INFELIZ ANO VELHO
Reginaldo Vasconcelos*
Certamente
alguém nasceu, alguém se casou, alguém prosperou, alguém sorriu neste ano
fatídico que se encerra nestes dias. Mas, no geral, a quadra tem sido de depuração e
sofrimento. Pode-se dizer que foi um "ano funil", para o qual convergiu o desfecho dramático de processões malsãos que já estavam longamente em gestação.
O
Brasil vinha em aguda mas até então assintomática enfermidade, controlando
crônica doença moral com bálsamos sociais e com falsa propaganda, e de repente
entra em colapso e passa por grave cirurgia política. Entra em profunda crise administrativa e econômica.
Sofre a amputação de membros podres, a ablação de órgãos falidos, com a implantação de pernas de pau da pior cepa, à falta de madeira de lei, do melhor cedro ou mogno, no bosque humano de Brasília. Uma dolorosa intervenção para uma longa convalescença, uma cura difícil, incerta, imprevisível.
Santos
Dumont, por seu turno, que se teria angustiado com os primeiros bombardeios aéreos, tremeu no
túmulo, desta vez pelos desastres aviatórios dramáticos que ocorreram neste
ano.
Em patacoada cucaracha morre nas montanhas da Colômbia, em avião da Venezuela e piloto da Bolívia, um time de futebol brasileiro quase todo, e agora, quase todo um grupo vocal do exército russo, cavalgando um velho Tupolev, se precipita no oceano – para não falar nos helicópteros tantos que se acidentaram no Brasil.
O
Oriente Médio vira um pântano desumano e retorna à mais tacanha Idade Média, lançando
mão do mais perverso instrumental bélico moderno para trucidar populações civis,
para barbarizar inocentes, fazendo prova cabal da existência do demônio, para
quem ainda duvidasse do inferno sobre a Terra.
Decapitações
em massa em nome de Deus, destruição de monumentos históricos pelo
obscurantismo fanático, hordas de famílias escorraçadas, com mulheres e crianças feridas
e famélicas, em peregrinações bíblicas na direção da caridade dos povos e do
acolhimento das nações.
Na
Europa, gente que foi recebida e aceita nos países se volta contra os seus
benfeitores por motivação de ódio étnico, de intolerância religiosa, de fundamentalismo ideológico, matando
gente a granel com desarrazoada violência.
Por
fim, nos Estados Unidos, a eleição de um histrião ao trono mais poderoso do
Planeta, para repetir a história trágica do mundo de forma farsesca, reprisando
episódios em que o poder maior recaiu sobre Hitleres e Neros.
Aqui
no nosso microcosmo cearense dois grandes ícones da sociedade nos deixaram de
repente neste ano, Yolanda Queiroz e Ivens Dias Branco, capitães de empresas que
lideravam os dois grupos econômicos mais tradicionais e mais portentosos do
Estado, enlutando suas famílias e a nossa confraria, já que ambos eram nossos
Membros Beneméritos.
Pessoalmente, este ano me levou logo em janeiro o velho pai, produzindo para mim e os meus
uma das esquinas mais abruptas do destino.
Resta-nos
então fazer a indagação desesperada que fez a cantora americana Madonna, no
último dia 25, após a morte do seu colega e amigo, o artista sônico inglês George
Michael: “Será que 2016 não poderia
acabar logo?”.
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