Por Paulo Maria de Aragão*
É lugar-comum dizer que o desequilíbrio das finanças do
Tesouro deve-se à ilimitada corrupção responsável pelos multíplices problemas
sociais. Nem mesmo em situação de emergência, prefeituras param de esbanjar
milhões nas festas populares de cunho político (panem et circenses); além dessas estripulias absurdas, registre-se
a compra de 2,5 toneladas de sabão, 4,2 mil vassouras de palha e quase uma
tonelada de colorau, sem valor nutritivo na merenda escolar.
Por essa pouca-vergonha, a Nação se embota. A cáfila
governa para os encastelados no poder, confraternizando-se nos banquetes
opíparos, e não oculta a voracidade por crustáceos, iguarias feitas com o
caviar e libações custeadas com o minguado bolso do contribuinte. São bocas
vorazes que só fecham com terra de sepultura. “Se o povo não tem pão, que coma
brioches” - o estopim da massa plebeia que guilhotinou Maria Antonieta.
Aqui a história é bem diferente: na falta de “brioches”, a
plebe, humanos-ratos que moram debaixo de pontes, come restos catados nas
sujidades dos lixões. Homens, mulheres e crianças, todos perdem o
direito à condição humana na disputa com abutres para garantir o sustento; são
o povo sem rosto, sem voz e resignado
com a dor e a desesperança.
Triste sociedade que vê no ser humano o abutre - catadores
consumidos por vermes nos aterros sanitários. Que segurança lhes dá o Estado ao
fugir da obrigação de estabelecer e fazer cumprir os direitos fundamentais dos
cidadãos? Onde ficam as políticas públicas que visam assegurar-lhes uma
existência digna? Sob essa visão desconcertante, é impossível atingir a ordem
social, tendo o primado do trabalho humano como postulado do bem-estar e da
justiça sociais (art. 193 da CF).
É sempre lamentável que a opinião
pública se submeta às estripulias do governo. Ainda pior, os que nele se assentam logo abrem o apetite fisiológico;
embevecidos com mordomias, fazem-se indiferentes àqueles que arrastam a
existência na miséria e mendicidade. Talvez os banquetes fossem refreados pela
reação dos pedintes com pratos vazios e cartazes. Um tempero indigesto para os
glutões que têm a coisa pública como butim e ainda levam as sobras para o
“vigia” (leia-se geladeira).
*Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do
Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da
Cadeira de Nº 37 da ACLJ
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