sábado, 18 de janeiro de 2014

ARTIGO

ESCORPIÕES DA POLÍTICA
Paulo Maria de Aragão *

Foi lamentável que Ulysses Guimarães ao concorrer às eleições presidenciais diretas, em 1989, tenha amargado derrota para Collor de Mello, Lula da Silva, Leonel Brizola, Mário Covas, Paulo Maluf e Guilherme Afif, permanecendo na 6ª colocação entre seus concorrentes.

Agora, por ocasião das recentes comemorações dos 25 anos da Constituição Federal, o “Senhor das Diretas”, um dos políticos de mais rica biografia do país, teve ainda a memória maculada por um erro histórico. A paciência tem limites. Lula comparou o timoneiro da redemocratização a José Sarney, de atuação coadjuvante, a quem qualificara em 1988, num discurso em Aracaju, “o grande ladrão da Nova República”.

Ora, a ingratidão política atingiu Churchill, Charles de Gaulle e outros notáveis homens. Não estranhável, posto que sacripantas ao se entranharem no poder metamorfoseiam-se em busca de regatear oportunidades, sob o dizer de que “a política é dinâmica”. Um sofisma grosseiro! É estúpido e perverte a autêntica dinâmica da ciência política, tendo por compromisso a construção do bem comum, o útil a uma boa causa.

Nesse contexto, as fábulas são preciosas para avaliar e, quiçá, exprimir a conduta humana. Sempre atual tem-se a do escorpião, que, com astúcia, dizia querer alcançar a outra margem do rio e que por não saber nadar, implorava ajuda a uma rã que coaxava por ali.

Temerosa, por não confiar no peçonhento, relutava em atendê-lo. Tamanha foi a súplica que a rã, persuadida, resolveu transportá-lo no dorso. Ao final da travessia, seguro de seu objetivo, fulminou-a com a mortal picada. A rãzinha, agonizando, replicava: “Por que me traíste?”. Para dele ouvir a fria e impiedosa sentença: “Este é meu caráter, este é o meu caráter”.

Muitos protagonistas da política são comparáveis ao peçonhento da fábula. Prometem e não cumprem.  Por instinto, atraiçoam suas vítimas. Assim, rãs e escorpiões são partícipes deste teatro real; aquelas sacrificadas por estes para alcançar a margem do poder, atraídos pelas benesses do Estado provedor de cargos, verbas e espúrias mordomias. Assim, recusam a qualquer utilitária vocação e comprometem a política e a história deste país.  


*Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº37 da ACLJ

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