sábado, 18 de julho de 2015

ARTIGO - Mercado de Trabalho Jornalístico (WI)

Perspectivas sombrias
no mercado de trabalho jornalístico

Por Jota Alcides*, em 14/07/2015, 
na edição 859 do  Observatório da Imprensa.
Enviado por 
Wilson Ibiapina**

Até o final deste 2015, deverão ser demitidos mais de 1.200 jornalistas brasileiros, superando o número recorde de 2014, por causa da crise de mercado. Esta expectativa, mais realista do que pessimista, é da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), apreensiva com os “passaralhos” que atacam as redações do país como pássaros pretos vorazes em plantações de arroz, devastadores.

Agora, é o agravamento da crise econômica que está provocando a retração dos anunciantes e derrubada da receita publicitária dos jornais. Queda de receita causa demissões. Pelos dados oficiais da Fenaj, somente de janeiro a junho deste ano já foram demitidos 405 jornalistas, das seguintes empresas: O Globo, Estado de Minas, Folha de S.Paulo, Correio Braziliense, TV Capixaba, Estadão, Jornal do Commercio, Rede Bahia, Rede Bandeirantes, Diário de Pernambuco, Aqui-Pe, SBT, Valor, Editora Abril, Veja Brasília.

Março foi o mês de maior numero de demissões, com 116 demitidos, em sua maioria no Diário de Pernambuco, como consequência da venda do jornal e enxugamento promovido pelos novos donos. Mas esse número – 405 demitidos – já deve ser muito maior, talvez o dobro, porque a Fenaj ainda não recebeu todas as informações relativas ao semestre dos sindicatos nos estados nem do Ministério do Trabalho. Depois, porque o noticiário está cheio de alarmantes demissões em massa.

Embora a Fenaj não possa impedir a crise econômica, que é um problema do governo, perguntei ao seu diretor institucional, José Carlos Torves, o que a entidade está fazendo, pelo menos, para aliviar a situação: “Estamos num esforço de articulação entre governo e empresários de comunicação para ver se é possível o estabelecimento de subsídios às empresas que possam estancar essas demissões em massa”.

A COBERTURA ÀS MALFEITORIAS
DO GOVERNO DO PT

Lamentavelmente, essas demissões dão felicidade ao ex-presidente Lula, dirigentes e militantes do PT, assumidamente inimigos da imprensa. Como foi noticiado, em discurso no recente V Congresso do PT, em Salvador, Lula destilou seu veneno contra jornais e jornalistas, seu esporte preferido, proclamando com indisfarçável sarcasmo o desemprego crescente na mídia: “Só neste ano, tivemos 50 demissões de jornalistas na Folha de S. Paulo. Foram 120 demissões no Globo, 100 demissões no Estadão, 50 na Band e 120 na Editora Abril”, disse Lula. Cada número desses citados por Lula ganhou da plateia de militantes do PT aplausos e gritos de comemoração como se fosse gol.

Empolgado com essa reação, Lula aprofundou seu discurso raivoso, insuflando a massa petista: “A Editora Abril, que publica a revista mais sórdida deste país, teve de entregar metade do seu edifício-sede, teve de vender ou fechar 20 títulos de revistas. E temos grupos jornalísticos inteiros à venda. Parece que as pessoas não querem continuar lendo as mentiras que eles publicam.

Infelizmente, Lula não tem visão abrangente das coisas porque só tem um olho, o esquerdo; o outro não serve para nada. Ora, a imprensa brasileira tem feito o que é seu papel: buscar a verdade e denunciar as malfeitorias; separar o jogo do trigo e mostrar o joio. Mas Lula está cada vez mais perturbado com a queda livre da presidente Dilma Rousseff, agora, segundo o último Ibope, com apenas 9% de aprovação dos brasileiros. É o sonho de Lula de voltar em 2018 virando pesadelo.

Finalmente, o clímax do seu ódio aos jornais e jornalistas: “Essas empresas, que atacam tanto o nosso governo, não são capazes de administrar a própria crise sem jogar o peso nas costas dos trabalhadores. E acham que podem nos ensinar como se governa um país com mais de 200 milhões de habitantes!”. Todo esse tripúdio porque a imprensa deu e tem dado ampla cobertura às malfeitorias do governo do PT, desde a corrupção do Mensalão, no governo Lula, à corrupção do Petrolão, no governo Dilma.

LULA É MARXISTA

Certamente, para Lula seria melhor até não haver imprensa, ou então existir apenas imprensa sindical ligada ao PT. Parece que Lula está esquecido de que ele é produto da mídia. No começo dos anos 1970, era apenas um metalúrgico no ABC paulista. Muito esperto, descobriu que podia ganhar a vida sem trabalhar, apenas fazendo política sindical. Entrou de cabeça, tornou-se líder e comandou greves e manifestações contra a ditadura militar.

Ganhou ampla divulgação da mídia, que também queria o fim da ditadura e ficar livre da censura. Cresceu como novo líder de massas com visibilidade nacional. Virou mito. Como mito, chegou à Presidência da República. Se não fosse a imprensa, provavelmente a história seria outra e ele continuaria sendo apenas um metalúrgico sem projeção no ABC paulista.

Entretanto, desde que chegou à Presidência e principalmente depois do vergonhoso escândalo do Mensalão, tornou-se inimigo dos jornais e jornalistas. É democrata só da boca pra fora. Na verdade, tem espírito ditatorial, não suporta imprensa livre. Com certeza, gostaria que a imprensa no Brasil fosse completamente dominada pelo PT, como é em Cuba, como é na China, absolutamente dominada pelo Partido Comunista. Daí sua obsessão para que o governo controle e censure a imprensa brasileira.

De qualquer forma, é deplorável que Lula, fundador e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, tripudie da crise dos jornais e das demissões de jornalistas, que são também trabalhadores como milhões de outros dos demais segmentos da economia. Na verdade, o lulômetro está quebrado e expondo o ódio de Lula contra a imprensa. Mas como Lula é marxista, vale lembrar-lhe essa sabia sentença de Marx: “A imprensa livre é o olhar onipotente do povo”.



*Jota Alcides é jornalista, escritor e conferencista cearense, radicado em Brasília. Natural de Caririaçú. É membro da Associação Brasileira de Imprensa e da União Brasileira de Escritores.


**Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ


NOTA DO EDITOR:

O articulista reconhece que a imprensa brasileira está pagando pelo seu equívoco mortal de acreditar que um operário, confessadamente preguiçoso e infenso à leitura, teria capacidade para ser tratado como ídolo nacional, a ponto de se tornar um “mito”, até ser guindado à Presidência da República.

Lula da Silva não seria sequer aprovado honestamente na prova escrita exigida para a habilitação de trânsito. Não tinha capacidade nem para ingresso numa escola de sargentos, muito menos teria sucesso em concurso para qualquer função do funcionalismo púbico civil. Mas foi exaltado e blindado pela imprensa. Todos sabemos que o patronato colocou Boris Casoy na "geladeira" por toda a malfadada "Era Lula", por não ter caído na esparrela.

De repente, com ajuda da imprensa, Lula se tornou Comandante em Chefe das Forças Armadas Brasileiras, segundo ele “um bando de generais e um bando de soldados”, com poderes para nomear Ministros do Supremo Tribunal Federal, quando, ainda no entender dele, “o Poder Judiciário não vale nada; o que vale são as relações entre as pessoas” (sic). Deu no que deu. Lula não é marxista. Nem mesmo socialista. É um mero oportunista.

A imprensa agora está sofrendo, patrões e empregados, com falências e desemprego, como todo o Brasil, pela incúria administrativa do lulopetismo. Mas dor maior setem os milhões minoritários que sempre souberam que Lula e sua trupe eram um embuste, um Exército de Brancaleone. Nunca o incensaram e nunca lhes deram seus votos, e agora estão pagando pela erro alheio. Sim. O castigo da culpa dói muito menos que a injustiça.
         

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