IDIOMA
MAJESTOSO
Pierre
Nadie*
Textos truncados. Frases confusas. Períodos desconexos. Concordâncias inexistentes. Palavras deturpadas. Um idioma majestoso perde a sua majestade.
Não, nunca perderá sua majestade. Em seus salões, haverá sempre sábios e bons dançarinos, ao sabor de uma boa música ritmada, ditos virtuosos e taças de vinho de boa cepa. Maus súditos, em vão, ousam lapidá-lo, porém terminam em caos babélico, onde a ignorância torna incompreensível o linguajar, cria distâncias e produz melodias que pode mexer o corpo, mas não nutre mentes, nem alegra espíritos.
Adentro no Lácio e deparo-me com uma orquídea negra, linda e rara flor, a última, a mais nova, a mais linda e mais perfumada de todas as que ornam salões, pátios e jardins.
Nosso idioma – o Português – é uma das mais lindas das línguas universais. Herdou a beleza do latim, mas não sua síntese. Serviu-se do grego, menos que sua vitória na Decápole.
A alma brasílica não pode ser destruída, ela é esteio de nossa unidade, voz de nossas produções, diálogo de nossas diversidades, riqueza de nossas criatividades. Memória do que temos sido, raiz de nossa identidade, como povo, como nação.
Com nosso idioma, nos comunicamos, nos dirigimos e dialogamos com o resto do mundo. Verbetes regionais não o enlameiam, estimulam-nos a nos compreendermos em nossas peculiaridades.
Lacaios de mediocridade vernacular espalham-se aos quatro cantos. Invadem universidades, templos, escolas, arte, literatura. Não é liberdade, não é modernidade. Usurpação de nossa unidade nacional, crime de lesa-pátria: destrói a “fraternidade” que nos irmana, aniquila o patriotismo, mergulha na ruptura gramatical e sintática, que torna textos híbridos e incompreensíveis, dando margem a interpretações, a gosto do freguês e de acordo com seu QI, que, sem conhecimentos, sem leitura e sem entendimento, tende a fazer-se idiota. E o idiota acha-se sábio e julga que o idiota é o outro, acha-se democrata e julga que o ditador é o outro, acha-se aberto e julga que fundamentalista, racista, nazista é o outro.
Nosso idioma somente é nosso idioma, na sua correição, cuja fonte original continua a alimentá-lo, mesmo em suas neologias. E nós, que cultuamos as boas letras e boas artes, não podemos nos referenciar por baixo, pela mediocridade, que está tomando conta do salão, como se a imbecilidade fosse padrão pujante da cultura da hipermodernidade.
Disruptura?
Não somos “maria-vai-com-as-outras”, não devemos compactuar com a destruição de nosso idioma, pois, daqui a pouco, ninguém vai conseguir mais se entender (o que já começa a acontecer) . Vamos estudar, estudar, estudar e escrever bem, bonito e escorreito, honrando nossa própria “soberania”. Somos amantes das letras, vamos zelar por elas!
Orações sem nexo confundem orações, mentes e
corações.
Inculturar não faz mal. Culturar incompetência e ignorância é mau-caratismo e desserviço à cultura, à ciência, à arte... à cidadania.
Ciência e cidadania fazem-se também com
idioma.
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