segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CRÔNICA (WI)

PORTUGAL PARA PRINCIPIANTE

Wilson Ibiapina*

 Depois que Portugal começou a exibir programas da televisão brasileira, o português começou a se acostumar e até mesmo a usar expressões que nós falamos no Brasil. Assim mesmo, ainda é grande a diferença entre a língua falada nos dois países. Não é brincadeira: melhor mesmo é levar um interprete.

Os portugueses são literais, como a letra do texto. Um dia, Toninho Drummond e eu fomos ao Banco do Brasil. A agência ainda estava fechada. Batemos com o nó dos dedos. Um português abriu o vidro e nós perguntamos: 

– A que horas abre? 

E ele, com caro de espanto:

– Pois estou a abrir?

Num restaurante, depois que o garçom descreveu o bacalhau pedido pela Edilma, minha mulher, apontei o cardápio e perguntei:

– Como vem esse frango? 

– Esse frango não vem.
– Porque? – Por que eu é que trago.

Como se não bastasse esse jeito lusitano de não interpretar o que a gente fala, ainda existe o significado diferente das palavras. Telefone Celular lá é “Telemóvel”. E não atenda dizendo "alô" e sim "Está lá?".

Garçom lá não tem nome. Chame-o de senhor. “Rapaz", não. Pode achar que você está confundindo com um paneleiro, ou melhor, com um homossexual. Bicha lá é fila, sapatão é fufa e garoto é puto. 

Injeção é pica e bunda é cu mesmo. A palavra bunda veio da África sem passar por lá. Então, se ouvir, ”um puto tomando pica no cu”, não se espante. É apenas um menino tomando uma injeção na nádega.

Mulher menstruada “está com história”. Se entrar numa farmácia lembre-se de que absorvente feminino é “penso higiênico”. E se quiser aproveitar para comprar camisinha, o nome lá é “durex”. Se quer durex, peça fita-cola. 

Num café, peça uma bica com um paposeco, que lhe será servido um cafezinho com pãozinho francês. Lá chiclete é pastilha elástica. Nunca peça uma coca, mas sim uma cola. 

Quer ir ao sanitário, pergunte onde fica o salva-vidas. Se falar que quer um banheiro eles vão lhe apresentar um salva-vidas de praia. 

Dor de dente? Pergunte onde encontrar um estomatologista, que é como eles chamam o dentista.

Se você é um “marialva”, quer dizer, um mulherengo, nunca diga que está com tesão na cachopa e sim “com ponta”. E se vai convidá-la para se embebedar chame-a para enfrescar-se. 


Quer saber mais? Cego lá é “invisual”; professor particular é “explicador” e garis são almeidas. Calcinha feminina é cueca, peruca é “capachinho”. No avião, lembre-se de que a aeromoça é “hospedeira”, e que você vai “descolar” aqui e que, quando “aterrar” lá, vá logo dizendo: "Ora pois, cá estou".


*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ

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