domingo, 30 de março de 2014

RECENSÃO (VM)

LIVRO FUNCIONAL
DE ELIENE MOURA
Vianney Mesquita*

De que serve um livro que não saiba nos levar além de todos os livros? (Frederico Guilherme Nietzsche*. Röchen-Al., 15.10.1844; † Weimar, 25.08.1900).

Um corpo complexo de regras e técnicas para referenciar trabalhos escritos e/ou reproduzidos por quaisquer expedientes e suportes foi instituído pela sociedade, com o escopo precípuo de estabelecer, garantir e conservar a autenticidade dos documentos, maiormente daqueles frutos de produção editorial, multiplicados editorialmente.

Este repositório de normas, com precedência e importância umas sobre as outras, há de ser observado pelos usuários, porquanto sua desobediência, via de regra, resulta no desvirtuamento da espécie, autoria, classificação temática e de várias outras características estruturais das peças documentais em guarda nos centros de documentação e referência (moderna denominação das bibliotecas), bem assim em coleções particulares para posterior emprego.

Na ampla seara taxinômica, então, a enorme variedade de material em registo – quanto aos diversos ângulos de sua distribuição por classe (forma, conteúdo, canal, suporte et relicua) – solicitou a existência de verdadeiro caudal de procedimentos, estabelecidos no curso de anos e anos de experiência no trato biblioteconômico.

Esta realidade chegou até o auge de impor o desenvolvimento de programas de formação superior e pós-graduação, em sentidos estrito e largo, na grande área da Ciência da Informação e ramos disciplinares afins, onde são refletidos, praticados e pesquisados os copiosos eventos a envolverem a produção, referência e abrigo dessa mui diversificada sucessão de informações.

Nas diversas nações onde se produz documento, jamais nos países de cultura mais letrada – como felizmente já se amostra o Brasil – em geral, os lineamentos de referência bibliográfica, catalogação e taxionomia são semelhantes, hajam vistas prestigiarem, mudado aquilo falto de mudança e na devida ordem, autor, obra, tradutor, número e local da edição, editor e exercício da publicação – isto em vários exemplos a suscitar.

De tal modo, cada Estado adota princípios particulares, todavia conformados aos preceitos de ordem internacional, adquiridos pela prática e consuetudinariamente no curso de muito tempo.

Em nosso País, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT é a longa manus nacional da Organização Internacional de Normalização (ISO – Internacional Standardization Organization), entidade pluriestatal encarregada, juntamente com suas associadas em cada Estado, de proceder às recomendações para normalização de documentos.

Na seara da produção científica e similares – repetimos – é imperiosa a obediência às indicações da ABNT, nomeadamente na normalização de monografias, dissertações e teses nas universidades, institutos, centros universitários e de pesquisa, bem como nas IES isoladas, a fim de ensejar rápida e fácil recuperação informacional, com o emprego dos elementos prescrito pelo conjunto de cânones oriundos dessa instituição e de suas iguais, bem assim de proteger o bem de capital dos autores, configurado no produto de sua indústria intelectiva para acumulação dos feitos de Ciência, Tecnologia e Arte.

Impende atentar-se para o fato de haver, de quando em quando, modificações, acréscimos e subtrações nesses dispositivos, ex vi da evolução e aparecimento dos fatos apontados pelos cientistas, razão pela qual os produtores de conhecimento hão de estar amodernados em relação ao estado d’arte da documentação e disciplinamentos afins, com vistas a compadecer seus textos aos estalões recomedados. A falta dessa diacronia regulamentar propicia a assomada de referências baseadas em preconceituações não mais positivas nem vigentes, ou mesmo procedidas ao talante dos autores, como se apenas a eles fosse cometido esse múnus.

Aliás, convém evidenciar, em sua maioria, as instituições não mais acolhem para defesa e publicação escritos vazados a contrapelo das normas, porquanto esbarram na vigilância de orientadores e referees, providência altamente benéfica à causa da propagação ordenada e bem dirigida do saber.

Todos reconhecem o fato de ser embaraçosa a tarefa de socializar conhecimento novo sob a superabundância de normativas prescrições, assustadora pletora de detalhes aparentemente inócuos, contudo resultados de estudos em grande intensão, ao cabo de tanto tempo, conduzindo a indústria humana escrita pela trilha ampla da ecumenicidade.

Ao reflexionar no tocante a essa dificuldade confessa dos produtores textuais, de operarem seus escritos debaixo de tantas e pormenorizadas regras, a bibliotecária executiva, mestra em Políticas de Educação Superior, encontrou um jeito inteligente de, se não resolver, pelo menos reduzir consideravelmente o problema com o qual se vê de braços, no seu ofício funcional na Universidade Federal do Ceará: o da normalização bibliográfica.

Conforme acontece com os bons executivos da Ciência da Informação, pelo quais nutrimos a maior admiração e prosperamos no máximo respeito, ela escreveu o livro Bases para a Comunicação Científica, um superdidático manual, referência terciária para os autores harmonizarem seus escritos às regras vigentes no Brasil, no concernente a monografias, dissertações e teses acadêmicas, aportando exemplos simples e igualmente práticos de todos os eventos possíveis de suceder ao se escrever nessas três vertentes universitárias de textos.

Sem dúvida, o Manual constitui um aide mémoire de facílimo acompanhamento, com o qual o consultante se sentirá seguro ao operar suas referências, assim transformado pelo preparo técnico e intelectual da Autora, merecedora dos aplausos de quantos lidam com a produção e o tratamento da comunicação acadêmica.


Este livro, no instante exato de sua necessidade, é volume indispensável a docentes, estudantes e coordenadores de programas de pós-graduação, stricto e lato sensu, orientadores e quaisquer pessoas cujo mister se encontra na investigação científica ou com esta guarde afinidade no âmbito de sua atuação.


Post-sciptum

Com este artigo, homenageamos o advogado e linguista coestaduano Itamar Santiago de Espíndola, o qual se dizia “quêfobo”. De estudo, não empregamos a partícula “que” em nenhuma das classes de palavras às quais pertence.


Pedimos encarecidamente aos leitores deste jornal – blog informarem, no lugar propício aos comentários, se a falta desse termo embaçou o entendimento. Obrigado.



*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC; 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo; 
Escritor e Jornalista.


Comentários.

De fato não se percebe que o texto foi lavrado sem o uso da partícula "que". A mim me parece que isso faz esplender os amplos recursos gramaticais do redator, que dispõe de alternativas adequadas. Todavia imagino que os retores e escribas mais limitados, dentre os quais me incluo, não podem prescindir desse monossílabo – e creio que com alguma ginástica pode-se evitar que ele prejudique o texto ou o discurso. Há inclusive um recurso do Word que avisa ao usuário sobre o eventual excesso de quês na prosa em produção. Reginaldo Vasconcelos 

Comentário.
Confrade Vianney, o ausente não me incomodou em razão da anunciada desnecessidade. Parabéns pelo brilhantismo. Forte abraço, Aluisio Gurgel.

2 comentários:

  1. De fato não se percebe que o texto foi lavrado sem o uso da partícula "que". A mim me parece que isso faz esplender os amplos recursos gramaticais do redator, que dispõe de alternativas adequadas. Todavia imagino que os retores e escribas mais limitados, dentre os quais me incluo, não podem prescindir desse monossílabo - e creio que com alguma ginástica pode-se evitar que ele prejudique o texto ou o discurso. Há inclusive um recurso do Word que avisa ao usuário sobre o eventual excesso de quês na prosa em produção.

    Reginaldo Vasconcelos

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  2. Confrade Vianney, o ausente não me incomodou em razão da anunciada desnecessidade. Parabéns pelo brilhantismo. Forte abraço, Aluisio Gurgel.

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