domingo, 5 de agosto de 2012

ARENA CASTELÃO - ERRO DE HIPERURBANISMO


É inelutável, os idiomas vão sofrendo alterações ao longo de tempo, muitas vezes recebendo contribuições de outras línguas, alguns termos fazendo migração semântica, variando ou ampliando a sua acepção original.
            
Nem por isso podem os doutos deixar de oferecer resistência natural a esse processo, moderando e mapeando essas tergiversações linguísticas promovidas pelo povo, sob pena de que o código de comunicação do país perca suas referências e se empobreça, enfraquecendo a capacidade das pessoas de se entenderem, e de transmitirem suas ideias e seus sentimentos com clareza.

As línguas tendem a se tornar menos precisas, pela lei do menor esforço, e menos unívocas, por força dos regionalismos, terminando por dar origem a outras formas dialéticas e por fim morrendo, como aconteceu ao latim e ao grego antigo, por exemplo.


Dessas ditas “línguas mortas” derivaram todas as línguas românicas – o francês, o italiano, o espanhol, o português. Não fosse isso toda a Europa e toda a América Latina se entenderiam muito bem, sem precisar eleger o inglês como língua universal.

Em vista disso, os administradores públicos, por seu turno, devem procurar ser informados por gramáticos, e não por modismos populares e estrangeirismo descabidos, na hora de oficializar títulos e textos, para não contribuírem com o processo de degradação verbal, que embora inexorável precisa de contrafreios culturais que o moderem.

O idioma de um povo é um patrimônio nacional, portanto precisa ser protegido e zelado na medida do possível, para preservar a integridade etimológica, de modo a manter a máxima coerência com os seus falantes do passado e do futuro.

De repente o velho Estádio Castelão passou a ser tratado pelo governo, e indicado nas placas viárias, como “Arena Castelão”, certamente por iniciativa de algum agente público inculto, empenhado em imitar a gíria corrente para posar de modernoso.


Ora, a palavra “arena”, conforme o termo indica claramente, não é adequada para designar um campo de futebol, que se pratica na grama, mas apenas para referir a praças de esportes, jogos e espetáculos praticados sobre “areia”.


Em suma, arenas só se prestam ao hipismo, ao rodeio, à tourada, e mesmo ao circo, embora este costume forrar a terra com raspa de madeira, por motivo de higiene. É verdade que se tem adotado a expressão "teatro de arena" para especificar aqueles espaços cênicos de arquibancada circular, numa clara referência ao formato - e aqui não se tem um erro, mas um recurso de analogia explicativa.
 
Claro que os responsáveis por essa alteração no nome do Estádio Castelão estão se mirando e inspirando em outros, que vêm cometendo o mesmo erro mundo a fora, mas um erro não justifica outros. É o que se chama "erro de hiperurbanismo". Enfim, meu avô já dizia que “um besta sempre encontra um mais besta que o admira”.

Por Reginaldo Vasconcelos   

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