GEÓGRAFO CAIO LÓSSIO BOTELHO.
OITO PONTO DOIS
Vianney Mesquita*
Tinha Moisés cento e vinte anos quando morreu; jamais,
porém, a vista se lhe diminuiu, tampouco os dentes se lhe abalaram.
(DEUTERONÔMIO).
O
Ceará culto celebra, neste domingo, 19 de agosto de 2015, o octogésimo segundo
aniversário genetlíaco do professor, pesquisador e cientista das disciplinas
corológicas, Caio Lóssio Botelho, nato no Juazeiro do Norte, em 1933, conhecido
nacional e internacionalmente como estudioso do fenômeno nas secas no Nordeste
do Brasil, particularmente, no Ceará.
Além
de outras láureas acadêmicas, Dr. Botelho é graduado em
Geografia e História pela Faculdade Católica de Filosofia do Ceará (1956),
sendo detentor de vários títulos de pós-graduação, como o de Doutor em
Planejamento Regional e Geografia Integral. É bacharel em Administração Pública
pela Universidade Federal do Ceará e conta em seu ativo fixo mais de duas
dezenas de livros acerca da ciência de que cuida – a Geografia – e sub-ramos
afins, além de artigos em periódicos científicos nacionais. Por tal pretexto,
sua vasta produção é demandada como fonte idônea para linear pesquisas diversas
de Mestrado e Doutorado em todo o País e era procurado, constantemente, para
proferir palestras em encontros cujo leitmotiv
descansava na Ciência de Delgado
de Carvalho e suas ramificações.
Experimentei
a felicidade de ter sido seu escolar da disciplina Geografia, na antiga Escola
Industrial de Fortaleza, hoje IFCE, quando, pela vez primeira, usei de enxergar
a vinculação horizontal e dialógica dos diversos esgalhos do saber parcialmente
ordenado, sempre que C.L.B. trazia à colação, em suas substantivas aulas, as
precisas relações da Ciência de Karl Ritter com as mais diversas vertentes
disciplinares, da Filosofia e da Ciência.
Muito
me enleva, pois, evocar, na oportunidade do seu aniversário, haver a mim
ocorrido o lance de proceder, no ato de lançamento do seu livro A Filosofia e o Processo Evolutivo da
Geografia (1988) à apresentação
desse compêndio didático por excelência e que delineia, com alçada intensidade
de análise, as conexões e dependências do mais relevante saber corológico em
relação ao conhecimento das causas primeiras.
Eu
e ele – e isto relatei no meu recente trabalho intitulado Nuntia Morata (2014) – ambos como objetos, no entanto,
principalmente sujeitos – de lida buliçosa e até convulsa de uma urbe moderna,
usamos de ser intermitentes nas ligações culturais e profissionais. De quando
em vez, no entanto, por ofício ou contingência, surde o lance (como agora) de
sustentar conversas, concertar pareceres e consertar ideações, como também de
evocar tempos de fausto e indigência neste terreno sempre movediço de culto às
coisas do espírito.
Muito
me apraz, por conseguinte, lembrar, também, haver escrevinhado notas ao seu
livro Seca: visão dinâmica integrada e
correlações, tema no qual o Professor Doutor Caio Lóssio Botelho se fez
especialista inconcusso (já não escreve, pois porta a doença de Azheimer),
autoridade de referência terciária, hajam vistas o significativo volume de
consultantes que ele assistia, nomeadamente nos meios de propagação coletiva de
Fortaleza, os quais o procuravam para ratificar, retificar ou desafiançar
afirmações correntes a respeito de secas, desenredando controvérsias, na mesma
ocasião em que transferia, com clareza, para o receptor a vera dimensão dos
fatos, sem retirar os pés dos estribos da Ciência, a qual sempre dominou no seu
tempo de vida hígida.
De
tal sorte, representa para mim uma glória poder homenageá-lo na ocorrência dos
seus oitenta e dois anos de vida, em proveito das suas relações de amizade e em
prol da Ciência de Alexander von Humboldt, pois nobilitou a bibliografia
especializada no Ceará na fração de saber pinçada por ele para esquadrinhar.
Vou
sempre à sua casa da Oto de Alencar, pertinho do Liceu, para visitá-lo e
entregar revisões dos livros – muitos e excepcionais – de autoria da sua
mulher, Professora Maria José Rondon Régis Botelho, sua discípula, porém,
deseixada de qualquer subserviência intelectual, pois de verve e engenho ela é
detentora, tanto quanto ele.
Hoje,
eles recebem os amigos mais chegados para um almoço, quando terei o lance
abraçá-lo, efusivamente, pelo natalício, até porque, a julgar pela epígrafe
deuteronômica a respeito da idade do Patriarca Moisés, ele ainda possui um
crédito de nada menos do que trinta e oito anos.
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