DILMA NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Reginaldo
Vasconcelos*
Preocupa-me pouco aonde ir – disse Alice.
Nesse
caso, pouco importa o caminho que sigas – replicou o gato”.
(Do
livro Alice no País das Maravilhas, de Charles Dodgson – Inglaterra - 1865)
Dilma Rousseff aparece no noticiário da TV marchando
pelas ruas de uma obscura cidade da Austrália, com o seu melhor andar marcial, um
muxoxo fixo no rosto virago, entre assessores que imitam os seus modos varonis,
e lança um aceno cheio de enfado e desprezo aos repórteres, para trás, por cima da cabeça.
No mesmo dia, no mesmo noticiário, o Brasil da
Dilma desmorona, com todos os aparelhos da UTI política soando alarmes, pois os
índices sociais e macroeconômicos, artificialmente maquiados durante a
campanha, agora se revelam tenebrosos: o dólar dispara, diminui o emprego, a
inflação cresce, cai a Bolsa de Valores, a miséria se amplia, o PIB é
diminuto, o combustível sobe de preço de repente.
A Presidente está no país dos cangurus e coalas para
representar o Brasil no G-20, e aparecer no grupo de países BRICS – composto por
dois gigantes comunistas redimidos, um velho faquir sábio e magro, um aventureiro europeu que se fixou na África, e este nosso país das maravilhas, grupo histórica, política e culturalmente tão heterogêneo que lembra o Exército de Brancaleone.
Este é um pais surreal em que o agronegócio
atinge recordes na produção de alimentos este ano, apesar da seca nacional, mas é perseguido pelos
ideólogos do Governo, que querem substituí-lo pelo minimalismo da agricultura
familiar. Um país que tem problemas logísticos para transportar a produção, mas
que investe fortunas em portos no estrangeiro em financiamentos "sigilosos"; um país democrático e pacifista que se
relaciona com ditaduras e gosta de dialogar com terroristas.
A Alice do livro seguiu um coelho falante e
entrou com ele no buraco onde coisas absurdas sucedem e figuras estranhas aparecem.
No caso da Dilma, analogicamente, esse coelho pode ser Lula da Silva, que consegue administrar um universo esquizofrênico em que a verdade é fictícia e a mentira se ufana de verídica.
E na toca do coelho os absurdos são diversos. Enquanto
o maior escândalo político e financeiro da história brasileira explode,
lançando fragmentos flamejantes em todas as direções, como nos filmes de ação,
o Ministro da Justiça, com a serenidade cínica de um Rambo Stallone, sai do
meio da poeira e da fumaça e vem a público dizer que não há crise no Governo.
“Calma
pessoal, que o leão é manso!”, parece dizer o Ministro Cardoso – como
naquela anedota em que o bicho se solta e as tábuas da arquibancada do circo
prendem os fundilhos de um inditoso espectador que sentara na sua junção, e
roga que todos se sentem de novo, os quais se levantaram em pânico para fugir
do animal, e sem o seu peso as pranchas do assento se alinham novamente.
Diz o Ministro que o Governo quer apurar a
fundo, e quer punir exemplarmente, "doa a quem doer"... Mas que não vai aceitar insinuações,
nem tolerar acusações indevidas contra os políticos, nem admitir que se dê conotação
política aos fatos tenebrosos que envolvem a Petrobrás. Eis o Chapeleiro Louco
que Alice encontra na cova fantástica do coelho falastrão. Dizendo que quer apurar a fundo, Cardoso se coloca para além do fundo, e quer que se puna a todos, "doa a quem doer", desde que essa dor não atinja o seu Governo, no seio do qual toda essa barafunda aconteceu, por anos a fio.
Mas os ratos já estão abandonando o navio,
ministro desconhecidos da Nação pedem o boné, e outros mais notórios se demitem
e saem atirando contra o Governo a que serviram.
Nas ruas, representando os 88 milhões de pessoas que não votaram na reeleição da Presidente, grupos de pessoas protestam em muitas das grandes Capitais, sem que a imprensa dê a devida cobertura, para não estimular mais passeatas.
Como se não bastasse, a auditoria externa que devassa a Petrobrás diz que não pode apresentar o balanço da empresa diante de sua desorganização contábil, exigindo inclusive a demissão de um diretor, que faz de contas que de espontânea vontade se demite. E o Governo diz que não tem nada a ver com isso.
Nas ruas, representando os 88 milhões de pessoas que não votaram na reeleição da Presidente, grupos de pessoas protestam em muitas das grandes Capitais, sem que a imprensa dê a devida cobertura, para não estimular mais passeatas.
Como se não bastasse, a auditoria externa que devassa a Petrobrás diz que não pode apresentar o balanço da empresa diante de sua desorganização contábil, exigindo inclusive a demissão de um diretor, que faz de contas que de espontânea vontade se demite. E o Governo diz que não tem nada a ver com isso.
Ora, agentes públicos indicados por políticos do
Governo e de sua base no Congresso, e doleiros oficiais, e empresários por eles
achacados em milhões, estão sendo presos a granel, e estão revelando o destino político-partidário
dos recursos desviados.
Os presos falam e continuarão falando,
produzindo uma bola de neve de prisões e delatores, em troca de leniência
penal, certamente visando não virar bois de piranha como o inditoso Marcos
Valério, que amarga 40 anos de prisão, enquanto os mentores políticos do
mensalão já estão esgravatando os dentes no conforto de seus lares.
Mas na toca do coelho há um gato de riso irônico que certamente espreita para rir por último no final – representado na vida real brasileira pela multifacetada oposição: a dos que dizem não pretender rupturas institucionais, e a dos que pregam o impeachment e até o golpe militar.
Mas na toca do coelho há um gato de riso irônico que certamente espreita para rir por último no final
Enquanto isso, a grande massa de militantes do
partido do Governo se esfalfa para pintar as flores brancas de vermelho, como
faz a guarda dos jardins reais em que Alice se depara no livro, temendo que a “Rainha
de Copas” lhes mande decapitar pela incúria. O livro fabuloso de Dodgson perde longe, em face da realidade brasileira!
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
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