Enfim, sou privilegiado e rico... Nada mais.
Por Fernando Dantas*
Na
vida, realmente, só existem duas situações nas quais ficamos mais ricos ao
gastarmos nosso suado dinheiro, ganho neste país. A primeira é quando viajamos.
Como é bom viajar! Conhecer novas culturas, novos locais, fazer amizades fora
de nossa zona de conforto. Apreciar sabores da culinária e das bebidas das
terras que conhecemos. Guardar na memória – e nas fotos – os momentos únicos
vivenciados, sozinhos ou acompanhados.
A
segunda situação em que gastamos nosso tempo concentrado – pois é assim que
definiria o dinheiro – é quando estudamos e ampliamos a nossa cultura. Através
da leitura, dos novos conhecimentos adquiridos nos bancos escolares,
conseguimos também dar asas à liberdade e voar em uma viagem. Esta, às vezes
preliminarmente onírica, mas que se for perseguida torna-se real.
Eu
me sinto privilegiado por ter descoberto desde cedo que as viagens e os estudos
nos tornam mais ricos e livres. As viagens são profundas. Elas começam logo
cedo ao nascermos e sairmos do ventre materno para conhecer a luz e este mundo.
Viagens não são apenas as que fazemos para conhecer cidades, estados, países.
Viagens fazem parte de nossa história de vida e que nos remetem às histórias de
vida.
Nessas
idas e vindas de viagens de vida, houve o momento de decidir o que fazer
como labor. A família queria Medicina. Mas a paixão pelas ciências humanas e
sociais falaram mais alto. Decidi-me por duas profissões irmãs siamesas.
Direito e Jornalismo. Ou seria Jornalismo e Direito?
No princípio fui questionado porque desejara fazer duas faculdades. E os leigos em escolhas na vida ainda insinuavam que elas não se completam, e que deveria eu fazer apenas uma delas. Outros ainda tinham a visão de que o Direito se relacionava apenas à advocacia ou à magistratura. Alguns viam o jornalismo apenas como instrumento de divulgação dos fatos do cotidiano. Como estavam enganados! Desafiei e segui em frente, amando os dois cursos escolhidos e concluídos.
No princípio fui questionado porque desejara fazer duas faculdades. E os leigos em escolhas na vida ainda insinuavam que elas não se completam, e que deveria eu fazer apenas uma delas. Outros ainda tinham a visão de que o Direito se relacionava apenas à advocacia ou à magistratura. Alguns viam o jornalismo apenas como instrumento de divulgação dos fatos do cotidiano. Como estavam enganados! Desafiei e segui em frente, amando os dois cursos escolhidos e concluídos.
Já
nos bancos acadêmicos descobri premissas básicas que unem as duas profissões, e
divergem de seus conceitos formais: de que quem faz Direito não precisa, necessariamente, advogar, e de que quem faz jornalismo não se obriga a
somente divulgar os fatos do cotidiano. No Brasil, as duas profissões se fundem,
em seus valores e características.
Em
um passado não muito distante, eram os rábulas e advogados militantes que
escreviam nos tabloides da época. São dois profissionais que se obrigam a ter
que labutar com, pelo menos, dois lados, duas opiniões, duas situações de um
antagonismo, entre fatos jurídicos ou jornalísticos. A eterna busca da
verdade... se é que ela existe. Uma coisa é certa, em relação a estas duas
ciências humanas: elas ajudaram-me a ter uma visão mais crítica da vida, das
artes, da política, da justiça, enfim, da sociedade e suas mazelas.
Os
anos passaram. As aulas na faculdade terminaram. Comigo ficaram as lembranças
de mestres e colegas, além do aprendizado. A viagem prosseguiu. E ao longo da
viagem da vida não esperamos por coincidências ou reencontros. Mas estes
acontecem. E às vezes de forma inusitada e alegremente, o que me leva a
perceber o quanto sou privilegiado.
Senti-me
lisonjeado quando em 2010, um amigo do curso de Direito, que também é
advogado e jornalista, convidou-me a ser um dos fundadores da mais nova
academia literária do Ceará, a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, a
ACLJ, estabelecida em 4 de maio de 2011 na ACI – Associação Cearense de
Imprensa. Para alguns mais críticos não poderia eu estar em uma academia
literária com alguns notáveis, com notáveis histórias de vida.
Mas
desde o princípio soube dos propósitos modernos e inclusivos da nova academia,
que em 2014 completa seu terceiro ano de existência. Uma academia que não
buscou apenas incluir escritores de livros, mas acadêmicos que expressam suas
visões de vida das mais diversas formas, e nos mais diversos veículos como o
rádio, a televisão e a internet. Uma academia que valoriza mais as expressões
de pensamentos que as formas como estas são divulgadas. A mensagem se tornou o
mais importante.
Convite
aceito, sinto-me privilegiado, sim, por pertencer à Academia Cearense de
Literatura e Jornalismo, e me orgulho de ser jornalista e advogado, ocupando a
cadeira de número 19, cujo patrono é o jornalista Demócrito Dummar, que antes
de ser guindado a comandante maior do Sistema O Povo de Comunicação, passou
pelos bancos universitários da Faculdade de Direito da UFC.
E
a minha certeza de ser um privilegiado se ampliou. Não de forma soberba, mas de
forma respeitosa e com orgulho de integrar um grupo seleto. E o meu orgulho e
reverência para com alguns de seus integrantes se tornaram fato concreto.
Cheguei à conclusão da razão de ser mesmo um privilegiado nesta academia: foi
na nossa ACLJ que tive a oportunidade de reencontrar seres de minha história de
vida, aprendizados e viagens.
Tenho
como confrades pessoas que foram importantes em minha formação acadêmica no Direito
e no Jornalismo. Nos assentos da Academia tive a satisfação de perceber que
agora estava a caminhar novamente com dois professores de meu curso de
Jornalismo, e com dois professores de meu curso de Direito. O mais interessante
é que, em momentos distintos, tirei fotos com uma dupla formada por um
professor de cada curso. Mestres com os quais tenho passos na aprendizagem de
minha viagem por esta vida.
A
primeira foto é mais descontraída. Nela, ao meu lado direito tenho o jornalista
e professor Geraldo Jesuíno da Costa, que ocupa a cadeira de número 32, cujo
patrono perpétuo é Raimundo Girão. Falar de Geraldo Jesuíno é motivo de
orgulho. Homem simples, amante dos livros e das artes gráficas. Com ele pude
conhecer de perto, e na prática, as artes gráficas na Imprensa Universitária da
Universidade Federal do Ceará, onde estagiei.
Este
professor foi o meu orientador e maior incentivador para terminar minha
monografia do curso de Jornalismo, que concluí em apenas quinze dias.
Ao lado esquerdo tenho a satisfação de ter o magistrado e professor
Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, que ocupa a cadeira de número 14, cujo patrono
perpétuo é Aluísio Gurgel do Amaral.
Aluísio
foi um professor do curso de Direito que nos mostrou que além da formalidade
jurídica, por baixo de uma toga existe um ser humano. E no caso dele um ser
humano amante das artes e da boa música. Aluísio chegou a nos mostrar seus
dotes melódicos ao som dos acordes do violão após as aulas de Direito na
faculdade.
Já
a segunda foto é um pouco mais formal, pois estamos com as vestes talares de
nossa ACLJ. Como na primeira, coincidentemente, tenho um professor de
Jornalismo ao meu lado direito, e um do Curso de Direito ao meu lado esquerdo.
Pelo Jornalismo tenho a ilustre figura do jornalista e professor Vianney Campos
de Mesquita, ocupante da cadeira de número 22, cujo patrono perpétuo é José
Rebouças Macambira.
Vianney
foi o professor que nos acolheu bem no curso de Jornalismo da UFC –
Universidade Federal do Ceará. Foi através do mestre Vianney Mesquita que
conhecemos como seria nosso curso, ao longo de quatro anos. Destacamos ainda
que com ele viajamos e conhecemos a estrutura da universidade fora de
Fortaleza, chegando a conhecer a bela cidade de Sobral. Ainda na faculdade
Vianney Mesquita incentivava seus alunos a escreverem artigos e a se
interessarem em ser autores de obras acadêmicas, bem antes da conclusão do
curso.
Já
ao meu lado esquerdo, na segunda foto, tenho o advogado e Professor Paulo Maria
de Aragão. Paulinho, como o chamo carinhosamente, iniciou-me na paixão
pelo Direito do Trabalho, para mim, ramo jurídico de fundamental importância na
vida, e nas relações sociais do cidadão.
Paulo
Aragão soube entender as vezes em que eu chegava atrasado na sua aula no
primeiro horário da UNIFOR – Universidade de Fortaleza. O atraso ocorria porque
eu saía dos estúdios da televisão em que trabalhava, direto para a sala de
aula. Ao adentrar a sala logo escutava o velho bordão do professor: “Repórter,
chegou?” Essa sua compreensão se deve ao fato de que ele também, no passado, exerceu
atividades jornalísticas na redação.
Aqui
eu agradeço a estes mestres com carinho e respeito por poder, novamente,
na viagem da vida, estar ao seu lado. Por isto sou um acadêmico da ACLJ
privilegiado. Enfim, sou privilegiado e rico... Nada mais.
*Fernando Dantas
Jornalista
e Advogado
Titular
da Cadeira de
nº
19 da ACLJ
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