ENTREVISTA
COM
COM
ARTUR BRUNO
SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE
SOBRE AS PRAIAS CEARENSES
SOBRE AS PRAIAS CEARENSES
Entrevista que o ex-Deputado Artur Bruno, atual Secretário do Meio Ambiente do Estado do Ceará, concedeu à ACLJ, nas pessoas dos jornalistas
Arnaldo Santos e Reginaldo Vasconcelos, a respeito do desastre ambiental
provocado por misterioso derramamento de petróleo em alto mar, que poluiu praias do litoral brasileiro, mais gravemente
no Nordeste.
AS - De que forma o Ceará foi atingido, e quais as medidas que foram tomadas pela sua Secretaria para minimizar e reduzir no nosso Estado os efeitos desse crime ambiental?
AS - De que forma o Ceará foi atingido, e quais as medidas que foram tomadas pela sua Secretaria para minimizar e reduzir no nosso Estado os efeitos desse crime ambiental?
AB – Primeiro é preciso
ressaltar que houve realmente um crime ambiental, acidentalmente ou não, de
qualquer maneira é um crime, pois se foi acidental, o fato de um navio não ter
avisado às autoridades portuárias, isso, por si, já é crime – um crime culposo –
mas é crime.
Houve um crime ambiental,
lamentavelmente há aproximadamente dois meses e meio – apareceu exatamente em
30 de agosto a primeira mancha de óleo, e até hoje a Marinha não conseguiu
descobrir a origem – há suspeita de um navio grego, ou de pelo menos quatro
navios que em determinado momento passaram pela costa, ou entre a América do
Sul e a África, mas não se sabe exatamente e não há provas em relação a nenhum
navio.
De qualquer maneira, foi um
grande prejuízo para as praias do Nordeste – e agora chegando também ao
Espírito Santo.
É preciso ressaltar que os
Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, já estão se
preparando para a possibilidade do óleo chegar lá, então há toda uma
mobilização das autoridades federais, estaduais e municipais para fazer um
trabalho de prevenção.
O Ceará, felizmente, foi um
dos Estados menos atingidos. Dos nove Estados nordestinos, Ceará, Piauí e
Maranhão foram os menos atingidos.
Mesmo assim, o Ceará tem 573
km de litoral. Nós temos 20 municípios no litoral cearense, e 14 municípios, de
alguma maneira, receberam essas manchas de óleo – infinitamente menores do que
em Pernambuco, Bahia, Sergipe e Alagoas, por exemplo. Mas, de qualquer maneira,
essas manchas prejudicam a nossa economia, as pessoas estão comendo menos
peixes, crustáceos, com receio dessas manchas de óleo.
E também, de qualquer maneira,
o turismo fica de sobreaviso, porque as pessoas que estavam pensando em passar
o réveillon, o carnaval, elas começam a pensar se devem ou não vir para o
Nordeste.
De qualquer maneira, no Ceará
foi pouca mancha em relação à maioria dos Estados Nordestinos, e aqui a gente
fez um combate imediato.
Nós criamos, ainda em setembro,
um grupo de trabalho, com várias entidades – Ibama, Marinha, só do Governo do
Estado são 10 entidades, com a participação também de pescadores, de ONGs, das
Universidades, e o nosso primeiro trabalho foi fazer a limpeza, onde havia
mancha nós nos unimos, a Marinha teve um papel decisivo, a gente junto com a
Prefeitura fazia a limpeza.
Como também o atendimento aos
animais oleados, tem duas ONGs – Verde Luz e Aquazes que fazem atendimento a
esses animais, com apoio logístico de transporte da Sema, da Semace do Ibama.
Isso também foi feito.
A partir de determinado
momento, discutindo com a Marinha, com o Labomar e com o Ibama, nós, estudando
os ventos e as correntes marítimas, percebemos que havia uma possibilidade
muito grande de uma mancha vindo para o Ceará, ela poderia penetrar ali na foz
do Jaguaribe.
Foi quando nós tomamos a
decisão de contratar uma empresa para colocar ali barreiras, com mantas de até
quatro metros e embaixo correntes, para justamente, se a mancha vier, ela não
entrar, porque essa manta seguraria, e essas correntes com um peso embaixo... isso
daria condição..
RV – Não entendi essa
preocupação com a foz. Na foz o rio não está desaguando?
AB – Mas, dependendo da maré,
ele entra e sai. Atingiria o mangue, uma região de muitos crustáceos, de muita
pesca, gerando até um problema de abastecimento, porque essa mancha entraria
até onde? E ela tem um problema porque ela se desloca não pela superfície. Ela
se desloca a meio metro, a um metro de profundidade, ela é densa, ela é pesada,
é petróleo mesmo.
E, portanto, nós fizemos lá
esse bloqueio, uma técnica utilizada em Brumadinho, e está dando certo. Tem uma
equipe lá 24 horas com barco, com gente, fazendo essa trabalho de
monitoramento.
E aí também nós passamos a
trabalhar com um navio-patrulha da Marinha, que faz essa fiscalização no mar,
esse monitoramento, o Ciopaer do Estado, todos os dias o helicóptero vai e
volta nesse litoral, e a Marinha está fazendo esse monitoramento por terra, nos
573 km.
Então, de certa forma, aqui
houve uma grande integração das entidades, e agora nós vamos fazer com a
Semace, com o Nutec e com o Labomar um estudo mais bem elaborado sobre a
balneabilidade, porque a Semace toda semana anuncia a balneabilidade, mas ela analisa
as questão dos coliformes fecais. Não se analisava a questão físico-química, a
questão da toxidade, e agora também votamos no Coema – Conselho Estadual de
Meio Ambiente uma resolução definindo os parâmetros para essa análise
toxicológica.
O que a gente quer? A gente
quer mostrar para as pessoas que vão vir ao Ceará, e para os próprios cearenses
que querem ir à praia se essa praia é segura ou não. Nós estamos acreditando
que seja, porque a poluição aqui foi muito pouca, em relação aos outros
Estados. Mas a gente precisa mostrar à população a segurança, com transparência,
de que essa água é balneável. E não vamos analisar somente a água, mas também a
areia, porque a areia pode ter óleo, e isso significaria contaminada para a
população.
AS – As melhores praias do
Ceará estão aqui nestas praias mais próximas, e algumas mais distantes. O
Município de Amontada tem praias muito famosas, como Icaraizinho, Caetanos, e
essas praias também tiveram presença da mancha de óleo. Com que intensidade
isso ocorreu lá?
AB – A mancha no Município de
Amontada foi mínima. Dos 14 municípios onde a mancha chegou, esse foi dos que
não chegou a criar alguma situação de poluição. Foi mínima. Icaraizinho foi
muito pouco, Caetanos alguma coisa, mas muito pouco mesmo, e imediatamente a
população se mobilizou, juntamente com o Poder Público Municipal, com apoio da
Marinha e da Sema e da Semace, e isso rapidamente foi solucionado. Então chegou
em determinado momento, depois não chegou mais, e é, sem dúvida, um dos municípios onde houve menos
problema de mancha de óleo nesses últimos dois meses e meio.
AS – E no turismo? Teve algum
reflexo, alguma repercussão? O seu colega Secretário Arialdo Pinho lhe relatou
alguma diminuição no fluxo esperado nesse período no Ceará, ou não, e o rebatimento
foi mínimo?
AB – Nós tivemos agora um bom
teste, que foi o feriadão do 15 de novembro, sexta, sábado e domingo, e houve
um aumento da busca de turismo pelo Ceará, em relação ao ano anterior – mas é
verdade também que essas passagens já poderiam ter sido compradas anteriormente,
os pacotes feitos, e tal. Na semana passada houve uma reunião dos Secretários
de Turismo do Nordeste, aqui em Fortaleza, capitaneada pelo Secretário Arialdo
Pinho, e há uma expectativa, é preciso que a população fique tranquila, e ela
saiba de que aonde chegar a mancha as autoridades vão tomar as melhores medidas,
tanto preventivas como corretivas, para que efetivamente isso não nos
prejudique consideravelmente. Claro que há um temor, a população está observando,
acompanhando os meios de comunicação. Hoje, por exemplo, todas as praias do
Ceará estão limpas.
RV – E o nosso pescado, está liberado?
AB – O Ministério da Agricultura,
recentemente fez uma portaria declarando que esse pescado não continha o óleo.
Outros estudos estão sendo feitos, mas por enquanto não houve ainda prova de
que houve algum prejuízo para o nosso pescado.
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