VOZES ALHEIAS
Edmar Santos*
Vozes,
essas vozes que não são minhas e que não calam. Impositoras de minhas condutas;
não quero, não vou. Fiz... sim, para minha angustia infinda; não resisti.
O
que fiz? Não sei. Não sei também a medida do que fiz, sua intensidade, sua amplitude.
Nada, não fiz nada; as vozes, foram elas. Eu as escuto, agora mesmo estão
falando. Sussurros!
Noites
insones. Imagens, formas, cores, gente; inteiros, pedaços, geometria. Olhos que
veem múltiplas coisas, coisa nenhuma de se admirar. Mentiras, ou talvez
verdades. Diz para mim!
Não,
ninguém sabe. Quem vai saber o que eu... Mas não sou eu, são elas! Escute...
Não me entende não é? Sei, eu sei.
Estou
calmo. Elas disseram para eu me acalmar; querem que eu lhe diga algo: “Estão
aqui e são reais. Estão dentro da minha cabeça. São coisas da minha cabeça.”
Hahaha!
Outro
dia até pensei que estava louco. Não me acho louco; penso que sou normal até
demais. O que há de mau em ouvir vozes.
Tudo, não é? Sim, tudo porque elas estão no controle de mim. Estou louco então.
Preciso
de água. Pode me servir água? Deixe o copo aí onde coloquei; sempre coloco o
copo a essa distância. Não importa, apenas prefiro que ele fique aí. Sede, é
bom ter sede; tão bom quanto saciá-la, não acha? Isso importa, claro que sim.
Fumar,
não fumo. Álcool é bom para fazê-las cantar; essas vozes ébrias e cantadoras, é
o que são. Que música? Muitas... Estrangeiras; não sei traduzir nenhuma. Curto
o ritmo meio balada, meio zen. O som? Paran, paran, paraaann... Lento, meio
lento.
Prefiro
a vigília. É sempre mais tranquilo estar acordado. Saio por aí, vejo gente,
olho os lugares. A noite é feita para que andemos vagando sem rumo; tem sempre
muita sombra pela noite. Se olho para o céu? Não, prefiro as esquinas.
Normal,
me sinto bem normal. Acho mesmo que estou me acostumando a ouvir essas vozes
como sendo minhas. Estou ouvindo as suas agora. Isso é normal?
NOTA DO EDITOR
A
História está repleta de nomes famosos que ouviam vozes: Jesus, Sócrates,
Galileu, Joana D´Arc, Pitágoras, William Blake, Carl Jung e Ghandi.
Excelênte texto! Parabéns!
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