NEIDE AZEVEDO LOPES
E SEU SISTEMA DE AFETOS *
E SEU SISTEMA DE AFETOS *
Vianney Mesquita*
No momento em que cedemos aos AFETOS, a
Terra se metamorfoseia; já não há inverno nem noite, e tudo – tragédias, tédios
e deveres – desaparece. (Ralph Waldo Emerson. Y Boston-Mass.,
25.05.1803; †Concord-Mass., 27.04.1882).

A
Quadra Pascal ora vivida, a terminar do Dia de Pentecoste, é espiritualmente
propícia para se apreciar arte tão edificante, a fim de se teorizar e, em
especial, praticar metros e simpatias, como faz a autora de Teoria dos Afetos, desde que adquiriu
uso da razão, quando sua vida passou a coincidir com uma rima rica.
Neide
Azevedo Lopes fez-me evocar a saudosa poetisa piauiense Sônia Leal Freitas, no Cedro do
Éden, monumental obra por mim
comentada no texto das suas guarnições em 2002, a rogo seu, após lhe proceder à
revista textual e gramatical.


Senhor! Tu que ensinaste,
perdoa que eu ensine; que leve o nome de professora, que Tu levaste sobre a
Terra... (Oração da
Professora, G.M.).
Se me aparto de ti, Deus de
bondade,/ Que ausência tão cruel!/ Que me leva a um abismo tão terrível/ O
pendor infeliz da humanidade (M.A. Obras poéticas da Marquesa
de Alorna, 1844).
Pelo
fato de bem o saber, Neide Azevedo Lopes emprega, com propriedade, graça e
exatidão, os expedientes figurais admissíveis na poesia, aformoseando
superfluamente o encantamento de suas composições. E assim, tomada por um
enlevo anímico, veemência dos escolhidos, se achega ao Ressuscitado, para o
Qual também solicita o leitor a rezar, ao apreciar suas esmeradas produções.
Tal
como sucede com a saudosíssima poetisa Sônia Leal Freitas (Deus a tenha em Sua
glória!), sua originalidade e inspiração multíplice de elaborar
representações, conformando-as extraordinariamente à Dulcisonam et canoram Linguam Cano, parecem acercá-la de Florbela
Espanca (Flor Bela d’Alma da Conceição Espanca), em Alma da Conceição, Livro das Mágoas e Charneca em Flor.
A ave da noite rasga a tenda
do meu abrigo / e despeja um grito estreito, longo, a língua do punhal./
Caminho dentro dele um corredor comprido sem fim e sem saídas./ Invento a minha
fuga e salto dentro do vulcão medonho/ que me vomita em postas. (S.L.F.)
Saudades! Sim ... Talvez ... E
por que não? ... Se o sonho foi tão alto e forte./ Que pensara vê-lo até à
morte/ Deslumbrar-me de luz o coração! / Esquecer? Para quê? Ah, como é vão!
Que tudo isso, A ... (F.
ESPANCA).

Cantares Galegos
Adiós, rios, adiós fontes/
adiós, regatos pequenos (sic) /adiós, vista dos meus ollos:/ non sei cando nos
veremos.
Miña terra, miña terra/ terra
donde me eu criei/ hortiña que quero tanto/ Figueiriñas que prantei.
A
imortal NEIDE AZEVEDO LOPES, ex-presidente da Academia Cearense de Língua
Portuguesa, perfaz uma estrofe em estâncias de dez ictos do soneto
petrarquiano, a exornar a poética tematicamente múltipla, de estética
inimitável, beleza desigual, em proporção direita à magnificência de sua
adorável pessoa.
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