HISTÓRIA E LITERATURA:
APROXIMAÇÕES
Luciara de Aragão*
História e
Literatura em seus discursos diversos convergem na tentativa de representar a contemporaneidade
de suas experiências. Modos diversos de explicar o presente, olhar o passado e
observar o devir, embora a maneira de trabalhar a História, seja a de
estabelecer as correlações possíveis entre os acontecimentos revelando os seus
significados. A História é comprometida com o fato que interpreta e relata com a
maior exatidão possível, a partir da evidência encontrada na sua representação
do passado.
É do conceito de
representação, concorde as teorias de História Cultural, que partem as análises
da aproximação entre História e Literatura como fonte documental para a
historiografia (Lima Grecco, 2014). Aproximação recente, desde a metade do
Século XX, quando as invenções metodológicas e epistemológicas baseiam-se em
perspectivas socioculturais.
Hoje, vários
historiadores que reconhecem no texto literário a possibilidade de
identificação com textos históricos com as peculiaridades próprias da linguagem
artística, a poética, o criativo, veem colocando a literatura como um campo
privilegiado para a investigação do historiador. Podemos enfatizar aqui as
obras paradigmáticas pelo mito, a prosa romanesca, uma mostra de mundo em forma
indireta, metafórica e alegórica para o fazer histórico e literário, tal como
querem o historiador Roger Chartieu e o sociólogo Pierre Bourdier.
Por vezes, a coerência
do sentido que o texto literário apresenta é o suporte necessário para que o
olhar do historiador se oriente para outras tantas fontes, e nele consiga enxergar
aquilo que ainda não viu (Pasavento, 2016).
Um bom exemplo disso
é constatar que, para os estudiosos de América Latina, o debruçar-se sobre o
colombiano Gabriel Garcia Marques no seu “O General em seu Labirinto”, romance
baseado na vida de Simón Bolivar, o Libertador, desde os movimentos
pró-independência é de grande valia. Este construir do olhar sobre este tipo de fonte para pesquisa passa
pela riqueza interpretativa e mergulha a sensibilidade do historiador em forças
mágicas e criativas.
Para a historiadora
Yvone Dias Avelino a História se define como “uma constelação de forças contraditórias, em configurações
pluridimensionais permanentes, tendo um caráter abrangente, onde o historiador
deve captar o real” (História Cotidiano e Linguagem, 2012 p. 156).
O texto literário tem,
pois, o condão de ser interpretado como documento e fonte em que se registram
vestígios do passado e representações do seu autor, construção cognitiva,
intencional e possível de perpetuar uma memória, onde se registram vestígios do
passado e as evidências contidas na visão do seu criador.
Como manifestação
humana a literatura marca as experiências, sonhos e aspirações e celebrações de
uma época. Ainda como queria Cervantes “O
poeta há de contar as coisas não como foram, mas como deveriam ser, e o
historiador há de escrevê-las não como deviam ser, e sim, como foram (Cervantes,
2005).
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