O NEGRO DISSE
Edmar Santos*
Tiveram que pintar o
invisível e dar-lhe uma cor. Qual a cor do grito, do choro, da dor, da
tristeza, do banzo? Tudo isso tem uma
cor-não-cor.
A identidade pintaram
também; inventam de tudo para separar coisas de um só nome e de tipos variados. Gente é tudo igual, não
fossem os adjetivos; há uns lhes dão sublimes, a outros pejorativos. Que
importa a sua cor?
Pintaram não a pele
das gentes, essas já tinham cores; o colorido foi usado para distinção de quais
seriam os vassalos, quais seriam os senhores. Que cor você tem?
Por falta de beleza
não seria – Deixe-me dizer-te em segredo – revelaria Mario Quintana – um dos
maiores segredos do mundo – Essas coisas que parece não terem beleza nenhuma; é
simplesmente porque não houve nunca quem lhes desse ao menos um segundo olhar! Dito
isso: Quantos olhares são precisos para poder enxergar direito, o outro, sem
preconceitos?
Para aludir à
dignidade dos que trazem a pele escura, nos acode a consciência; esse ente que
mora dentro da gente e, só quem a busca sabe pensar direito. Consciência
incolor, pintada de negra, na busca de se resgatar da humanidade adjetivada,
uma humanidade substantivada de amor, respeito e aceitação. O sangue bom é
sempre vermelho, nunca azul. Glória às
peles de toda cor que se fazem gente.
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