A INSURGÊNCIA DO OVO
Edmar Santos*
Bem isso: ovo. Em
sua branquitude ele era e não era. Em seu formato miscigenava perfeição e
imperfeição: ovoide.
Defini-lo? Gosto de
como Lispector (1920-1977) assim o fez: “Um ovo não tem um si-mesmo.
Individualmente ele não existe. (...) não se vê o mundo por ele ser óbvio, não
se vê o ovo por ele ser óbvio. E continua: “Ele é mais que atual: ele é no
futuro (...) o ovo por enquanto será sempre revolucionário”. Ricos e pobres
o procuram.
A representatividade
da vida está dentro dele, está fora também. Mas nem por isso é notório, nem
nobre. Prefere a humildade de não ser, para tornar-se sumidade nutritiva à vida
dos que o buscam.
O “Outro” também foi
assim. Chegou como tantos antes dele e após ele. Mas todos os que o buscaram, nutriram-se
de vida. Estava dentro dele, estava fora também. Ainda o é.
Não foi dado ao
homem compreender nem o ovo nem o Outro. Muito provavelmente por suas complexas
simplicidades que fogem à fome dos reles sapiens.
Estes últimos têm fome em demasia e, por tal, não contemplam o alimento: comem
com voracidade. Poucos oram antes de se alimentarem.
Que o ovo é isso ou
aquilo muito se diz; disseram sobre o Outro também. O ovo é rei sem majestade.
Questionam sua origem; se ele foi ou não o primeiro. Não importa! Ele não é
para que possa estar na boca de todos. Na casa de quem o busca.
Por sua eterna fome
no mundo o homem quebrou o ovo sem contemplar a sua essência. Definiram-no como
fonte proteica, sem entender sua transcendência geométrica – talvez cósmica – que
está descrita em sua própria forma.
Do mesmo modo
fizeram com o Outro: definiram sua humanidade, sem entender sua transcendência divina,
que estava escrita em suas atitudes e falas. Comeram o ovo; mataram o Outro.
Apesar do homem e
por causa dele, multiplicou-se o ovo, vive o Outro.
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