NÃO SOU PETISTA
Humberto Ellery*
Acusam-me de ser petista (ou “lulouco”), pelo simples fato de eu
não ser “bolsonático”. Para utilizar um termo eufemista, diria que o pensamento
“simplório” (o termo correto seria imbecil) divide o mundo político em somente
dois pilares, o Lula ou o Bolsonaro (isso não é maniqueísmo, é imbecilidade
mesmo).
Já disse uma vez que reduzir as opções políticas, ideológicas ou
doutrinárias a apenas duas vertentes, frente à miríade de opções à nossa
frente, seria como pintar o arco-íris de preto-e-branco.
Quero também deixar bem claro que até o advento do “mensalão” eu
achava que o Lula era honesto. Minhas discordâncias sempre foram com o PT. Não
tive propriamente uma decepção com o Lula, porque jamais esperei muita coisa do
seu desempenho.
Mas me impressiona a ojeriza que os ditadores, propriamente ditos, caso
do Getúlio Vargas, e os políticos ditatoriais, como o Bolsonaro, têm da
Imprensa. Seus apaixonados seguidores apelam à violência contra os
profissionais da Mídia, como se viu no último domingo na Praça dos Três Poderes,
em Brasília.
O Bolsonaro parece estar sonhando com um “golpe tipo 64” que o
entronizaria no Poder, conforme li em diversas faixas conduzidas pelos “bolsonáticos”
na manifestação do último domingo, fortemente apoiada pelo próprio.
Além de tudo é um tolo, pois se os Generais cederem à tentação de
dar um “replay” em 64 (do que eu duvido) não colocariam um capitão destrambelhado
no poder, colocariam lá um “quatro estrelas” sensato, equilibrado, inteligente,
quem sabe o Mourão. O que, dadas as circunstâncias, seria um avanço!
Voltando à era Vargas, lembrando apenas três escândalos ligados ao
Catete, tivemos o caso dos “empréstimos” do Banco do Brasil, o escândalo da
Cexim em Fortaleza (que deu até samba de carnaval) e o imbróglio do
jornal Última Hora, com o jornalista Samuel Wainer.
No item assassinato tivemos o Major Rubens Vaz, morto na tentativa
de matarem o Carlos Lacerda, a descoberta de todo o envolvimento do braço
direito de Vargas, o Gregório Fortunato, e a abertura pela Polícia dos seus
arquivos, que conduziu o Mar de Lama diretamente ao Gabinete Presidencial no
Catete (aliás, a expressão “mar de lama” foi criada pelo próprio ditador). Portanto, o jornal O Globo tinha razão: O Governo Vargas era
corrupto e assassino.
A propósito, recomendo a leitura do livro “A Cozinha Venenosa” da
jornalista brasileira (correspondente da Folha de São Paulo na Alemanha) Sílvia
Bittencourt. Depois de um intenso trabalho de pesquisa, a professora da
Universidade de Heidelberg publicou a luta destemida do jornal Münchener
Post contra o nazismo e, principalmente contra o Führer, que se
referia ao jornal como cozinha venenosa (tal como hoje o “Mito” se refere à Globolixo).
Concluindo, digo que faço críticas à Imprensa toda vez que vejo
erros, exageros e até mentiras, mas é sempre melhor conviver com o barulho de
uma imprensa que comete erros que o silêncio das ditaduras. Mesmo porque há a
Justiça para punir crimes contra a honra, as calúnias, as injúrias e as
difamações.
COMENTÁRIOS
Sinto-me contemplada com seu artigo de Humberto Ellery. Reduzir as
opções e ideias políticas a duas figuras é uma falta de visão incrível! Não sou
lulista nem bolsonática. Nunca gostei de extremos. Obrigada por escrever pelos
que são pensam com equilíbrio.
Karla Karenina
Karla Karenina
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O Brasil só tem a esquerda e a direita como ideologias partidárias –
e faz tempo que é assim. Na esquerda há nuances, com grupos de discurso mais
trabalhista, mais sindicalista, outros mais trotskistas, outros mais stalinistas.
Recentemente, todos seguindo a cartilha do italiano Antonio Gramsci.
Mas não temos um partido de direita comprometido com o
parlamentarismo, com o monarquismo, como o liberalismo econômico, com o catolicismo, com o nazismo que seja. Portando, não há
posta no cenário essa terceira via ideológica que o Ellery sonha defender. Lula foi
eleito sob a bandeira de moralizar a vida pública, contrapondo-se à velha
política, representada por caciques regionais encravados em Brasília.
Seria antípoda de Paulos Malufs, de Josés Sarneys, de Jaderes Barbalhos,
de Collores de Mello, de Renans Calheiros, de Romeros Jucás, de Eduardos Cunha,
de Eduardos Alves, de Antônios Carlos Magalhães, de Eunícios de Oliveira –
esses, dentre outros, os caciques da velha política brasileira que Lula
prometia destronar – e eu cheguei a pensar que ele iria tentar e ser esmagado,
porque essa turma é portentosa.
Mas Lula da Silva nem tentou. Pelo contrário, autoagnominado "Lulinha Paz e Amor", se associou a todos
eles, e quando cobrado pelas esquerdas de uma agenda mais marxista, mais agrorreformista,
mais revolucionária, ele mesmo alegou que faria as mudanças prometidas e esperadas, mas com calma, que
não podia “dar um cavalo de pau no Titanic”.
Então ele tentou se fortalecer junto a republiquetas ditatoriais das Américas e da África, pôs em prática uma política populista, paternalista,
anarquista, gramscista, para garantir o voto do povão, enquanto, por outro lado,
favorecia banqueiros e elegia os empresários considerados “campeões nacionais” (como os irmãos Batista da JBS, Eike Batista do Grupo EBX, pai e filho Odebrecht – entre outros), para a prática do capitalismo mais desvairado e mais selvagem.
Qualquer um dos políticos profissionais bem cacifados que fosse eleito à Presidência
da República nas últimas eleições ia fazer a mesma coisa, todos eles de alguma
maneira comprometidos com a política velha direitista, quando não com a esquerda
nova gramscista, que joga milho aos pombos da pobreza, enquanto se associa às
águias da corrupção e da roubalheira.
Aí as redes sociais elegeram o Bolsonaro, um sujeito meio doido,
meio destrambelhado, intimorato, de origem humilde, pobre de Jó, absolutamente franco e sem notícia de
desonestidades no currículo. Imbuído de patriotismo, falando em resgate da
família e em restauração dos preceitos cristãos tradicionais. Então, quem não está com ele,
está com o resto – sejam os lobos da velha política, sejam as raposas da
esquerda torta – tanto faz. Ellery não tem por que reclamar ao ser rotulado de petista.
Meu avô dizia que “pinto que
na água suja se cria, por ela pia”. A grande imprensa brasileira, constituída
por empresas concessionárias do Governo Federal, obviamente se sentiu ameaçada
com o rigorismo da doutrina bolsonária, e alguns veículos mais comprometidos com a legislação fiscal,
que já faziam campanha contra e apostavam na derrota eleitoral do "Mito", caiu em
desgraça com o Poder Central, teve cortes nas verbas da publicidade oficial, e passou a perseguir Bolsonaro frontalmente –
precisa ser um idiota desinformado para não perceber isso.
Um homem preparado e inteligente como Ellery entender que Bolsonaro
é autoritário e persegue a imprensa, quando é exatamente o contrário que
acontece, é um fenômeno que pode ser explicado pelo que Rui Martinho Rodrigues
chama “a cegueira dos paradigmas”. Um
autoritário não respeita hierarquia, não aceita conselhos, não reconhece os próprios erros, manda prender e arrebentar, manda
empastelar jornais, e não propala que se deve seguir a Constituição, como ele diz, e como ele cumpre.
Sou jornalista e sei que um órgão de imprensa não precisa mentir
para fazer mau jornalismo. Basta exagerar, selecionar e privilegiar as matérias contrárias, gastar minutos de horário nobre mostrando edifícios urbanos à noite sob a sonorização de "panelaços", só entrevistar opositores, omitir o que favoreceria, dizer as coisas com insistência, com malícia e virulência.
Gosto de exemplificar com o caso emblemático do escritor
pernambucano falecido José Mauro de Vasconcelos, que, na década de 60 escreveu
um livro banal, “Meu Pé de Laranja Lima”, que se tornou um best-seller – o que
irritou o meio intelectual inserido na imprensa. O livro era um sucesso de
vendas, e um fracasso de crítica.
Então, quando o escritor resolveu tentar uma segunda obra, que não
decolou, um jornal do Rio de Janeiro, sem dizer nenhuma mentira nem articular
nenhum impropério, nada que justificasse uma reprimenda judicial, publicou a
seguinte manchete em letras garrafais: “JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS ANDOU
ESCREVENDO DE NOVO”.
Por fim, quando os bolsonaristas mais exaltados pregam contra o
Supremo Tribunal Federal e contra o Congresso Brasileiro, fazem-no porque
acreditam que essas instituições da República se excedem no legítimo exercício
do poder, e dessa forma ferem a Constituição e conspurcam a democracia, ao
manobrarem para prejudicar um legítimo Presidente da República – segundo entendem – e a liberdade de expressão é um preceito de mão dupla.
Portanto, se as Forças Armadas se levantassem contra o status quo republicano, o fariam em nome
da constitucionalidade, como têm dito ser sua missão institucional, para restabelecer a lei e a ordem, e portanto teriam
que apoiar e manter o Presidente atual, democraticamente eleito por maioria de votos,
em eleições regulares e incontestes.
Reginaldo Vasconcelos
Caro Ellery, me sinto contemplada com seu artigo! Reduzir as opções e idéias políticas a duas figuras é uma falta de visão incrível! Não sou lulista nem bolsonática. Nunca gostei de extremos! Obrigada por escrever pelos que são pensam com equilíbrio!
ResponderExcluir*pelos que pensam com equilíbrio
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