domingo, 19 de abril de 2015

NOTA ANIVERSÁRIA (VM)


GEÓGRAFO CAIO LÓSSIO BOTELHO.
 OITO PONTO DOIS
 Vianney Mesquita*


Tinha Moisés cento e vinte anos quando morreu; jamais, porém, a vista se lhe diminuiu, tampouco os dentes se lhe abalaram. (DEUTERONÔMIO).


O Ceará culto celebra, neste domingo, 19 de agosto de 2015, o octogésimo segundo aniversário genetlíaco do professor, pesquisador e cientista das disciplinas corológicas, Caio Lóssio Botelho, nato no Juazeiro do Norte, em 1933, conhecido nacional e internacionalmente como estudioso do fenômeno nas secas no Nordeste do Brasil, particularmente, no Ceará.

Além de outras láureas acadêmicas, Dr. Botelho é graduado em Geografia e História pela Faculdade Católica de Filosofia do Ceará (1956), sendo detentor de vários títulos de pós-graduação, como o de Doutor em Planejamento Regional e Geografia Integral. É bacharel em Administração Pública pela Universidade Federal do Ceará e conta em seu ativo fixo mais de duas dezenas de livros acerca da ciência de que cuida – a Geografia – e sub-ramos afins, além de artigos em periódicos científicos nacionais. Por tal pretexto, sua vasta produção é demandada como fonte idônea para linear pesquisas diversas de Mestrado e Doutorado em todo o País e era procurado, constantemente, para proferir palestras em encontros cujo leitmotiv descansava na Ciência de Delgado de Carvalho e suas ramificações. 

Experimentei a felicidade de ter sido seu escolar da disciplina Geografia, na antiga Escola Industrial de Fortaleza, hoje IFCE, quando, pela vez primeira, usei de enxergar a vinculação horizontal e dialógica dos diversos esgalhos do saber parcialmente ordenado, sempre que C.L.B. trazia à colação, em suas substantivas aulas, as precisas relações da Ciência de Karl Ritter com as mais diversas vertentes disciplinares, da Filosofia e da Ciência.

Muito me enleva, pois, evocar, na oportunidade do seu aniversário, haver a mim ocorrido o lance de proceder, no ato de lançamento do seu livro A Filosofia e o Processo Evolutivo da Geografia (1988) à apresentação desse compêndio didático por excelência e que delineia, com alçada intensidade de análise, as conexões e dependências do mais relevante saber corológico em relação ao conhecimento das causas primeiras.

Eu e ele – e isto relatei no meu recente trabalho intitulado Nuntia Morata (2014) – ambos como objetos, no entanto, principalmente sujeitos – de lida buliçosa e até convulsa de uma urbe moderna, usamos de ser intermitentes nas ligações culturais e profissionais. De quando em vez, no entanto, por ofício ou contingência, surde o lance (como agora) de sustentar conversas, concertar pareceres e consertar ideações, como também de evocar tempos de fausto e indigência neste terreno sempre movediço de culto às coisas do espírito.

Muito me apraz, por conseguinte, lembrar, também, haver escrevinhado notas ao seu livro Seca: visão dinâmica integrada e correlações, tema no qual o Professor Doutor Caio Lóssio Botelho se fez especialista inconcusso (já não escreve, pois porta a doença de Azheimer), autoridade de referência terciária, hajam vistas o significativo volume de consultantes que ele assistia, nomeadamente nos meios de propagação coletiva de Fortaleza, os quais o procuravam para ratificar, retificar ou desafiançar afirmações correntes a respeito de secas, desenredando controvérsias, na mesma ocasião em que transferia, com clareza, para o receptor a vera dimensão dos fatos, sem retirar os pés dos estribos da Ciência, a qual sempre dominou no seu tempo de vida hígida.

De tal sorte, representa para mim uma glória poder homenageá-lo na ocorrência dos seus oitenta e dois anos de vida, em proveito das suas relações de amizade e em prol da Ciência de Alexander von Humboldt, pois nobilitou a bibliografia especializada no Ceará na fração de saber pinçada por ele para esquadrinhar.

Vou sempre à sua casa da Oto de Alencar, pertinho do Liceu, para visitá-lo e entregar revisões dos livros – muitos e excepcionais – de autoria da sua mulher, Professora Maria José Rondon Régis Botelho, sua discípula, porém, deseixada de qualquer subserviência intelectual, pois de verve e engenho ela é detentora, tanto quanto ele.

Hoje, eles recebem os amigos mais chegados para um almoço, quando terei o lance abraçá-lo, efusivamente, pelo natalício, até porque, a julgar pela epígrafe deuteronômica a respeito da idade do Patriarca Moisés, ele ainda possui um crédito de nada menos do que trinta e oito anos.

Abração, meu eterno professor CAIO LÓSSIO BOTELHO!


*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista 

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