SÉRIE
DESLIZES DA ESCRITA
Impropriedades do Discurso
(3 de 4)
(3 de 4)
Por Vianney Mesquita*
A Ciência é o cemitério das ideias mortas. (UNAMUNO, Miguel – Bilbao, 20.09.1864; Salamanca, 31.12.1936).
Panaceia não é Deusa
Mestrando, achando pouco o número de
habitantes do Olimpo, resolveu criar outro. Depois de muito pesquisar em noites
insones, teve seu Eureka!
Inventou,
então, a “divindade” Panaceia, definindo-a como protetora dos doentes,
responsável pela cura de todos os males dos seus cultores.
A nova “deidade”, entretanto, não
possui registro em nenhuma mitologia.
Panaceia, conforme qualquer obra de
referência ou sítio da rede mundial de computadores, é remédio para todos os males,
preparado farmacêutico com propriedades gerais, e não uma diva mitológica.
Incrível, contudo, é o fato de que,
conquanto alertado a respeito desta inexatidão, o autor insistiu na defesa de
sua criação. Os membros da Banca não perceberam o equívoco. O escritor pretende,
no momento, publicar o ensaio sob a forma de livro, esperando-se que à correção
seja, então, procedida.
Lobo do Homem
Hobbes |
Hobbes, filósofo, matemático e
teórico político inglês (*Malmesbury, 05.04.1588; +Derbyshire, - UK,
04.12.1679), desenvolveu, com detalhes, esta ideia no O Leviatã (1651).
A sentença, entretanto, não é sua,
pois já registrada no Asinaria II, de
Tito Maccio Plauto (254 – 184. a. C). Os antigos já sabiam, pois, que o homem é
destruidor do próprio homem.
Enganos como esse são corriqueiros.
Em livro recentemente publicado, o escritor atribui a autoria da dicção romana homo faber à filósofa tedesca Hannah
Arendt (*Hanover, 14.10.1906; +Nova Iorque, 04.12.1975).
A expressão Homo faber procede de Henri Bergson, para designar o homem
primitivo posto na Natureza, mostrando ser preciso que ele próprio trabalhe
seus grosseiros utensílios, indispensáveis a sua manutenção (BERGSON, Henri –
*Paris, 18.10.1859; + 04.01.1941).
Camilo Castello Branco |
Graciliano Ramos |
Rádio e Radioatividade
Mestrando atribuiu, na versão
inicial de seu ensaio para defesa, a descoberta do rádio – meio de comunicação
– ao casal Pierre e Marie Currie. Ganhadores do Prêmio Nobel de Física em 1903
(com Antoine Henri Becquerel) e de Química (ela) em 1911, eles descobriram os
elementos químicos radioativos denominados rádio e polônio (CURRIE, Pierre -
*Paris, 15.09.1859;+ 19.04.1906; CURRIE, Marie - * Varsóvia, 07.11.1867; +
Passy – França, 04.07.1934; BECQUEREL, A. H. *Paris, 13.12.1852; + Le Croisic –
França, 25.08.1908).
A descoberta do rádio – meio de
comunicação – diversamente do que informa o ensaísta, decorreu da conjunção dos
esforços teóricos de Henrich Rudolph Hertz, James Clerk Maxwell, Michael
Faraday e Benjamim Franklin. Foi, porém, Guglielmo Marconi (Prêmio Nobel de
Física de 1909) quem realizou a primeira comunicação por telégrafo sem fio –
diz a História - entre França e Inglaterra, em 1899 (MARCONI, Guglielmo. *
Bolonha, 25.04.1874; +Roma, 20.07.1937).
Roberto Landell de Moura |
Santos Dumont |
Não demora lembrar, por oportuno, o
fato de que, em iguais circunstâncias, ocorreu com Santos Dumont (DUMONT,
Alberto Santos. (*Santos Dumont-MG, 20.07.1873; +Guarujá-SP, 23.07.1932) em
relação aos Irmãos Wright, no concernente ao enredo da aviação, e que o
telégrafo sem fio foi o precursor do rádio. (WRIGTH,
Orvile - *Dayton-Ohio, 19.08.1871; +30.01.1946; -WRIGTH, Wilbur - *Millville –
Indiana, 16.04.1867; Dayton, 30.05.1912).
*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ
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