sábado, 4 de julho de 2015

CRÔNICA (WI)

A FEIRA DE FORTALEZA
Wilson Ibiapina*


Quem não gosta de uma feira-livre? Quando menino, o que mais curtia, nas férias em Ubajara, interior do Ceará, era acordar ao som dos carros de boi. Eles saiam dos sítios rumo à cidade, na manhã dos domingos, carregados de rapadura, farinha, frutas, chapéus de palha e peças de artesanato

Cantando ou gemendo, como todo bom carro de boi, eles acordavam todo mundo bem cedo. Andar entre as bancas e barracas olhando os produtos à venda era uma diversão que passava de pai para filho. A origem da feira no Brasil confunde-se com a própria história do país. Chegou com os primeiros portugueses.

A mais antiga feira de que se tem notícia em Portugal, segundo o Google, começou em 1229, e acontecia três vezes ao ano na freguesia de Castelo Mendo, no município de Almeida. Mas este tipo de evento comercial só ganhou força a partir de 1776, com incentivos do governo do Marquês de Pombal, que mais tarde traria o costume para o Brasil.

Hoje, em Lisboa, você tem, entre outras, a Feira da Ladra, que me foi apresentada pelo fotógrafo Orlando Brito. As feiras de Cascais e de Carcavelos. Iguais às de Ubajara, e a qualquer feira-livre do país, fazem a alegria de qualquer consumidor mais exigente.

Os comerciantes se instalam em barracas, colocam seus produtos em estrados ou pequenos boxes e metem a boca no trombone, anunciando mercadoria e preço. Em plena era da informática, com a economia globalizada, as feiras que representaram papel importante no renascimento do comércio resistem ao tempo.

Em Fortaleza, a feira-livre tradicional é que começa a ceder espaço a um novo tipo de mercado livre. É uma feira ao contrário. No lugar de você sair andando atrás dos produtos, os feirantes é que acorrem até você. Esse novo tipo de comércio está se desenvolvendo na orla marítima da capital cearense e funciona nas barracas instaladas ao longo das praias.

Você senta debaixo de uma barraca, pede um drinque ou uma água de coco. O cardápio de comidas é extenso. Enquanto você vai saboreando, os vendedores começam a aparecer. Quase aos berros, vão oferecendo, todo tipo de comida (ostra, camarão, rapadura, queijo assado, tapioca, castanha de caju, sardinha, numa concorrência com a barraca estabelecida). 

Anotei alguns produtos que foram oferecidos em minha mesa: "rede para fazer menino... dormir", canga, camisa de time de futebol, picolés, óculos, salada de frutas, roupas, chapéus, bonés, brinquedos, artesanato, bijuterias, bronzeador, massagens, passeio de barco, saída de praia, tatuagem, sandáliastênis, pipas, boias, bilhete de loteria, capa para celular, CDs piratas, DVDs idem, caixinha mágica, cigarros, almofadas para relax, bolsas, panos, protetor solar e uma infinidade de outros produtos, sem contar com aqueles que os chineses estão vendendo em tudo quanto é canto.

Os turistas estrangeiros são os que mais se encantam com as mercadorias oferecidas ao som da viola de repentistas que cantam versos de improviso enaltecendo os visitantes. Até mulheres desfilam diante dos olhares atentos dos turistas. Por qualquer quantia elas se transformam em agradáveis companhias e até mesmo amantes. É o turismo sexual fazendo parte da feira diferente. 

Aliás, há consequências nefastas quando essa prática se estabelece. Estigmatizadas como paraísos sexuais, essas áreas reduzem a demanda de visitantes que sabem que junto com essa modalidade de turismo vem o uso de drogas e a violência.

Os camelôs que há anos transformam as ruas de Fortaleza num verdadeiro mercado persa, descobriram essa nova forma de comércio na areia da praia. Como até hoje as autoridades não conseguiram organizar a atividade desses mascates, nas ruas da cidade, parece que eles vão inundar as barracas de praia por muito tempo. O comércio informal, diferente, é interessante, mas tira o sossego de qualquer cristão que só queira bater um papo, tomando um drinque na beira do mar.


*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ

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