliás, os Maristas ainda pontilham o mundo com aquela instrução francesa de qualidade, um pouco menos no Brasil, ex-vi de uma relação simbiôntica de democracia e permissividade. Sem dúvida, entretanto, com o concurso de nacionais como o prezado amigo, portador de apreciados predicativos morais e intelectuais, haveremos de atravessar o Rubicão algum dia.

Você é escritor de fôlego intenso e nos está devendo é um número monográfico – como uma história eclesiástica de Juazeiro do Norte, por exemplo – em que exteriorize todo o vigor de quem, propedeuticamente, conviveu com Dom Bosco, antes de adentrar universidades, percorrendo todos os estádios formais de reciclagem e especialização, até o pós-doutoramento (Em 2014, Renato Casimiro já não deve o objeto desta cobrança, pois pagou com juros e pesada correção, com a publicação de livros massudos em continente e  espessos em teores).

Não cogito em assacar críticas à sua temática mista de crônicas, histórias e lérias, expressas em Juazeiro é um Mundo, cujas restrições principais são de continente, pois com muitos defeitos de natureza editorial e estética. Não é bom o papel, é sofrível a impressão. Há sérios problemas de revisão, as páginas se soltam porque a cola é ruim e a brochura é inconsútil... e uma porção de imperfeições que um escriba como você não merece.

No que mais interessa, contudo, o continente é salvo pelo conteúdo. Pior teria ocorrido, como sucede a miúdo, caso houvesse se registrado o contrário: verdadeiro sepulcro caiado, expediente muito utilizado pelos medíocres, useiros e vezeiros engabeladores do leitor.

Deixo de evasivas, porém, para transmitir-lhe sinceros emboras por esta publicação fruto do seu labor de espírito, o que admira na sua condição de homem de ciência e de pesquisa básica. O conhecimento, muita vez, nos ensina a sermos frios, desprovidos de coração, avessos a vigílias imateriais, não afeiçoados à apreciação do belo-útil. Todas as pessoas precisamos manifestar expressões d’alma, pois responsáveis por quem cativamos – para evocar Antoine de Saint Exupéry. E eu, desse cativeiro não pretendo alforria, caudatário que sou, de ora em vante, dos seus escritos, um bem-aventurado leitor de Juazeiro é um mundo.

A vida é curta e nos encontramos tão pouco!
É uma pena!
Grande abraço.
V.M.


(Ligeiramente modificado de Fermento na Massa do Texto. Sobral: Edições UVA, 2001)


** Renato Casimiro 
Escritor, Pesquisador, Historiador, Memorialista



*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

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