EXPEDIENTES PARA A
ESTÉTICA DE UM TEXTO
Vianney Mesquita*
Quem não encontra
prazer na arte sequer alcança o sentido da beleza (LOUIS BURLANT),
Alegoria, símile e metaforismos de toda ordem constituem tropos
linguísticos de que os autores se utilizam para conceder às suas produções a
singularidade estilística que os faz distintos das demais pessoas praticantes
do exercício textual, menos na Ciência e na Filosofia, no entanto, bem mais
intensivamente na comunicação literária.
Tal dessemelhança em relação a outros executores do discurso
gravado – em qualquer suporte de registo informacional – é, no entanto,
subsidiária à intenção autoral de conceder aos escritos o componente estético,
cujo ajustamento da mensagem preside, no ato de seu recebimento, a acolhida
fiel por parte do destinatário, com a conquista de um recado perfeito.
Ao justapor adequadamente os elementos informativos e estéticos,
nesse dúplice aspecto da comunicação humana, tomando na devida consideração o
nível de sua audiência, o escritor – ou comunicante qualquer de boa qualidade –
logra infundir no receptor a simpatia pela ideia fácil, à qual ele se afeiçoa
por definitivo, uma vez ataviada pela beleza resultante dos expedientes
elocutivos.
Com efeito, os bons produtores de qualquer gênero escritural
constituem nação especial no concerto dos demais comunicadores, porquanto seus
objetivos são bem meditados e transferidos consoante os atributos da mensagem e
as regras não muito fixas da elocução (ou estilo), motivo por que apanham
sempre a melhor recepção.
Muito me apraz, por conseguinte, reiterar a conclusão, tirada há
alguns anos, de que esta é a feição produtora dos professores doutores Rui
Verlaine Moreira e José Anchieta Barreto, compartes de extenso tempo na ideação
didático-científica, expressa em livros e artigos de raro alcance – mormente na
Filosofia da Ciência – numa apreciável periodicidade produtiva, considerando
que, nos últimos ciclos, trazem, pelo
menos, um volume por ano.
Neste comenos, ao invitar os múltiplos recursos de que a Língua
Portuguesa dispõe, bem assim, os meios oferecidos pela Estilística, esses
pesquisadores organizaram – e presidiram como docentes da disciplina Teoria
e Método das Ciências, na Universidade Federal do Ceará – a obra Razão e
Fé do Carvoeiro, contrapondo razão e conhecimento da communis opinio
(aqui a fé), ao estudar, juntamente com onze parceiros, o ideário de filósofos
como Descartes, Sartre, Schutz, Marcuse e Feyerabend, oferecendo novas
decodificações do seu pensamento nem sempre bem compreendido pelos que não se
debruçam, como fizeram os signatários desses ensaios, na filosofia de
escritores tão prestigiosos e celebrados, e que compõe Razão e Fé do Carvoeiro.
A denominação alegórica com que inteligentemente intitularam a obra
procede do entendimento desarrazoado de muitos, às vezes na fé inabalável, que
não dá ouvidos a argumentos razoáveis, assentada na seguinte historieta: o
Diabo, com disfarce de eremita, entrou na cabana de um carvoeiro, a quem
indagou:
– Em que tu acreditas?
– Creio no que acredita a Santa Igreja Católica, Apostólica e
Romana – respondeu o carvoeiro.
– E o que crê a Santa Igreja? – Redarguiu o Demônio.
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