terça-feira, 3 de junho de 2014

ARTIGO (PMA)

UM TRISTE  LEGADO
Paulo Maria de Aragão*

O jornalista e escritor Jorge Teixeira de Paula narra, em “Estórias de Nossa História“, que Pero Vaz de Caminha, ao participar ao rei Dom Manoel a nova do descobrimento, sem cerimônia, já solicitou a Sua Majestade um emprego para o genro Jorge Osouro. O favorecido, em 1490, em Portugal, na companhia de parceiros, assaltara uma igreja, levando diversos bens. Insatisfeito ainda surrou o padre, e por conta desses mal feitos foi deportado e preso na ilha de São Tomé. 

O pedido do escrivão da esquadra de Cabral conotou barganha política, típica dos cargos comissionados preenchidos por apadrinhados  transmitida por atavismo ao fazer da coisa pública extensão dos quintais domésticos. Em verdade, pouco apreço se dá ao preceito constitucional de sujeitar o candidato à aprovação em concurso; regra que a um só tempo, homenageia o princípio da isonomia e o da impessoalidade.

Enquanto isso, muitos aprovados em concursos não são chamados em função de preferências ocultas. Anos e anos de estudo  nomes constam nas listas e por encanto desaparecem; tantos são os casos que já adveio mais uma nova especialidade na advocacia: a de contestar resultados de concursos. Todavia, prejudicados receosos de futuras perseguições, não são poucos, desistem de recorrer ao Judiciário.

A falta de reação da sociedade estimula os desmandos, a farra com a coisa pública. Essa inércia carrega em si, uma aceitação herdada, como se fosse um determinismo atávico, quando o Brasil colonial já vivia de negociatas escandalosas e mamatas impudentes. Cite-se um príncipe, parente de dom João V, implicado na cunhagem de moedas falsas.

Além do baixo nível técnico e moral do estamento público, salvantes as exceções de praxe, é de tremer o Ministério de Minas e Energia ser ocupado por Edison Lobão  dizem não distinguir “uma lâmpada queimada de outra em condições de uso”. Porém, no estilo verboso, Lobão fala em fontes alternativas de energia, a ponto de vender a imagem de cientista.
 
Como se não bastasse, o país chega ao recorde de 39 ministérios  fruto de acertos políticos que nada resultam em melhoria de serviço para a população. Valem aqui, as lições de Rui Barbosa sempre são atuais: "Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico pensando, se a burrice não será uma ciência."



*Paulo Maria de Aragão - Advogado e professor - Membro do Conselho Estadual da OAB-CE - Titular da Cadeira de Nº 37 da ACLJ

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