domingo, 5 de abril de 2015

ARTIGO (DM)

O Gozo do Signo em Nuntia Morata,
de Vianney Mesquita
Dimas Macedo*

O gozo do signo é, talvez, o lugar mais alto para o qual aponta a ordem do discurso. Os caminhos da linguagem são intricados e, por qualquer atalho, terminamos sempre em um labirinto. O símbolo não liberta a linguagem do seu absoluto, pois, antes, ele a transforma em prisioneiro do mistério.

Dois planos de compreensão do mundo e do homem existem no campo da crítica literária: o prazer da leitura e sua reconstituição e utilidade, tendo-se na intuição e na sensibilidade do crítico seus elementos de maior alcance.

A crítica é o gênero mais elevado de todas as formas de criação. É poética no sentido aristotélico e nos usos que lhe foram dados pela invenção do ensaio e pela dialética com que os códigos literários foram reabertos na Idade Moderna.

O Poema, forma literária mais retrabalhada ou reconstituída no decurso da história, somente chegou até nós, acredito, porque intuiu a perspectiva de sua morfologia e da sua semântica, deixando para a Linguística seus elementos de ordem sociológica.

O exercício da crítica literária exige erudição e domínio do conhecimento de quem se aventura pela sua seara, por sua sedução prazerosa e pluralidade de sentidos. É defeso comparar-se a crítica aos comentários apressados e resenhas corriqueiras de jornais e revistas.

A produção da crítica exige do autor seu fervor analítico, a perspectiva socioliterária, sua visão de conjuntura e formação no campo da cultura artística, associada ao rigor do método.

Vianney Mesquita, o autor de Nuntia Morata, Fermento na Massa do Texto, O Termômetro de McLuhan e outros 12 trabalhos editoriais em livro - sem contabilizar dezenas de artigos em revistas científicas nacionais - é um dos melhores críticos literários que conheço.

Arquiteto a posteriori (aliás, título inteligente de um dos seus volumes) da criação literária e mestre nos domínios da correção da Língua e da Gramática, no Ceará, poucos a ele se igualam em erudição e humildade diante das estruturas do texto.

Hermeneuta da Literatura por imperativo da sua formação, o escritor palmaciano de Resgate de Ideias é um decifrador humorado do texto literário e do escrito científico que desvela, pois lhe não faltam argúcia e preparo para enfrentar os diversos códigos da Linguagem.

Postado como escritor, Vianney Mesquita prima pela correção gramatical, mas é sagaz com os recursos do seu golpe de vista, restaurando a precisão do método e a analogia filosófica e científica da escritura por ele examinada, na qualidade de copydesk experto de peças acadêmicas, demandado que é por consulentes de várias instituições universitárias do Brasil, Argentina, Paraguai e Portugal.

A sobreleitura do escrito literário, sociológico ou científico, por ele empreendida, está permeada de um fino lavor artesanal, revestida da melhor recepção e rematada pela estética da síntese e da claridade, e tanto mais escandida pelo gozo do signo e da pontuação.

De tal modo, Nuntia Morata (2014), sua nova coroa de ensaios, é a escansão melódica de seu estro, porque de música e de estilo primoroso são costuradas suas intenções e remarcadas suas entrelinhas. 

 Dimas Macedo*
Professor, Jurista, Jornalista, Poeta, Escritor
Da Academia Cearense de Letras

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