É HOJE!
Aluisio Gurgel*
Acordei com a boca seca. As palavras adquiriram vontade
própria: se recusam a sair. Andar também se revela exercício de dificílima
execução. Saio trôpego em direção à cozinha e descubro algo impensável: não sei
mais deglutir.
Não bastasse isto, o
coração quer correr para longe do peito o tempo todo enquanto me dirijo ao
trabalho. Pelo caminho o trânsito flui de forma diferente, elétrico... É
impressão minha ou as pessoas estão mais parecidas umas com as outras?
Alguém falou comigo há pouco e, confesso, não ouvi. Meu
chefe me chamou e sequer me dei conta de não o haver atendido – o mais
impressionante é ninguém estranhar este meu comportamento, este meu agir
esquisito.
Me surpreendo olhando
ao longe pela janela do edifício e sinto me acalmar a placidez do profundo céu
de azul anil, decorado em brancas nuvens. Desço a vista às ruas e caio em mim:
está tudo verde e amarelo... É hoje!
*Aluisio Gurgel do Amaral Jr
Juiz de Direito – Professor –
Escritor
Titular da Cadeira de nº 14 da ACLJ
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