CANTORIA - MÚSICA E PALAVRA
Por Vianney Mesquita*
Revolvendo guardados editoriais, um dia desses, dei
com a obra intitulada “Cantoria – Música
e Palavra”, da autoria de Elba Braga Ramalho, docente da Universidade
Estadual do Ceará, na área de Música, defendida no recuado 1992, perante douta
banca na Universidade Federal do Ceará – Mestrado em Sociologia – da qual
procedi a nova leitura, 21 anos depois, com entendimento totalmente diverso
daquele que presidiu à primeira.
A Autora, nesse lapso, cresceu por demais nos seus
estudos, havendo publicado várias outras pesquisas, culminando com o escrito de
doutorado, programa acadêmico desenvolvido, salvante lapso de memória, no Reino
Unido.
O analista mais apressado, decerto, não hesitará, no
primeiro exame, em ter por bretoniano o pensamento de jungir a raízes da
Filosofia Estética uma das mais expressivas formas de manifestação artística
exercitada no Nordeste brasileiro – a cantoria
– cujo interesse principal é a união das ideias, servindo-se da música como
integrante acessória.
Ao insinuar-se mais profundo no raciocínio,
entretanto, miudeando as relações estreitas de várias disciplinas dos saberes
científico e filosófico, votará o crítico, seguramente, pela existência de um
liame consistente entre essas duas maneiras – distintas em grau – de expressão
da inteligência, de sorte a afastar, porquanto equívoca, a inferência
sobrerrealista inicial, à André Breton.
É o que evidencia, com sobeja clareza, simplicidade e
correção, a professora doutora Elba Braga Ramalho, ao invitar pensadores da
melhor estirpe e projeção internacional, com o propósito de embasar
teoricamente sua compreensão acerca da cantoria, a qual, comprovadamente, tem
por substrato pressupostos interdisciplinares de Filosofia, Arte e Estética,
sem jamais deixar de conceder valor à sabedoria popular, como uma das
procedências importante do saber "parcialmente centralizado".
Detentora de instrução esmerada, granjeada no decurso
de uma vida acadêmica admiravelmente rápida e consentaneamente escolhida, a
autora tomou seletas leituras, bem como fez anotações contingenciais,
apreendidas em universidades do Brasil, Alemanha, Reino Unido e outras nações
de preponderância na senda do alto conhecimento cultural, científico e
artístico, e cotejou essa matéria com as múltiplas visitas de campo, a fim de
conceder unidade e conferir conformidade à junção.
Desse trabalho de arquiteto de teorias e esteta da
forma, dimanou um escrito altivo em conteúdo e plástico em continente, porque
burilado sobre bloco estudadamente sólido e traçado sob atributos de língua,
estilo e ética, exigíveis da moderna manifestação didático-científica.
Comparte da chefia de uma família nuclear
magnificamente estruturada – o que dá azo ao equilíbrio - Elba Ramalho possui a
tranquilidade em si (e, caso a não tivesse, seria debalde buscar alhures, como
disse Madame Guibert), malgrado a ebulição das cidades, da "sociedade
do espetáculo" – consoante é divisado por Guy Débord - a fervura das
paixões e o agravo das interdições e ilicitudes. Por esta razão, é uma pessoa
feliz, investigadora de prestígio, estatuto já definitivamente legitimado neste
“Cantoria – Música e Palavra”.
Ao se demodular esse escrito da Autora, o entendimento é o de que a “Cantoria", cujo vigor da estese está em dose maior na poesia pela palavra, emoldurada pela música da viola, compreende um misto de sensação e de dependência ao raciocínio. Isto porque os cantadores praticam poemas com tinta de sentimento, mas empregam os mais variados expedientes do metro, estudados, debatidos e com classificação universal, em conteúdos que a sensação não pode dominar, daí por que é solicitado o concurso da ideia e da intelecção, as quais, por seu turno, não podem prescindir do sentimento.
Constato, pois, e com vero agrado, que o estudo “Cantoria – Música e Palavra” não perdeu absolutamente nada da sua atualidade, tampouco da propriedade dos seus conceitos, de sorte que sua reedição, aqui sugerida, a retirará da “etagére” a fim de se oferecer a novos leitores, os quais terão o ensejo de privar do contato com uma vertente séria, segura e veraz a respeito da “Cantoria” nordestina. Esta, conquanto inserta no “folk-lore”, é adida a procedências científicas, filosóficas e estéticas, com o aval de pensadores, por exemplo, como G.W.F. Hegel e Jürgen Habermas, fato a conceder peso axiológico a este tema de tanta preeminência.
Ao se demodular esse escrito da Autora, o entendimento é o de que a “Cantoria", cujo vigor da estese está em dose maior na poesia pela palavra, emoldurada pela música da viola, compreende um misto de sensação e de dependência ao raciocínio. Isto porque os cantadores praticam poemas com tinta de sentimento, mas empregam os mais variados expedientes do metro, estudados, debatidos e com classificação universal, em conteúdos que a sensação não pode dominar, daí por que é solicitado o concurso da ideia e da intelecção, as quais, por seu turno, não podem prescindir do sentimento.
Constato, pois, e com vero agrado, que o estudo “Cantoria – Música e Palavra” não perdeu absolutamente nada da sua atualidade, tampouco da propriedade dos seus conceitos, de sorte que sua reedição, aqui sugerida, a retirará da “etagére” a fim de se oferecer a novos leitores, os quais terão o ensejo de privar do contato com uma vertente séria, segura e veraz a respeito da “Cantoria” nordestina. Esta, conquanto inserta no “folk-lore”, é adida a procedências científicas, filosóficas e estéticas, com o aval de pensadores, por exemplo, como G.W.F. Hegel e Jürgen Habermas, fato a conceder peso axiológico a este tema de tanta preeminência.
*Vianney Mesquita
Professor da UFC
Escritor e Jornalista
Membro da Academia Cearense
da Língua Portuguesa
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ
Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ
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