quarta-feira, 4 de junho de 2014

ARTIGO (RV)

TUDO DOMINADO
Reginaldo Vasconcelos*

Pugna o nosso confrade Vianney Mesquita, no artigo acima, que os manifestantes brasileiros (essa nova classe nacional), por mais justas as suas reivindicações, abstenham-se de protestos públicos ao longo da Copa do Mundo, propondo a pactuação de uma trégua, certamente em prol do bom nome do nosso país perante o mundo.

Incapacitado de fazê-lo no mais alto código idiomático vernáculo em que discorre o Vianney, ainda que pobremente me expressando quero dar “tratos à bola” nesse tema futebolístico  sem fazer esforço para fugir ao trocadilho.

Ora, para não cair do salto e trair o apelo populista eleitoral que pratica, o próprio Governo Federal anda dizendo que todas as manifestações populares são legítimas e normais. Desse modo, fica-se sem saber exatamente se a imensa militância do partido oficial tem participação nelas, se teve e perdeu o controle, ou se seria a direita, constituída pelas tais “elites” e pelas ditas “forças do atraso” que as estariam estimulando.

Na verdade, manifestações legítimas seriam instâncias coletivas da sociedade organizada ao Poder Legislativo e ao Pode Judiciário, por meio das ações civis públicas, dos dissídios provocados por sindicatos, das audiências promovidas por casas parlamentares, essas, sim, ações próprias da perfeita normalidade democrática.

Greves generalizadas, paredismo violento, quebra-quebras, queima de ônibus, interrupção de vias, tumultos públicos, confrontos com a polícia, isso está longe de espelhar o sadio exercício do direito de expressão do povo, para sinalizar na verdade escaramuças de guerra civil, consectárias de uma grave crise institucional já instalada e arraigada por diversos setores da República.

A Administração Pública fracassa porque os serviços essenciais não funcionam a contento; grassa a corrupção à luz do dia, desviando bilhões; a politicagem impera a olhos vistos; os órgãos oficiais de repressão ao crime são fortemente reprimidos; o Judiciário é moroso e injusto; a imprensa livre é constantemente ameaçada de censura.    

Sim, para significar que o Poder Público brasileiro não pretende recorrer à violência estatal para calar a voz do povo como se faz nas ditaduras, os governantes se omitem e se expressam sob profunda reserva mental, abonando a baderna, enquanto a cidadania sofre com a consequente revolta ante os desmandos do Governo.

Ainda assim propõe e espera o nosso mestre Vianney que durante a Copa de futebol as hostilidades se interrompam, o que me parece impossível de ocorrer. Isso por duas razões objetivas, que a seguir comentarei.

Primeiro porque o povo está revoltado especialmente com as despesas astronômica com os estádios, com verbas do erário, sabendo ainda das graves suspeitas de que eles tenham sido feitos de forma superfaturada. Em segundo lugar porque a Copa será a grande oportunidade de denunciar ao mundo as mazelas brasileiras, tendo em vista que internamente “está tudo dominado”. 


 *Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ

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