O FILHO, A PÁTRIA, O
MUNDO
Reginaldo Vasconcelos*
O fundador histórico de cada uma das 40 cadeiras da ACLJ,
da qual ele inaugurou a titularidade vitalícia, teve a prerrogativa de indicar
o seu Patrono Perpétuo.
Isso confere a cada cadeira acadêmica numerada o valor
distinto e a personalidade especial de seu fundador e de seu paraninfo, com os quais todos os seus futuros titulares
vitalícios deverão guardar simetria filosófica, identidade ideológica, e,
principalmente, dimensão intelectual correspondente.
Gênero e genética dos titulares também tendem a influenciar
proposituras e eleições de futuros acadêmicos que lhes sucedam em suas
cadeiras. É natural. Uma academia literária tem sempre fortes compromissos com memória e tradição.
Aluísio Gurgel do Amaral, Patrono Perpétuo da Cadeira de nº 14,
foi um comunista ideológico e idealista, tanto que sendo um jovem morgado,
bacharel em Direito, herdeiro de posses, acalentava a utopia igualitária do
socialismo, tendo sido membro do PCB e dono de jornal de esquerda, chegando a ser condecorado
pelo governo soviético.
Precocemente falecido, na sua pureza de princípios ele não
chegou a perceber que o socialismo real jamais produziria o paraíso na terra, o
reino da virtude, da ética, da justiça, da paz social e da liberdade, em que
acreditava e por que aspirou tanto.
Pelo texto poético, libertário e edênico, que deixou, em papel almaço, relativo a Tiradentes, dedicado ao filho menino e
homônimo,
Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, nota-se claramente que ele não pertencia
à ala fisiológica dos marxistas.
Essa ala dos marxistas fisiológicos é composta por aqueles que, revoltados
com a condição social de sua origem, ou inconformados com a sua sorte pessoal, ou descrentes na sua própria evolução
econômica, elegem a pobreza como virtude e tomam toda riqueza como vício. Até que
eles mesmos consigam vencer na vida e ascender na escala social, quando então, na
prática, abandonam o ideário, geralmente conservando de forma meramente
intelectual o seu título de esquerdistas.
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