O FIM DE ANO
DO FIM DO MUNDO
Reginaldo Vasconcelos*
Temos vivido neste ano um período histórico
agitado, em todo o Planeta, com o surpreendente resultado do plebiscito que
decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit), a restauração dos laços diplomáticos com Cuba por Obama, a inesperada
eleição do caricato Donald Trump à presidência dos EUA, o acordo do Governo da
Colômbia com os guerrilheiros das Farc, a previsível, mas nunca esperada morte
de Fidel Castro, o subsecular ditador cubano aposentado.
No Brasil, o Presidente Temer luta para
aprovar medidas restritivas, a fim de controlar os gastos do Governo, e para
melhorar um ensino médio caquético, e os causadores da aguda crise nacional, apeados do poder,
reúnem um Exército de Brancaleone, armando uma cruzada contra todas as
mudanças, de forma reacionária, para se contrapor a tudo que é tentado em prol
da salvação geral, assim como no passado foram contra a promulgação constitucional. Debalde.
Se verificassem constatariam que não havia alunos estudiosos entre os que invadiram as escolas, açulados pelas esquerdas, porque estes estavam estudando para concorrer no ENEM, e que não há operário de escol entre os que protestam sob o rótulo de
“trabalhadores”, pois os realmente operosos não têm magoas do destino. Do mesmo modo, não há patriotas entre os políticos que atacam o Governo pela
via do “quanto pior, melhor”.
Não há trabalhadores
rurais laboriosos e produtivos entre os que se envolvem em protestos violentos, nem professores cultos entre os que dão
instruções ideológicas aos alunos, e tentam fazer política partidária com eles, até porque não há intelectuais genuínos
entre os fundamentalistas. É, portanto, a revolta do lodo.
Estados completamente falidos,
funcionalismo nas ruas reclamando salários, ex-presidentes da República sob
graves suspeitas, governadores indiciados e presos, os presidentes das duas Casas do Congresso multiprocessados, um
preso, o outro em vias de sê-lo, ambos réus da Justiça Federal. Enquanto isso,
hordas de heróis inúteis se colocam como rebeldes sem causa definida, agitando bandeiras
rotas e gastando pilhas nos megafones. Em vão.
Agora, ao se fechar o cerco da Operação
Lava Jato em torno dos políticos corruptos, notadamente quando a empreiteira
Odebrecht faz acordo de leniência e incrimina em torno de duzentas
“excelências” das legislaturas e administrações públicas mais recentes, o Parlamento entra em desespero para aprovar com urgência uma
lei que os proteja das tenazes da Justiça.
Nada feito. A casa caiu. A chamada “delação
do fim do mundo”, que será levada a cabo por 77 executivos da empreiteira, envolvendo
tanta gente dos poderes federais, é inexorável. De nada adiantará militantes
queimar pneus e quebrar vidraças, nem isolados Ministro do Supremo Tribunal
tentarem advogar a causa de alguns.
Restará aos envolvidos a palavra de
desalento que deixou gravada na torre de controle aéreo do aeroporto de
Medellín o desastrado piloto Quiroga, ao
perceber que morreria, e com ele os seus passageiros, por tentar aplicar a lei do
Gerson: Jesus!
NOTA
DO EDITOR:
“Aplicar
a Lei do Gerson” é uma expressão que designa o ato de procurar levar vantagem,
ainda que por meio aético ou ilícito.
A
origem do termo é um anúncio publicitário de uma marca de cigarros, do fim da década de 60, em que o jogador
de futebol Gerson de Oliveira Nunes aconselha a aquisição do produto, por ser melhor e mais
barato que os concorrentes. Portanto, em seu argumento, ele não estimula
nenhuma conduta indigna.
Mas,
sendo um atleta da Seleção Brasileira de Futebol, ao divulgar um hábito
insalubre foi castigado pela opinião pública, que passou a relacionar seu nome ao
vezo de contornar as normas para se locupletar, notadamente os políticos,
aplicando o famoso “jeitinho brasileiro”.
Ao que se tem apurado e divulgado, o inditoso aeronauta boliviano Miguel Quiroga, proprietário e piloto do avião que se acidentou com o time de futebol brasileiro da cidade de Chapecó, em Santa Catarina, matando mais de 70 pessoas, neste último dia 26 de novembro, visando fazer economia, não fez a recomendada escala de abastecimento e caiu nas montanhas da Colômbia, a poucos minutos do aeroporto de destino, por falta de combustível.
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