A GRANDE TORMENTA
Rui Martinho Rodrigues*
Temos uma crise
sanitária, a economia mundial não vinha bem, e o impacto da pandemia nas
atividades econômicas é arrasador. A arrecadação dos governos cai e os gastos
públicos crescem. O mundo acordou para a dependência de bens industriais da China
e a globalização perde apoios.
O nacionalismo e o
protecionismo ganham força e a substituição de importações está sendo exumada,
algo semelhante ao mercantilismo, que reunia a busca de balança comercial
favorável, monopólios e protecionismo. O nacionalismo revigorado e o
protecionismo potencializam conflitos internacionais.
O rearranjo da
divisão internacional do trabalho levou a Índia a esforçar-se atualmente por atrair
mil empresas da China para o seu território. O Japão destinou bilhões de
dólares para ajudar empresas que queiram ser repatriadas.
O governo Trump já
estimulava essa política. A União Europeia cogita estabelecer barreiras contra
produtos chineses. Protecionismo lembra custos mais altos e a realocação de
fábricas exige investimentos, desviando-os de outros objetivos. Consumidor e contribuinte
pagarão a conta. Disputas comerciais agravam as relações e aprofundam a
dispendiosa corrida armentista.
Mortes, sistemas de
saúde colapsados, isolamento social por tempo incerto e novas ondas de
propagação do vírus exigem a intervenção do Leviatã. É preciso socorrer
autônomos, desempregados e empresas, investir em serviços de saúde e controlar
a mobilidade de pessoas. Tudo isso será temporários? Surgem suspeitas de que
haverá adiamento da vigência de tais medidas por tempo indeterminado. Os meios
de controle na era digital superam a ficção de George Orwell (Eric Arthur
Blair, 1903 – 1950), “1984”. A internet das coisas e a tecnologia 5G ensejam
controles inimagináveis.
O desequilíbrio de
forças entre os cidadãos e o Estado afasta a possibilidade de resistência aos Poderes
ilegítimos. A crença no Leviatã como agente da História para aperfeiçoar a
sociedade e o homem por meio de uma reengenharia social e antropológica, que
exige violência para ser imposta, tem os apoiadores de sempre, entusiasmados
com o controle crescente dos cidadãos pelo Poder Central, que imaginam poder
controlar.
Trata-se da herança
de Platão (428/427 – 348/347), (da “República”, apesar do arrependimento deste
autor, expresso na obra “As leis”, pouco divulgada); reforçado por Georg
Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), ideólogo do rei absolutista da Prússia;
e pelo entendimento da obra de Karl Heinch Marx (1818 – 1883), por Karl Raymond
Popper (1902 – 1994), que os três autores inimigos da sociedade aberta.
Perigos como
terrorismo, crime organizado e novas ondas da atual e de novas pandemias se
somam aos temores das décadas mais recentes sobre desequilíbrio ambiental, encorajando
os adeptos de mais controles.
A supressão da moeda
física começa a se tornar realidade, em nome da prevenção de agentes
infecciosos em cédulas contaminadas, para fins de controle do crime organizado
e do financiamento do terrorismo. Até o prosaico argumento da facilitação de
troco é desculpa para mais controles, inclusive os supranacionais.
O neocolonialismo se
insinua nestas discussões. O Grande irmão orwelliano é uma realidade, não uma
possibilidade. A complexidade do mundo, os cidadãos desnorteados e o bem
contido nas propostas de controle, dando aparente legitimidade ao totalitarismo,
se mostram muito fortes. Já se disse que nada acontece na política sem que
antes aconteça na literatura. Desde o Século XX a ficção só produziu distopias.
O momento é preocupante.
"O Grande irmão orwelliano é uma realidade, não uma possibilidade."
ResponderExcluirAnálise perfeita!
Parabéns doutor!