Escolástica:
NÃO HÁ CIÊNCIA DO SABER PARTICULAR
Vianney Mesquita*
A ciência é uma esplêndida decoração
para a sala superior do homem, se ele possuiu no rés do chão uma boa dose de
bom senso (HOLMES, Oliver Wendell. Cambridge -Mass., 29.08.1809 – Boston –
Mass. 07.10.1894).
Sob a óptica do espectador menos
devotado à análise dos procedimentos do trato científico, pode afigurar-se
inacreditável, minimamente arrebatador, o fato de ser possível a vinculação
racional em vertentes de aparências dessemelhantes, de origens tão supostamente
díspares, como nessa comprovada pela Professora Maria da Graça Holanda Martins,
autora do volume sob exame.
Reporto-me à obra O Homem – nas abordagens mecanicista e humanista
da Administração e no Humanismo de inspiração cristã (Fortaleza, Imprece), editada em excepcional ocasião, propícia a excitar, ainda
mais, a já efervescente reflexão, felizmente em voga na atualidade de ambiência
da nossa Academia.
Isto porque – e ela, de sobra,
conhece este suposto – o exame da ciência não tem por objeto o saber particular,
pois é inexequível reunir em insulado conceito, estabelecer somente numa lei o
ror de detalhes e situações particulares, constitutivos do ser ou do fato
individual: De individuo nulla scientia
– ensina a velha, revisada tantas vezes e, em muitos pontos, ainda, acreditada
Escolástica.
Neste debate, eminentemente
interdisciplinar, a dita Pesquisadora não perde o foco, portanto, das grandes
ligações da realidade do ser, e deixa de sujeitar-se ao risco de reduzir a visão
a um apoucado domínio da técnica, em virtude do desdobramento dos objetos, o
qual conduziu a discussão da ciência a uma gradual especialização.
A Autora demonstra, com efeito, no
seu substancial e bibliograficamente bem forrado escrito, o caráter extensivo,
a feição horizontal e o perfil encadeado do saber ordenado, ao hospedar para
arguir, sob o mesmo pálio argumentativo, o tema da Administração Científica e
da Teoria da Burocracia, com base na conceição de homem esposada nas abordagens
mecanicista e humanista desta ciência-técnica, para saber se - e até onde - a
ideação de humano, nesses dois sistemas, converge ou diverge para a homovisão
do Humanismo de inspiração cristã.
Conforme já se dessume, a despeito
da postiça falta de identidade temática, os assuntos são passíveis de avaliação,
entretanto solicitam a necessária diligência intelectiva, a exigir do estudioso
o apuro intelectivo preciso para fruir de juízos absolutamente racionais, a fim
de podê-los partilhar com a universalidade, pois vazados no caminhar sereno
pelas sistematizações sob ordem metodológica, acumuladas pela riqueza do
conhecimento em depósito.
Esses aprestos intelectuais,
evidentemente, a Professora Graça Martins detém sobejamente, porquanto os
resultados deste seu ensaio podem ser socializados, haja vista representar
manancial de fé, do lado de quem, por toda a vida, mourejou em bancos e
laboratórios idôneos e fez da existência ateliê de raciocínio, forja de
experimento e terreno para testes.
Conquanto se mostre a mim possível antecipar
os proveitos da investigação sob glosa, vi por bem a isto não proceder, para
não baldar o interesse do provável consulente do livro, tampouco frustrar a
sofreguidão daquele leitor mais vexado, cuja necessidade orgânico-psíquica o
levará a consumir, com rapidez, todo o teor do curto e substancioso esforço
investigativo.
De passagem, no entanto, me cumpre
chamar a atenção para o sortimento interdisciplinar do escrito, porquanto reúne
o entendimento profuso, quase inusitado, de vários gradis do conhecimento
ordenado – Administração, Humanismo, Filosofia, Religião, Trabalhismo, entre
outros – concedendo horizontalidade ao feito científico, conjunção de
procedimentos múltiplos, significativos da parêmia escolástica Omne individuum ineffabile ou “O todo individualizado
é inexprimível”.
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