EPIDEMIA
CONTAGIA A COPA
Por Paulo Maria de Aragão*
Lia-se num velho almanaque: “Um estudante de botânica, viajando pelo
interior, encontra um caboclo. Conversa daqui e dali, o camponês pergunta:
‘Vancê sabe o nome daquela árvore?’ O futuro botânico responde: ‘Sim, é um
ingazeiro’. O roceiro retruca: ‘Nós, qui, chama de árvore do governo’. Curioso,
indaga o rapaz: ‘Por quê?’. O capiau sacia a curiosidade do estudante: ‘Pode
repará, tem parasita inté nos úrtimo gaio’”.
Em verdade, pior do que a peste dos ingazeiros é a das corrupções
endêmicas e epidêmicas. No país surrealista, tudo é possível, exceto detê-las,
vicejantes desde a chegada de Cabral, sem que até hoje tenham sido descobertos
anticorpos para combatê-las. Confirmado o imaginário, “epidemiologistas” a
encarariam como um “caso de saúde pública”.
A revista “France Football”, parceira da FIFA na premiação da “Bola de
Ouro”, em sua última edição, com capa negra e o título ”O Medo do Mundial”,
pautou os rumos e os gastos excessivos do Brasil para sediar a Copa de 2014, a
qual é a que, não obstante dispor do maior tempo na história dos mundiais para
prepará-la, enfrenta mais atrasos. A publicação censura a corrupção
governamental, ao salientar que tudo se desenvolve na base da propina.
A reportagem faz ainda alusão comparativa ao custo do
Stade de France - 280 milhões de euros, o mais caro da França, inaugurado em 1988, para a Copa do Mundo daquele
ano. Reputa os gastos com o estádio francês vergonhosos quando
comparado ao do Olimpiastadium, sede da final da Copa da Alemanha em 2006, que
consumiu menos de 140 milhões de euros, e desdenha: para o Brasil não é nada;
cada estádio sai em média por mais de 1,5 bilhão de euros bancados com recursos
públicos; na França, o financiamento foi privado.
Retomado o imaginário da descoberta de anticorpos para combater a epidemia
disseminada pelos lobos corruptos, a vacinação seria a medida eficaz.
Infelizmente, não há vacinas para tais males. Na realidade, o que se vê é muito
alarido a cada escândalo, seguido do “trânsito pelo esquecimento”, estimulante
da cultura da impunidade.
Acaso, após o encerramento da Copa sejam apuradas as denúncias noticiadas pela mídia, o desfecho assemelhar-se-ia
ao de “O Processo de Kafka”: o investigado é absolvido e os investigadores
condenados por terem desafiado o sistema.
(*) Paulo Maria de Aragão
Advogado e Professor
Membro do Conselho
Estadual da OAB-CE
Titular da Cadeira nº 37 da ACLJ.
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