quinta-feira, 18 de março de 2021

ARTIGO - Os Maias (RV)

 OS MAIAS
OBRA PRIMA
DA
VÊNUS PLATINADA

 Reginaldo Vasconcelos*

 

Depois de engavetar “Os Maias” durante 20 anos, para ansiedade e queixa dos seletos admiradores da obra cinegráfica, neste momento de crepúsculo de audiência a Rede Globo coloca a série novamente à disposição do público, agora através da Globoplay – como se fosse o “canto do cisne” de sua teledramaturgia.

 

Os Maias é uma minissérie produzida pela Rede Globo, em parceria com a emissora portuguesa SIC, exibida originalmente na televisão brasileira aberta entre 09 de janeiro e 23 de março de 2001, em 44 capítulos, e reapresentada em TV por assinatura em 2012.

A série, não obstante a sofisticada produção, foi um fracasso de audiência naquela época, tendo em vista o baixo nível cultural do nosso povo, habituado aos folhetins mambembes das novelas atuais. Quem quiser fazer sucesso quantitativo nas artes brasileiras tem que descer ao baixo padrão de exigência qualitativa do povão.

A obra em referência foi adaptada por Maria Adelaide Amaral, em colaboração com Vincent Villari e João Emanuel Carneiro, e com direção geral de Luiz Fernando Carvalho, e contou com a direção de Emilio Di Biasi e Del Rangel. 

Tem seu enredo datado na segunda metade do Século XIX, durante a decadente aristocracia portuguesa. Foi gravada no Brasil e em Portugal, inspirada no romance homônimo de Eça de Queirós – mas, com a feliz inserção de personagens e tramas paralelas de dois outros romances do mesmo autor – “A Relíquia” e “A Capital”.

No elenco, nos papéis principais, Walmor Chagas, Ana Paula Arósio e Fábio Assunção. Também brilham Leonardo Vieira, Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Simone Spoladore, Marília Pêra, Paulo Betti, Osmar Prado, Eliane Giardini, Stênio Garcia e Eva Wilma. A minissérie tem a narração do texto de Eça de Queirós, na voz de Raul Cortez.

A oportunidade de apreciar esse trabalho, que rivaliza com as grandes películas hollywoodianas, é imperdível, para quem aprecie cinema e tenha interesse em literatura portuguesa  e detenha assinatura da referida plataforma digital de streaming de vídeos.

 

Recomendo, pois, para preencher os tédios da quarentena geral, assistir a essa estupenda minissérie – magnificamente desempenhada pelo estrelado elenco, num figurino de época primoroso, gravada com técnicas cinematográficas de fotografia delicada, em cenários deslumbrantes – com uma trilha sonora tão envolvente que um vizinho me telefonou encantado para indagar a que assistíamos.  

Ressalvo apenas que, embora louvável, o esforço dos atores em aplicar corretamente o português de Portugal antigo, teve um sofrível resultado – mesmo devidamente dispensados do acento lusitano característico, que costuma resultar caricato quando imitado por brasileiros.

Difícil para os nossos nacionais manter a correta conjugação na segunda pessoa do singular, em todos os tempos dos verbos, ao longo das falas – ora confundida com a forma do plural com um descabido “s” a mais (tu foste – vós fostes), ora entremeada com as conjugações da terceira pessoa, mais usual no Brasil, com “s” final a menos (você vai - tu vais).

Mas, obviamente, esse detalhe (que se resolveria com uma simples dublagem) não desdoura a obra, cujo tema central é o drama de duas gerações de uma rica família portuguesa, os Maias. Mas o fio condutor de todas as tramas, dentro de uma ambiência cênica envolvente (com impagáveis toques burlescos), são os amores impossíveis, o sexo voraz por sob o véu da religião e o pano da sociedade, o romantismo e a poesia, as paixões desatadas, umas correspondidas e realizadas, outras não, na maioria delas infelizes e frustradas – mas tudo convergindo para o happy end das novelas.

     

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