terça-feira, 28 de julho de 2020

ARTIGO - O Império Chinês Renasce (LA)


O IMPÉRIO
CHINÊS RENASCE
Luciara de Aragão*



Desde 2008, em torno dos jogos olímpicos e por quase uma década, a metrópole de Pequim pareceu erguer, em torno dela, uma nova ordem mundial. A China começava uma fase de lua de mel com os outros países e ainda que tivesse reprimido um recente levante no Tibete, o país angariou simpatias internacionais após um devastador terremoto.

Muitos foram a Pequim para a “festa de debut” da China. Líderes estrangeiros encantaram-se com a arquitetura, os fogos reluzentes e as cerimônias de abertura ostentando as ambições de poder do país.


Em seguida, o mundo chegou a “outro ponto de inflexão: a implosão do sistema financeiro americano e a crise econômica global. O crescimento da China escorou ao mesmo tempo a economia mundial e a crença entre as autoridades do país de que seus sistemas econômico e político poderiam ser rivais de seus correspondentes americanos” (jornalista Edward Wong. Papers 2008 Universidade de Harvard).

 Ser abertamente autoritário, não impediu o país de funcionar como um ímã. Muitos pensaram que a China iria forjar uma nova identidade, mais aberta e vibrante, iniciando uma era de novas ideias, valores e uma inovação cultural, digna do desejado status de superpotência.

Essas expectativas esperançosas não se cumpriram. Dentro de um espectro amplo, do comércio à internet, do ensino superior ao cinema, fica explicito um modelo chinês autoritário para o mundo. O império que renasce é o resultado do exercício de poder esmagador do Partido Comunista, incluindo a coerção econômica e religiosa, o que anula o poder de atração da sua cultura e saber.

Embora, das grandes potências dominantes no Século XIX, só a China surja como um império rejuvenescido, o faz sob o todo poderoso Partido Comunista dominando um vasto território reunido pelos governantes manchu da dinastia Qing, obtidos pela rota da guerra e da diplomacia.

Favorecida pela Geografia, seu domínio avança com o uso de suas forças armadas para testar o seu potencial de controle, seja nas fronteiras disputadas, do Mar do Sul da China até o Himalaia, ou nas campanhas internas que estimulam o nacionalismo. A dinâmica externa da China, engendra ambições externas.

Na história recente, os Estados Unidos foram uma luz global para todos aqueles que defendiam valores como o estado de direito, a liberdade de expressão, a transparência do governo, o respeito aos direitos civis e os direitos humanos.

Mesmo que as políticas do governo frequentemente não igualassem esses ideais, o “poder brando” americano soube ser tão poderoso quanto suas forças armadas. A ascensão e a forma de atuar da China oferece sombrio contraponto.


Logo, a partir de 2009, o poderio duro do Partido Comunista Chinês, nos âmbitos externo e interno, atuou com força bruta, suborno e intimidação, de modo cada vez mais forte, dentro da consolidação do pensamento de Xi Jinping na formação do Partido, colocando-o ao nível de Mao Tse-tung.

No exterior, a China estabelece uma política agressiva com a construção de instalações militares em recifes disputados no Pacífico e invasão de redes cibernéticas. A China pressiona por uma infraestrutura em forma de cinturão, atravessando a Eurásia. Mesmo trazendo benefícios aos países envolvidos, ela exerce sua influência territorial pelo comercio e pela coação.

Nenhum país conhece melhor a aspereza chinesa do que a Noruega. O país foi retaliado com o rompimento das relações diplomáticas e comerciais durante os seis anos que se seguiram a concessão do Nobel da Paz (2010) a Liu Xiaobo defensor da democracia e preso na China onde morreu.

Ao consolidar suas fronteiras terrestres, a China começa a voltar-se para o exterior e ao contrário dos Estados Unidos não vem munida de um ideal missionário voltado às questões mundiais.

Não é ponto pacífico que não pretenda difundir sua ideologia e seu sistema de governo”. O que a impele para o exterior é a necessidade de assegurar energia, metais e minerais estratégicos a fim de sustentar o padrão de vida em ascensão” (Kaplan, Robert. 2003 p.202).

Para este fim, a China vem estabelecendo “relações vantajosas de poder tanto em territórios contíguos quanto em lugares remotos que oferecem uma abundancia desses mesmos  recursos de que o país necessita  para alimentar o seu crescimento” (Kaplan. Idem. Ibidem).

Pode-se concluir que sair de suas fronteiras oficiais está ligado a um interesse nacional vital: sobrevivência e a expansão econômica o que define o país como hiper-realista. A busca chinesa põe-se em rota de colisão com países e governos de conotação direitistas como os Estados Unidos, colidindo também com Índia e Rússia por suas próprias esferas de influência.

Internamente, o Partido Comunista detém advogados atuantes dos direitos civis, sufoca a internet, obriga empresas e universidades a instalarem células do partido, proíbe bíblias e o exercício da liberdade religiosa, planeja um sistema de Crédito Humano, um inferno orwelliano,  por ser parecido com um livro de George Orwell, quando as notas dos seus cidadãos se ligarão à obtenção dos seus empregos, hipotecas e as vagas das escolas de seus filhos. (Tashi Wangchuk, Times 2015).

Tashi é o tipo de cidadão que a China desvaloriza mesmo quando trabalha dentro da lei e recomenda políticas em beneficio das pessoas comuns. Seus projetos de ensino do idioma tibetano o condenaram. Mesmo, passados dois anos, ele continua detido em Yushu, sua cidade natal.

A ideia de um sistema orwelliano aparece pela primeira vez em documento de 2014, invocando que isto vai melhorar os serviços do Estado, facilitando o aceso aos financiamentos. O uso está planejado para 2020. A nota do cidadão será a base de confiabilidade de uma pessoa e a classificação será pública.


A privacidade inexistirá na China, que se revela como um estado policialesco completo. Nesta segunda década do Século XXI, a China segue impiedosa nas suas ideias como no tempo de Mao. Ressaltemos aqui que o progresso moral em política internacional é um projeto norte-americano, não chinês.


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