quinta-feira, 21 de novembro de 2019

CRÔNICA - O Negro Disse (ES)


O NEGRO DISSE
Edmar Santos*

Tiveram que pintar o invisível e dar-lhe uma cor. Qual a cor do grito, do choro, da dor, da tristeza, do banzo?  Tudo isso tem uma cor-não-cor. 

A identidade pintaram também; inventam de tudo para separar coisas de um só nome  e de tipos variados. Gente é tudo igual, não fossem os adjetivos; há uns lhes dão sublimes, a outros pejorativos. Que importa a sua cor?

Pintaram não a pele das gentes, essas já tinham cores; o colorido foi usado para distinção de quais seriam os vassalos, quais seriam os senhores. Que cor você tem?

Por falta de beleza não seria – Deixe-me dizer-te em segredo – revelaria Mario Quintana – um dos maiores segredos do mundo – Essas coisas que parece não terem beleza nenhuma; é simplesmente porque não houve nunca quem lhes desse ao menos um segundo olhar! Dito isso: Quantos olhares são precisos para poder enxergar direito, o outro, sem preconceitos?

Para aludir à dignidade dos que trazem a pele escura, nos acode a consciência; esse ente que mora dentro da gente e, só quem a busca sabe pensar direito. Consciência incolor, pintada de negra, na busca de se resgatar da humanidade adjetivada, uma humanidade substantivada de amor, respeito e aceitação. O sangue bom é sempre vermelho, nunca azul.  Glória às peles de toda cor que se fazem gente.


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