O DEBATE
CIENTÍFICO
Rui Martinho Rodrigues*
A história da ciência é marcada por embates, não raro apaixonados e
pouco científicos. Max Karl Ernest Ludwig Planck (1858 – 1947) teria dito que a
ciência avança funeral a funeral. Exéquias de teorias e modelos ou de
cientistas? Não explicitou, mas deve ser de ambos.
A escola do racionalismo crítico descreve a resistência de velhos
paradigmas em face dos novos, como cegueira dos paradigmas (Thomas Samuel Kuhn,
1922 – 1996).

Mas não aceitaram a teoria dos micróbios (Louis Pasteur, 1822 –
1895) apoiada por evidências. Max Planck, Gaston Bachelard e Thomas Kuhn
analizaram muitos exemplos desse tipo de fenômeno ao longo da história da
ciência.
A ciência não é unívoca. Cientistas têm paixões, interesses,
vaidades, rivalidades e viseiras das tradições e referências teóricas de
autores renomados, que usam tribunas prestigiosas como Universidades famosas, publicam
em periódicos respeitados e têm apoio de movimentos culturais ou políticos
influentes. Títulos e publicações são usados como argumentos de autoridade. Até
existe o comentário segundo o qual quem não tem lattes (plataforma de exibição
de currículos) não morde.
O adjetivo “científico” é peça de convencimento. Os incapazes de
examinar o mérito do que é dito acatam a autoridade “científica”. Um dos
primeiros professores a escrever sob a assinatura “professor doutor”, cumulando
títulos, deu lugar ao comentário que explicava uso dos títulos como necessários,
porque o mérito não era visível.

O mesmo rigor se aplica aos demais medicamentos? Remédios tão
perigosos foram vendidos durante décadas sem nenhum controle? Usados
continuamente, por longos anos, no tratamento de quadros reumatoides, do lupos,
e no uso profilático contínuo contra a malária, não podem ser usados por poucos
dias na atual pandemia?
O índice de efeitos colaterais graves deveria ser divulgado. Alguns
tipos de penicilina provocam uma reação a cada dez mil pacientes, se a memória
não me engana. Qual é a estatística da Hidroxicloroquina (HCQ)? Usados em outros tratamentos sem
maiores problemas, os efeitos colaterais diferem conforme a patologia ou são
inerentes às propriedades da droga? Quais fatores levaram a resultados
contraditórios nas pesquisas e no uso clínico dos antivirais debatidos? Quais
as diferenças e as explicações dadas pelas partes?
A cientificidade não é uma exigência rigorosa em clínica. Homeopatia
e acupuntura são reconhecidas pelo Concelho Federal de Medicina, e não são
rigorosamente científicas.
A situação de uma emergência, como uma pandemia,
deve aumentar o rigor da cobrança de cientificidade, ou suavizá-la?
Uma droga
usada por longo tempo sem o temor de efeitos colaterais, vendida sem receita
médica, deve ser objeto de restrição no momento da emergência?
O uso da HCQ será abandonado, por temor de efeitos colaterais, nos tratamentos de artrite reumatoide,
malária e Lupus?
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