EMPODERAMENTO
Rui Martinho Rodrigues*
A palavra de ordem, hoje, é “empoderar”. Significa conceder ou conquistar poder para si ou para outrem, capacidade de dominar uma situação. Festejam o empoderamento, a conquista da capacidade de exercer domínio. Esquecem que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe de modo absoluto (John Emerich Edward Dalberg-Acton, 1834 – 1902).
Será a aquisição de poder legitimada por ter como sujeito do verbo grupos identitários ou alguma outra categoria social? Não. O domínio concedido ou conquistado por parcelas da sociedade é contrário a igualdade jurídica. Prejudica a integração social. Desagrega. Historicamente, cinco elites competem pelo poder: guerreira; sacerdotal; política; econômica; intelectual (Gaetano Mosca, 1858 – 1941). O domínio de uma delas sobre as demais leva ao totalitarismo. A democracia é competição entre poderes, sem o domínio de nenhum deles sobre os demais. Políticos subordinaram as demais elites nas trágicas experiências totalitárias do Século XX, subordinando ou eliminando as elites econômica; militar, vigiada por comissários políticos; intelectual; e sacerdotal, ambas submetidas ao poder da censura.
A grande mobilidade social, como no Brasil por quase todo o Século XX (José Pastore, 1935 – vivo, na obra “Mobilidade social no Brasil”), não afasta o favorecimento de parentes pelas elites momentâneas, o nepotismo e o clientelismo, como no tempo do coronelismo (André Heráclito Rego, 1968 – vivo, na obra “Família e coronelismo no Brasil: uma história do poder”), do qual permanecem alguns resíduos. O patrimonialismo remanescente no Brasil, estudado por Raymundo Faoro (1925 – 2003), na obra “Os donos do poder”, é outra via de expressão da “lei” de ferro da oligarquia.
A emancipação, melhor compreendida por Sigmund
Schlomo Freud (1856 – 1939), na obra “O mal-estar na civilização”, para quem a
convivência civilizada impõe limites aos desejos, requer normas de contrapoder,
como as da primeira e segunda geração de direitos (Norberto Bobbio, 1909 –
2004), em que os comandos vindos do poder central diziam aos súditos: “Não
mate, não roube (primeira geração)”. E os cidadãos diziam aos governantes: “Não
cobre tributos sem lei que o autorize, não condene sem o devido processo legal
(segunda geração)” opondo-se ao mais forte”. Contrapoder é proteção. O
emponderamento é feroz.
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