TENSO!
Altino Farias*
Tarde de domingo, pleno carnaval, resolveu
voltar para Fortaleza, distante cento e quarenta quilômetros de sua casa de
praia. Estava tudo bem, com filhos e parentes curtindo a temporada de Momo à
beira mar, mas como sua mulher não pode estar presente, ficou tudo meio sem
graça. Por isso decidira voltar.
Bebera um pouco durante o dia, e tinha o
receio de que uma blitz o penalizasse após o temido bafômetro acusar os mais
tênues traços de álcool em seu sangue. E as informações eram de que pelos menos
duas barreiras da Polícia Rodoviária se interpunham entre ele e seu destino.
Assim, viajou tenso, à baixa velocidade e
atenção redobrada, embora tivesse feito contato com um amigo oficial da polícia
que o tranquilizara: “Se lhe pararem numa blitz, não faça nada antes de ligar
para mim!”.
Completamente sóbrio, talvez tecnicamente
embriagado, escapou da primeira blitz... E da segunda também, quilômetros
adiante. Mas ninguém gosta de dirigir naquele horário de seis da tarde. E é
péssimo mesmo. Por isso nosso amigo continuava tenso, muito tenso. E ainda
preocupado com a possibilidade de ser surpreendido por mais uma blitz.
Já próximo do destino, contornou uma grande
rotatória devagar, tomou a saída correta e, de repente, uma vaca à sua frente,
bem na margem da estrada, dando a impressão de que atravessaria a pista
incontinenti. Fechou os olhos e freou forte. “Vou bater!”, pensou num
relâmpago.
Veículo imóvel no meio da estrada, o suor
frio escorrendo por suas têmporas, foi abrindo os olhos devagar. Observou em
volta buscando o atrevido animal quando, enfim, se deu conta de que se tratava
apenas da reprodução de uma vaca em tamanho natural posta defronte de uma modesta
churrascaria como chamariz. Sóbrio, é? Eu sei...
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