O PAPA DOS POBRES
Que o novo Papa Chico
é virtuoso, a gente já percebeu bem claramente. O meu receio agora é de que ele revele um virtuosismo
exacerbado. Ele já recusou sentar-se no trono, dispensou os papa-móveis, e anda
preferindo a prata ao ouro nos adereços pontifícios.
Pessoalmente ele tem
todo o direito de ser coerente com o seu voto de pobreza, mas as tradições
vaticanas são multisseculares e são propriedade imaterial de toda a imensa
cristandade, que quer pompa e circunstância. Aliás, ele já declarou sonhar com
“uma igreja pobre, para os pobres”. Ora, por que não uma igreja rica para os
pobres?
Um sacerdote tem
função pastoral para com ricos e pobres, para com humildes e poderosos – assim
como o médico, que não pode discriminar os pacientes, nem mesmo para distinguir
polícia e bandido, ao aplicar a medicina. Quem quer resolver problema
socioeconômico deve seguir outras carreiras, não a medicina, tampouco o
sacerdócio.
O fato de ser o Papa
dos pobres, que de fato é virtuoso, degenerará totalmente caso ele pretenda investir
contra os ricos, na contramão do eloquente ensinamento de Cristo, “Dai a César
o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
A pobreza não é o
mérito dos pobres, nem é necessariamente consequência da riqueza; só se pode reduzir a pobreza
enriquecendo os pobres, e não empobrecendo os mais prósperos. Pensar o contrário é
querer impor a pax romana, e o Papa
tem que defender a paz cristã.
Idealmente, riqueza se
produz, e se reproduz; não se transfere ou distribui a fina força. Tudo se
resolve, quanticamente, pela mobilidade social, na via meritocrática, pela
evolução cultural, pelo empreendedorismo, pelo trabalho. Não aritmeticamente,
pelo garrote ideológico. As teorias em
contrário já se exauriram pela experiência.
Enfim, tomara que
Francisco I seja mesmo voltado à pobreza – mas não no sentido de a querer
reverenciar e manutenir. Tomara que ele seja atencioso com os pobres, mas na
perspectiva de que saiam da pobreza. Pobreza é condição negativa eventual, a
ser socorrida, a ser revertida, e não uma casta social a ser estimulada e cultuada.
Por Reginaldo
Vasconcelos
Nenhum comentário:
Postar um comentário