quarta-feira, 20 de novembro de 2019

ENTREVISTA - Artur Bruno (AS - RV)


ENTREVISTA 
COM

ARTUR BRUNO
SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE

SOBRE AS PRAIAS CEARENSES


Entrevista que o ex-Deputado Artur Bruno, atual Secretário do Meio Ambiente do Estado do Ceará,  concedeu à ACLJ, nas pessoas dos jornalistas Arnaldo Santos e Reginaldo Vasconcelos, a respeito do desastre ambiental provocado por misterioso derramamento de petróleo em alto mar, que poluiu praias do litoral brasileiro, mais gravemente no Nordeste. 


AS - De que forma o Ceará foi atingido, e quais as medidas que foram tomadas pela sua Secretaria para minimizar e reduzir no nosso Estado os efeitos desse crime ambiental?

AB – Primeiro é preciso ressaltar que houve realmente um crime ambiental, acidentalmente ou não, de qualquer maneira é um crime, pois se foi acidental, o fato de um navio não ter avisado às autoridades portuárias, isso, por si, já é crime – um crime culposo – mas é crime.

Houve um crime ambiental, lamentavelmente há aproximadamente dois meses e meio – apareceu exatamente em 30 de agosto a primeira mancha de óleo, e até hoje a Marinha não conseguiu descobrir a origem – há suspeita de um navio grego, ou de pelo menos quatro navios que em determinado momento passaram pela costa, ou entre a América do Sul e a África, mas não se sabe exatamente e não há provas em relação a nenhum navio.

De qualquer maneira, foi um grande prejuízo para as praias do Nordeste – e agora chegando também ao Espírito Santo.

É preciso ressaltar que os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, já estão se preparando para a possibilidade do óleo chegar lá, então há toda uma mobilização das autoridades federais, estaduais e municipais para fazer um trabalho de prevenção.

O Ceará, felizmente, foi um dos Estados menos atingidos. Dos nove Estados nordestinos, Ceará, Piauí e Maranhão foram os menos atingidos.

Mesmo assim, o Ceará tem 573 km de litoral. Nós temos 20 municípios no litoral cearense, e 14 municípios, de alguma maneira, receberam essas manchas de óleo – infinitamente menores do que em Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, por exemplo. Mas, de qualquer maneira, essas manchas prejudicam a nossa economia, as pessoas estão comendo menos peixes, crustáceos, com receio dessas manchas de óleo.

E também, de qualquer maneira, o turismo fica de sobreaviso, porque as pessoas que estavam pensando em passar o réveillon, o carnaval, elas começam a pensar se devem ou não vir para o Nordeste.

De qualquer maneira, no Ceará foi pouca mancha em relação à maioria dos Estados Nordestinos, e aqui a gente fez um combate imediato.

Nós criamos, ainda em setembro, um grupo de trabalho, com várias entidades – Ibama, Marinha, só do Governo do Estado são 10 entidades, com a participação também de pescadores, de ONGs, das Universidades, e o nosso primeiro trabalho foi fazer a limpeza, onde havia mancha nós nos unimos, a Marinha teve um papel decisivo, a gente junto com a Prefeitura fazia a limpeza.

Como também o atendimento aos animais oleados, tem duas ONGs – Verde Luz e Aquazes que fazem atendimento a esses animais, com apoio logístico de transporte da Sema, da Semace do Ibama. Isso também foi feito.

A partir de determinado momento, discutindo com a Marinha, com o Labomar e com o Ibama, nós, estudando os ventos e as correntes marítimas, percebemos que havia uma possibilidade muito grande de uma mancha vindo para o Ceará, ela poderia penetrar ali na foz do Jaguaribe.

Foi quando nós tomamos a decisão de contratar uma empresa para colocar ali barreiras, com mantas de até quatro metros e embaixo correntes, para justamente, se a mancha vier, ela não entrar, porque essa manta seguraria, e essas correntes com um peso embaixo... isso daria condição..

RV – Não entendi essa preocupação com a foz. Na foz o rio não está desaguando?

AB – Mas, dependendo da maré, ele entra e sai. Atingiria o mangue, uma região de muitos crustáceos, de muita pesca, gerando até um problema de abastecimento, porque essa mancha entraria até onde? E ela tem um problema porque ela se desloca não pela superfície. Ela se desloca a meio metro, a um metro de profundidade, ela é densa, ela é pesada, é petróleo mesmo.

E, portanto, nós fizemos lá esse bloqueio, uma técnica utilizada em Brumadinho, e está dando certo. Tem uma equipe lá 24 horas com barco, com gente, fazendo essa trabalho de monitoramento.

E aí também nós passamos a trabalhar com um navio-patrulha da Marinha, que faz essa fiscalização no mar, esse monitoramento, o Ciopaer do Estado, todos os dias o helicóptero vai e volta nesse litoral, e a Marinha está fazendo esse monitoramento por terra, nos 573 km.

Então, de certa forma, aqui houve uma grande integração das entidades, e agora nós vamos fazer com a Semace, com o Nutec e com o Labomar um estudo mais bem elaborado sobre a balneabilidade, porque a Semace toda semana anuncia a balneabilidade, mas ela analisa as questão dos coliformes fecais. Não se analisava a questão físico-química, a questão da toxidade, e agora também votamos no Coema – Conselho Estadual de Meio Ambiente uma resolução definindo os parâmetros para essa análise toxicológica.

O que a gente quer? A gente quer mostrar para as pessoas que vão vir ao Ceará, e para os próprios cearenses que querem ir à praia se essa praia é segura ou não. Nós estamos acreditando que seja, porque a poluição aqui foi muito pouca, em relação aos outros Estados. Mas a gente precisa mostrar à população a segurança, com transparência, de que essa água é balneável. E não vamos analisar somente a água, mas também a areia, porque a areia pode ter óleo, e isso significaria contaminada para a população.

AS – As melhores praias do Ceará estão aqui nestas praias mais próximas, e algumas mais distantes. O Município de Amontada tem praias muito famosas, como Icaraizinho, Caetanos, e essas praias também tiveram presença da mancha de óleo. Com que intensidade isso ocorreu lá?

AB  A mancha no Município de Amontada foi mínima. Dos 14 municípios onde a mancha chegou, esse foi dos que não chegou a criar alguma situação de poluição. Foi mínima. Icaraizinho foi muito pouco, Caetanos alguma coisa, mas muito pouco mesmo, e imediatamente a população se mobilizou, juntamente com o Poder Público Municipal, com apoio da Marinha e da Sema e da Semace, e isso rapidamente foi solucionado. Então chegou em determinado momento, depois não chegou mais, e é,  sem dúvida, um dos municípios onde houve menos problema de mancha de óleo nesses últimos dois meses e meio.

AS – E no turismo? Teve algum reflexo, alguma repercussão? O seu colega Secretário Arialdo Pinho lhe relatou alguma diminuição no fluxo esperado nesse período no Ceará, ou não, e o rebatimento foi mínimo?

AB – Nós tivemos agora um bom teste, que foi o feriadão do 15 de novembro, sexta, sábado e domingo, e houve um aumento da busca de turismo pelo Ceará, em relação ao ano anterior – mas é verdade também que essas passagens já poderiam ter sido compradas anteriormente, os pacotes feitos, e tal. Na semana passada houve uma reunião dos Secretários de Turismo do Nordeste, aqui em Fortaleza, capitaneada pelo Secretário Arialdo Pinho, e há uma expectativa, é preciso que a população fique tranquila, e ela saiba de que aonde chegar a mancha as autoridades vão tomar as melhores medidas, tanto preventivas como corretivas, para que efetivamente isso não nos prejudique consideravelmente. Claro que há um temor, a população está observando, acompanhando os meios de comunicação. Hoje, por exemplo, todas as praias do Ceará estão limpas.

RV – E o nosso pescado, está liberado?

AB – O Ministério da Agricultura, recentemente fez uma portaria declarando que esse pescado não continha o óleo. Outros estudos estão sendo feitos, mas por enquanto não houve ainda prova de que houve algum prejuízo para o nosso pescado.  

ACIONE O LINK ABAIXO E OUÇA O ÁUDIO DA ENTREVISTA




Nenhum comentário:

Postar um comentário