domingo, 16 de novembro de 2014

ARTIGO (RMR)


O PERFIL DOS GOVERNISTAS
Rui Martinho Rodrigues*

Há semelhanças e diferenças entre oposição e governistas. Desvinculação de programas governamentais, direção de cima para baixo sem alternância de líderes; contribuições de empresas; campanhas dispendiosas, dirigidas por especialistas em publicidade; envolvimento de quadros em escândalos; e falta de representatividade, sem embargo das votações obtidas, são aspectos comuns a governistas e oposicionistas. 

Ricardo Pessoa, chefe do
"clube de corruptores"
As diferenças começam pelo vínculo com o governo. Quem recebe doação de campanha estando na oposição difere de quem o faz encastelado no poder. 

Acrescente-se que o discurso de crítica às doações de campanha por parte de empresas é largamente praticado por governistas, em flagrante contradição. Ressalte-se que difere a condição de quem se ampara na caneta e no Diário oficial para pedir (ou exigir?) doações de empresários. A suspeita de corrupção passiva e de concussão incide com maior credibilidade sobre quem se encontra no poder.

Semelhança se encontra, ainda, na ética “situacional” ou “finalista”. O jogo bruto na política não é novidade deste governo. A tradição inescrupulosa, porém, era constrangida. Quando um correligionário era pego, os integrantes da agremiação partidária do político flagrado tendiam a expulsá-lo. O cinismo de quem adotava o slogan “rouba mas faz” era exceção. 

Dirceu, Genuíno e Delúbio
Governistas de hoje promovem os seus corruptos a heróis. Adota-se um novo lema: “rouba, mas faz política social”. Não pensam na sustentabilidade financeira de tais políticas, nem nos escrúpulos da “moral burguesa”. Um certo messianismo, de parte daqueles governistas que se julgam na posse de uma receita para resolver todos os problemas humanos, dá a sensação de legitimidade à torpeza, em nome de fins excelsos. Outros, desiludiram-se do messianismo revolucionário. Mas permaneceram apegados à visão da história como um festim dionisíaco, vendo no conflito o combustível da história.

Renato Duque e Paulo Roberto Costa
Conflito é guerra. Na guerra, no amor e na medicina vale tudo, diz o brocardo. Isso se expressa na conduta amoral. O “sistema é assim mesmo”: eis a lógica dos neocorruptos. Eles recusam-se a enxergar condutas honrosas na sociedade. Consideram que isso seja ingenuidade ou alienação.

Sérgio Machado e João Vaccari Neto
O aparelhamento do Estado, de parte dos governistas, difere da tradição. Lideranças tradicionais nomeavam parentes e eleitores. Hoje nomeiam-se operadores hábeis de transações irregulares. Mas o velho clientelismo segue paralelo ao novo aparelhamento. A fidelidade dos nomeados, hoje, tem uma participação maior da lealdade ao partido, ao invés da fidelidade pessoal ao chefe. Mas isso se restringe aos governistas de partido organicamente constituído, condição que não se verifica em toda a base aliada. 

Controle da mídia, “democracia direta”, destinada a “fortalecer a sociedade civil” (aparelhada e comandada), assimilação do Estado pelo partido e a tendência populista são mais alguns dos traços de governismo de hoje.

Eis o perfil heterogêneo do governismo.


*Rui Martinho Rodrigues
Professor – Advogado
Historiador - Cientista Político
Presidente da ACLJ
Titular de sua Cadeira de nº 10

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