QUO USQUE TANDEM*
Humberto Ellery**
Desde ontem resolvi “mergulhar” na poesia de Bukowski, em busca de
um poema intitulado “Então Queres Ser Um Escritor”. Pretendo ler esse
poema hoje na nossa reunião da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo,
que acontece nas noites de terça-feira na Embaixada da Cachaça, Rua João
Brígido nº 1245 (em frente à Procuradoria Geral da República).
O poeta Charles Bukowski (quando aos três anos migrou com os pais,
da sua Alemanha natal para os EUA, teve seu nome “americanizado” para Henry
Charles Bukowski) era conhecido como “Velho Safado” (tradução livre para
Dirty Old Man) por causa de sua poesia, seus romances, afinal toda sua obra
literária ser marcadamente obscena, pornográfica, bem como por ser um
alcoólatra devasso, boêmio que fez da sarjeta seu habitat. Um “poeta
maldito”.
Por seu inegável talento foi tido por Jean-Paul Sartre como o maior
poeta da América, do que discordo. Mesmo admirando sua poesia, não vejo em sua
obra a dimensão poética de Ezra Pound ou T. S. Elliot (este, embora tenha
adotado a cidadania britânica, nasceu em St. Louis, Missouri). Aliás, esta não
é a única discordância minha com o autor de Le Diable et Le Bon Dieu.
Não se pode dizer que “navegar” na obra poética de Bukowski seja
uma experiência “agradável”, no sentido estrito dessa palavra, mas por ser
altamente provocador, sincero, e traduzir as mazelas de sua vida louca numa
linguagem coloquial e direta, nos faz encarar a sarjeta onde viveu de uma
maneira instigante e até natural. Por tudo isso inspirou os jovens rebeldes e
as gerações beat, estando presente em diversas músicas de bandas de
rock, como Guns N´Roses (“Nightrain”), U2 (“Dirty Day”), Red Hot Chili
Peppers (“Mellowship Slinky in B Major).
Uma frase sua, bastante provocativa, está martelando minha cabeça,
agora que já passei dos setenta: “Algumas pessoas nunca enlouquecem; que
vida horrível elas devem ter...” Pois é, até quando vou continuar escondendo
minha maluquez atrás de uma fingida e cansativa lucidez? Quo usque tandem???
*Quo usque tandem é uma frase latina que abre um dos quatro discursos de Cícero, proferidos no Senador Romano, as chamadas “Catilinárias”, em 63 a.C, que significa “Até quando?”. A Frase completa seria “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?” (Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?).
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