VITÓRIA DE PIRRO III
Reginaldo Vasconcelos*
Reginaldo Vasconcelos*
Humberto e o filho Fernando |
Engenheiro Químico,
ex-oficial da Marinha, Ministro da Eucaristia, aparentemente se situa entre o
pragmatismo das ciências exatas, que tão bem ele domina, os rigores da
disciplina castrense, que já lhe vem no próprio sangue, filho e sobrinho de detentores de altas patentes militares, e a dogmática católica,
que impõe aos fieis rígidos antolhos fideístas. Qual nada, Ellery é
um humanista de escol, um filósofo refinado, um livre e eclético pensador, verdadeiro
polímata, que, como todo sábio, é um polemista vigoroso.
Quando escrevi e
postei o artigo “Vitória de Pirro” neste Blog, no dia 27 de outubro, quis
significar apenas que a campanha do PT à Presidência da República fora tão
difícil e desgastante que, ao fim e ao cabo, não terá valido a pena para Dilma Rousseff, que agora
está exposta a uma implacável oposição, submetida a indefensáveis acusações no
escândalo da Petrobrás, escravizada a mentiras toscas do marqueteiro e a promessas de
campanha que não vai poder cumprir. Não pretendi jamais compará-la ao Rei do
Épiro.
Por exemplo, quem diz
que entrou em determinado contexto como “Pilatos no Credo” não está se
atribuindo os presumidos méritos do prefeito da Judeia, nem a sua omissão culposa na condenação de Jesus
Cristo, que segundo se diz ele teria cometido. Quem usa desse recurso de
linguagem apenas remete analogicamente à desnecessidade do nome do pagão Pôncio
Pilatos constar da prece católica romana.
Aliás, coincidentemente,
também empregou a mesma expressão "Vitória de Pirro" em título de artigo, já no dia 28 de outubro, portanto após o meu, no Jornal O Globo, o jornalista Rodrigo Constantino, como também o ministro
demissionário Guido Mantega (e a verdadeira pronúncia é “Mantéga”), ao referir à
primeira derrota do Governo pós-eleições, que não conseguiu aprovar na Câmara o
decreto que pretendia criar os Conselhos Populares.
Mantega, sim, aplicou
o termo de forma equivocada, porque “Vitória de Pirro” indica uma vitória
frustrante, e não uma derrota provisória, como ele pretende, neste caso, o
Governo tenha tido, confiando seja ela revertida no Senado.
Quanto a mim, (como também no caso do Constantino), apenas
observei no meu artigo que Dilma Rousseff manteve o “trono”, ao obter a
reeleição, mas agora tem a espada de Dâmocles suspensa sobre si –
agora utilizando eu uma outra anedota histórica de cunho
moral, para indicar o alto preço do poder.
Dâmocles foi um
general do Rei Dionísio de Siracusa. Este, sempre muito preocupado com a
traição de seus próprios cortesões, suspeitando de que Dâmocles o invejava, um
dia lhe ofereceu sentar no trono, e depois lhe apontou uma afiada adaga que pendia
do teto sobre sua cabeça, sustida apenas por uma crina de cavalo.
Foi a forma que o rei
adotou para fazer ver ao seu maior êmulo os imensos riscos a que estão
constantemente expostos os que têm postos de mando, de modo que aos privilégios
reais correspondem responsabilidades enormes e perigos diuturnos.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
Reginaldo, o nome italiano é mesmo Mantéga? Bom o artigo, parabéns!
ResponderExcluir