segunda-feira, 17 de novembro de 2014

ARTIGO(PMA)

FUTEBOL JÁ FOI ARTE E BELEZA 

Paulo Maria de Aragão*

Um espetáculo deprimente tem sido o desenrolar dos jogos do campeonato brasileiro nos campos, marcados pela violência e lances dolosos, corroborados por árbitros apáticos e omissos. Assim, impera o lema “do pescoço para baixo tudo é canela”, além de outros “besteiróis” estimuladores do uso dos maus costumes.

Dentro e fora das praças esportivas, a violência acentua-se com a ação bestial das torcidas organizadas. Não mais se pode manifestar a paixão clubística em face do fanatismo imbecil. Na realização de um clássico, já se teme a barbárie - truculentos não se sabe se humanos ou bichos - fazem uso de porretes, armas brancas e de fogo. São estúpidos. E o que esperar do portador de uma bomba explosiva num jogo em que se concentram milhares de pessoas, inclusive crianças?

Nesse medonho teatro, o futebol é transformado em espetáculo de violência e vandalismo, contribuindo a impunidade, o horário das partidas, a precária mobilidade urbana, campeonatos de baixo nível e a inadequada segurança pública. Líderes de torcidas chegam ao requinte de anunciar os locais prévios das rixas pelas redes sociais, geralmente nas rotas dos estádios. Não há paz dentro ou fora dos estádios; em razão disso, as famílias deles se afastam.

Esse comportamento tem desencantado o futebol, outrora arte, cadência, entusiasmo e beleza. Hoje, perde o enlevo pelos shows de cotoveladas, pontapés, socos, cusparadas e outras agressões. Converte-se a arena num palco para extravasamento de complexos e frustrações. A agressividade e o baixo nível educacional manifestam-se na linguagem chula e rasteira.

A violência vai, desse modo, se banalizando. Torcedores e jogadores, cada um no seu espaço, agem com ferocidade. Esses últimos, a princípio, mutilam-se ou ficam inválidos, vítimas dos próprios “colegas de profissão” que confundem, na santa ignorância, vigor físico com selvageria. 

No entanto, certas condutas delituosas se resumem em meras expulsões. Após um lance “normal”, o jogador agredido pode até sofrer uma lesão cervical, ser levado ao estado de coma ou ir a óbito. Em tais casos, a lei processual não é indiferente: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”. Vale dizer que, em situações como essas, nada impede que se prenda o infrator, sendo certo que a medida provocaria no público a impressão mais eficiente de disciplina no futebol.

A finalidade primacial do jogo é o gol, jamais prostrar o adversário. O nosso esmaeceu ante a derrocada na Copa, politicagem na CBF e com os grandes clubes à beira da falência.No contexto, é incompreensível que se vendam jogadores para o exteriorpor milhões de dólares, paguem-se salários milionários a técnicos (professores), e, ao mesmo tempo, se devam milhões em tributos ao governo.


Em tempos passados, jogador suava a camisa, zagueiro estufava o peito e fazia o adversário tremer nas bases. Ir aos estádios não se limitava a assistir a clássicos regionais, mas também significava delirar com o festival de dribles desconcertantes, fintas, chapéus e toques rápidos e voleios, gols de bicicleta que deixavam estonteado o goleiro. Quanto ao atual futebol, algures se ouvia: mais frio que uma geladeira e mais implacável que uma máquina trituradora.


(*) Paulo Maria de Aragão 
Advogado e professor 
Membro do Conselho Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ

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