DIMAS MACEDO, ESCRITOR
POLIMÁTICO E FECUNDO
Vianney Mesquita*
O espírito concebe doridamente, entretanto é com deleite que produz. (Joseph Joubert, escritor francês.
* Montignac, 7.5.1754; Villeneuve-sur-Yone, 4.5.1824).
Após duradoura quadra afluente de trabalhos revisionais em
protótipos de livros, teses de doutoramento, dissertações de mestrado e
escritos assemelhados, desde o imediatamente transato outubro e até a primeira
dezena do corrente novembro, tiro um dedo de tempo a fim de proceder a leituras
e escrevinhar coisas, muitas delas irrelevantes, das quais procedo à seleção
para futuro e possível aproveitamento.
Eis que agora, firo a leitura de A Letra e o Discurso – Ensaios e Perfis Literários, do magno
intelectual coestaduano, de Lavras da Mangabeira, Dimas Macedo (Fortaleza:
Edições UFC- 2014 – Coleção Diálogos Intempestivos), o qual me presenteou
excelso texto de batismo de meu derradeiro livro publicado, Nuntia Morata – Ensaios e Recensões
(Fortaleza: Expressão Gráfica, 2014), cujo lançamento festivo e bem prestigiado
aconteceu nos jardins da Reitoria da Universidade Federal do Ceará, em
Fortaleza, no dia 2 do há pouco mencionado outubro (2014).
Não é desta vez, porém, que deitarei comentários sobre este
qualificado conjunto de ensaios de crítica e referências a produtores
literários por Dimas Macedo glosados, mas me ocupo de proceder a lábeis
notícias a respeito desse Autor plural, e com um pouquinho de carga a maior em
outro rebento seu – A Metáfora do Sol –
Ensaios e Reflexões, em segunda edição e em releitura (Sobral: Edições UVA,
2003), apreciado, com decodificação mais apurada, depois de haver trabalhado
sua revisão há 11 anos, e do qual extraio a mor parte das inferências deste
artigo.
Evidentemente, não me cometo, por absolutamente descabido,
a tarefa de fazer conhecido este sobejante compositor literário, mestre da
poesia (oito livros), da crítica (sete edições) e do ensaio (nada menos do que
dez publicações), com 25 produtos no ativo imobilizado, há pouco aportado aos
58 anos (*14 de setembro de 1956), conforme indicação expressa no introito de A Letra
e o Discurso. Seria igual a pretender apresentar Jesus Cristo a Deus Pai.
Em A Respeito dos
Críticos, seção inserta na franquia do nosso Arquiteto a Posteriori (Fortaleza: Imprensa Universitária da
U.F.C., 2013), reporto-me aos reclamos feitos por Sérgio Milliet da Costa e
Silva, referindo-se aos zoilos mais invejosos e detratores, chamando-os de arquitetos ao depois, bem assim a
outros escritores internacionalmente acreditados, como, e.g., Henrique-Marie Beyle, festejado compositor de O Vermelho e o Negro (Stendhal).
Protestam-no, também, Goethe, Lichtenberg, Gladstone Chaves
de Melo, Lord Chesterton, José do Patrocínio, Nietzsche, Schopenhauer, Anatole
France, Cervantes e tantos e muitos em todo o Orbe, que já experimentaram do
chicote de referidas pessoas.
Gilberto Freyre, ao seu turno, queixava-se de que O crítico [...] ainda é o que abre um
romance ou um poema, à procura de pronomes mal colocados, de erros no infinito
pessoal, de falhas na metrificação. Mero guarda-civil da Ordem Gramatical.
Simples mata-mosquito da higiene do Português.
Outros também lastimam a rasoura violenta dos comentaristas
literários mais cáusticos, no entanto sem evocar a louvaminha de compadrio, de
encomenda e, às vezes, muitas vezes, até remunerada, dos criticastros de
ofício, douradores de pílulas sem nenhum efeito literocientífico positivo,
quando menos, condutoras de leitores desavisados ao porto inseguro do engano.
Há, pois, comentadores assim, a bem dizer, do alfa ao
ômega, do um ao quase infinito, do rigorismo empedernido ao laxismo
irresponsável, configurados nesses exemplos de desserviço à causa da
Literatura.
Ofício embaraçoso é,
sem dúvida, pois, formular juízo analítico acerca da obra de alguém, sem
carregar nas tintas do encômio nem descorá-las ex-vi do preconceito, da malquerença, da calosidade magoada alguma vez pelo criticado ou de
qualquer outro motivo intestino.
Na Arte de Escrever modernamente no Brasil, entretanto,
salvante aqueles negativamente aí enquadrados -- e que, aliás, não desaparecem
jamais – há os que, no estalão de Autor
de Ossos do Ofício (1992), da estirpe
dos excepcionais analistas brasileiros e de outros pagos lusófonos, comparecem,
não bissextamente (**), à cena do ensaio analítico, com isenção, sem
animosidade, profissionalissimamente postados, para examinar com
responsabilidade e conhecimento profundo trabalhos que lhes pareçam engrandecer
nossos haveres literários.
Conterrâneo de Linhares Filho, Josafá Linhares, Batista de
Lima, Joaryvar Macedo, Filgueiras Lima e mais de uma dezena de lavrenses
ilustrados (Lavras da Mangabeira-CE), Dimas Macedo está nesta aleia
qualificada, com produção multímoda no metro, ensaio científico –
particularmente no Direito, constitucionalista que é, celebrado no Brasil – e
na seara da análise literária, averso à compadrice e alérgico ao puxassaquismo,
feito um artífice literocientífico que ultrapassou o lugar comum e se
estabeleceu bem depois da communis opinio.
De efeito, o Ensaísta de Estudo de Direito e Constituição pontifica nas letras brasileiras
como um dos seus renomeados críticos, de leitura perspicaz, ao decodificar até
as intenções cifradas expressas por escritores de elocução mais difusa, de
estilos enredados, porquanto, para assim proceder, se prontificou em escolas de
qualidade inconcussa e nos desvãos da constância de suas incessantes empresas
librárias, nos diversos gêneros de seu cultivo.
Por esses múltiplos
pretextos, tanta honra aporta aos institutos dos quais é parte – Academia
Cearense de Letras, sodalício onde é dono de cátedra, Procuradoria Geral do
Estado do Ceará e Universidade Federal do Ceará, casa de saber plural, onde, na
condição de Docente-Livre – um dos títulos máximo de um professor universitário
- se devota à causa do ensino e da
pesquisa científica na senda da Ciência Jurídica.
Como é agradável poder-se expressar assim ... !
(**) No próximo segmento, o leitor poderá conferir detalhes
acerca da ideia de bissexto.
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