ESCORPIÕES DA POLÍTICA
Paulo Maria de Aragão *
Foi lamentável que
Ulysses Guimarães ao concorrer às eleições presidenciais diretas, em 1989,
tenha amargado derrota para Collor de Mello, Lula da Silva, Leonel Brizola,
Mário Covas, Paulo Maluf e Guilherme Afif, permanecendo na 6ª colocação entre
seus concorrentes.
Agora, por ocasião das
recentes comemorações dos 25 anos da Constituição Federal, o “Senhor das
Diretas”, um dos políticos de mais rica biografia do país, teve ainda a memória
maculada por um erro histórico. A paciência tem limites. Lula comparou o timoneiro
da redemocratização a José Sarney, de atuação coadjuvante, a quem qualificara
em 1988, num discurso em Aracaju, “o grande ladrão da Nova República”.
Ora, a ingratidão
política atingiu Churchill, Charles de Gaulle e outros notáveis homens. Não
estranhável, posto que sacripantas ao se entranharem no poder metamorfoseiam-se
em busca de regatear oportunidades, sob o dizer de que “a política é dinâmica”.
Um sofisma grosseiro! É estúpido e perverte a autêntica dinâmica da ciência
política, tendo por compromisso a construção do bem comum, o útil a uma boa
causa.
Nesse contexto,
as fábulas são preciosas para avaliar e, quiçá, exprimir a conduta humana.
Sempre atual tem-se a do escorpião, que, com astúcia, dizia querer alcançar a
outra margem do rio e que por não saber nadar, implorava ajuda a uma rã que
coaxava por ali.
Temerosa, por não
confiar no peçonhento, relutava em atendê-lo. Tamanha foi a súplica que a rã,
persuadida, resolveu transportá-lo no dorso. Ao final da travessia, seguro de
seu objetivo, fulminou-a com a mortal picada. A rãzinha, agonizando, replicava:
“Por que me traíste?”. Para dele ouvir a fria e impiedosa sentença: “Este é meu
caráter, este é o meu caráter”.
Muitos protagonistas
da política são comparáveis ao peçonhento da fábula. Prometem e não cumprem. Por instinto, atraiçoam suas vítimas. Assim,
rãs e escorpiões são partícipes deste teatro real; aquelas sacrificadas por
estes para alcançar a margem do poder, atraídos pelas benesses do Estado
provedor de cargos, verbas e espúrias mordomias. Assim, recusam a qualquer
utilitária vocação e comprometem a política e a história deste país.
*Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
membro do Conselho
Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira
nº37 da ACLJ
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