TUDO É
NATURAL!
Por Paulo
Maria de Aragão*
Estamos sob o domínio da violência. O descrédito do cidadão na capacidade
do poder público de oferecer segurança é manifesto. Rebotalhos humanos
dizimados pelo crack espalham-se
pelas cidades. Programas policiais, num vibrante ritmo radiofônico e
televisivo, alardeiam crimes.
O mais irônico é que o sensacionalismo eleva a audiência. Por isso, é
exitoso no setor publicitário – atrativo para patrocinadores, ao mesmo tempo em
que vulgariza a violência e fomenta escândalos, às vezes sem fundamento,
bastando um indício para ganhar espetaculosidade. Muitas acusações são falsas. Vítimas são
inocentadas, mas suas vidas já estão destroçadas.
Será legítimo falar em direitos humanos quando a imagem de presos, pés de
chinelos, envolvidos em pequenos furtos, alguns inocentes, que são
ridicularizados por comunicadores? Danos morais irreversíveis os estigmatizam
para o resto da vida. Bem diferente se
fossem delinquentes de alto coturno. Quem ousaria achincalhar um “mensaleiro”?
A ausência de respeito pela vida instaura um estado selvagem. Desprezam-se
os salutares fins midiáticos, sociais e informativos. O exercício da informação
tem limites. Não se insinue a famigerada censura, mas o respeito humano e
profissional, elevando-se o prestígio dos órgãos de comunicação.
A barbárie não indigna. Nos presídios, “sucursais do inferno”,
decapitam-se detentos como nos tempos medievais. O melhor adjetivo para
qualificá-los é mero eufemismo. O corpo estendido no meio da rua, esvaindo-se
em sangue, não mais apavora; proporciona, em seu derredor, alegria à meninada
comprimida e saltitante, acotovelando-se e gesticulando freneticamente para ser
vista na tevê.
A vida tem valor absoluto, preceito básico de segurança. Difícil é
acreditar: a cada instante, um crime ocorre, aumenta a estatística e cai no
esquecimento.
* Paulo Maria de Aragão
Advogado e professor
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ.
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